Autor de Viana do Castelo estreia a “última memória viva” dos estaleiros navais

Um realizador de Viana do Castelo vai estrear no domingo o documentário “Crónica de uma morte anunciada”, que retrata o encerramento da emblemática empresa de construção naval da cidade e a saída dos seus trabalhadores.

A estreia do documentário vai acontecer, no domingo, às 17h00, no auditório do Grupo Desportivo e Cultural dos Trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (GDCTENVC) que, no final do ano, vai ter abandonar aquele edifício, que lhe serve de sede desde a fundação, há quase 50 anos, por não ter chegado acordo com o proprietário.

Aquele auditório é palco, há mais de dez anos, de sessões cineclubistas regulares que ficam sem aquele espaço com a mudança do GDCTENVC, até 31 de dezembro, para outro local na cidade.

O documentário filmado por Alexandre Martins entre dezembro de 2013 e agosto de 2015 retrata “o encerramento da emblemática empresa de construção naval e a saída dos seus trabalhadores”.

O autor explicou que o objetivo foi “explorar todos os caminhos, a partir de testemunhos de ex-trabalhadores e das suas famílias, mas também de sindicalistas, ‘rappers’ e jornalistas, utilizando ainda imagens de arquivo de órgãos de comunicação social nacionais, que explicassem a situação até à subconcessão em 2014”.

“Pretendi recolher as emoções das pessoas que ali trabalharam, acompanharam, e sofreram toda a situação que antecedeu ao encerramento da empresa naval. Mostro neste documentário, por exemplo, o último dia de um trabalhador ao fim de 32 anos”, explicou.

Alexandre Martins afirmou que “foi a forma que encontrou para tentar perceber toda a história da queda de uma das empresas mais importantes a nível distrital e nacional”.

Trata-se “do único registo documental feito com testemunhos na primeira pessoa sobre os últimos momentos dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, empresa que laborou na cidade durante 71 anos e que chegou a empregar mais de 2.000 trabalhadores”.

Baseado na obra de Gabriel García Marquez, que dá nome ao documentário, “há uma teia de acontecimentos e de factos que têm de ser revisitados pelos que viveram todos esses momentos a partir das suas memórias”.

A realização do documentário contou com o apoio à produção da Associação Ao Norte.

A subconcessão dos terrenos e infraestruturas dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) foi adjudicada a 18 de outubro de 2013 pela administração daquela empresa pública, atualmente em fase final de extinção, e prevê o pagamento, pela Martifer ao Estado, de 415 mil euros por ano, até 2031.

Quando fecharam portas enquanto ENVC, em abril de 2014, depois de quase 70 anos de atividade, a empresa pública empregava cerca de 609 trabalhadores.

A subconcessão foi a solução definida pelo Governo português depois de encerrado o processo de reprivatização dos ENVC, devido à investigação de Bruxelas às ajudas públicas atribuídas à empresa entre 2006 e 2011, não declaradas à Comissão Europeia, no valor de 181 milhões de euros.

 
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