A melhor forma de prestar tributo à liberdade é respeitá-la, recordando-a a cada momento, mas sobretudo vivendo-a apaixonadamente. Há tanto para dizer e escrever que a paixão pelo tema ganha ao romantismo da coisa. A liberdade é, por defeito, de todos. Não é um exclusivo de alguns. A sua conquista é de todos os que a agarraram e não daqueles que estavam escondidos ou confortáveis em casa no sofá.
Há por aí um bando de oportunistas (de direita e de esquerda) que fazem de conta que gostam do 25 de Abril. Há por aí um bando de fachos (já velhos e caducos) que foram dos primeiros a prestar vassalagem à comunada. Há por aí um bando de comunas que nunca perdoarão aquele dia feliz de Novembro – o dia da libertação de um projeto político extremista e de um regime soviético. Assumam-se, pois, em liberdade, parece que todos respeitamos tudo.
Regra geral, nas intervenções deste dia na casa da democracia, ficamos normalmente com pouco mais que estas ideias: a ala esquerda defende que não temos grandes motivos para festejar mais de 40 anos de democracia quando é oposição e o contrário quando está no governo; a ala direita, pelo contrário, apregoa o imenso desenvolvimento do País nestas 4 décadas, quando é governo, e o seu contrário na oposição; o Presidente da República, por seu turno, vai normalmente ao baú buscar as auto-estradas. Entre uns e outros estará concerteza a definição justa do que foram estes mais de 40 anos, o que não significa que seja uma definição excelente ou tradutora de coisas maravilhosas.
Eu do que assisti (de grande parte destes 40 anos), tenho dois sentimentos que, apesar de antagónicos, são muito complementares. Sinto uma enorme felicidade por viver num País que tem tudo para dar certo e sinto também uma enorme frustração pelos resultados a que recorrentemente chegamos, por via das péssimas opções tomadas na condução e governação do País.
O maior tesouro que a liberdade nos trouxe foi o de podermos escolher, opinar, reclamar, expressar, associar, responsabilizar e tantas outras maravilhas. Não temos sabido usar da melhor forma esta liberdade e temos que saber fazer uso dela, ensinando os nossos Filhos para que beneficiem muito mais do que nós com aquilo que foi conquistado.
Está na hora de tratar do analfabetismo político profundo em que vivem os Portugueses. Está na hora de exigir responsabilidade em troca da liberdade. Está na hora de respeitar verdadeiramente o princípio de que a liberdade começa e acaba onde começa e acaba a dos outros. Muitos se esqueceram dos princípios básicos de vida em sociedade. Mas, a maioria não. Haja esperança de que Abril foi o começo de um início melhor. De que Novembro foi o fim de um princípio horrível. De que estes 40 anos serviram de ensinamento e que os próximos servirão para crescimento e desenvolvimento estruturado.