Opinião
Nos 99 concelhos que tradicionalmente são considerados para estabelecer o perímetro da região norte de Portugal, vivem mais de 4 milhões de Portugueses. Neste espaço geográfico de mais de 21 mil km2, existem cerca de 1,9 milhões de domicílios. Estes são os grandes números que atestam a dimensão e representatividade de apenas 1/3 do território continental.
É nesta região que também se encontra uma força ímpar de capacidade produtiva, de competência empresarial e de rede universitária. São também estruturas decisivas de coesão territorial, o Aeroporto do Porto e o Porto de Leixões.
O Portugal do Norte não é muito diferente do Portugal do Centro ou do Sul. Todos somos Portugueses.
Não entendo por isso a permanente insistência por parte de alguns políticos paroquianos para a convergência territorial construída à volta de Lisboa. A nossa capital é uma cidade sobrelotada e onde a qualidade de vida se degrada ano após ano por falta de competência de gestão autárquica e por concentração absurda de atividades. Hoje em dia, com cada vez mais mobilidade e veículos de comunicação físicos e digitais é inconcebível continuar a querer concentrar Pessoas e edifícios numa só região.
O nosso bonito País tem que subscrever um modelo de desenvolvimento inter-regional que privilegie as competências, capacidades, recursos e culturas próprias de cada zona. Não podemos ser todos iguais, fazer todos o mesmo e viver todos da mesma maneira.
A concretização da visão futurista de que Portugal se converterá num enorme dormitório à volta de Lisboa, é dos maiores erros a que se poderá sujeitar o Povo Português. Não nos podemos resignar às aparentes condicionantes que os sucessivos governos apregoam para justificar a injustificável desertificação do interior do País.
A nossa ligação à Europa está mais próxima à medida que nos aproximamos das nossas fronteiras por terra. A nossa organização logística de futuro tem que naturalmente prever um sistema inteligente e racional de fazer chegar os bens e serviços a qualquer ponto do País ou dos nossos destinos de exportação por terra.
É absolutamente incrível verificar que grande parte do investimento em infraestruturas do País é realizado sem perspetivar um modelo de futuro, pensado a longo prazo, numa escala de décadas.
Continuamos a aceitar decisões políticas sem racional económico, social e de coesão territorial. O Portugal de hoje não é obviamente o Portugal de há 50 anos atrás. Mas também não poderá ser o mesmo daqui a outros 50 anos.
Até agora, quantos responsáveis políticos da Nação tiveram a competência de sonhar com o Portugal do futuro? Quantos se pronunciaram sobre um modelo de desenvolvimento (fosse ele qual fosse) que abranja uma escala de tempo larga? Vamos ser a consequência do que a Europa decidir que podemos ser? É essa a nossa aspiração nacional? Não me parece!
Não me resigno ao facto de termos uma riqueza cultural que nos faz ser muito bons em qualquer contexto europeu. Veja-se a integração dos nossos emigrantes em qualquer dos países europeus para onde vão. Veja-se a enorme quantidade de casos de sucesso empresarial que existem em Portugal. Veja-se ainda a quantidade de inovadores, cientistas e gestores de topo que produzimos. Não será já a hora de toda esta comunidade se juntar para transformar Portugal?
Está mais do que visto que não vamos lá com a falta de qualidade de dirigentes políticos que desde há décadas nos governam.
O espaço da cidadania tem que invadir os partidos, pois é nestes que está uma base essencial da democracia. São essas as regras. Quem não as aceita, não pode ficar no sofá a assistir ao colapso coletivo de toda uma Nação.
Precisamos de mobilizar os mais competentes para o desafio de transformar Portugal. Tudo começa por transformar o obsoleto sistema partidário e o modelo de eleição dos nossos representantes. Por algum sítio teremos que começar. Quem quer participar?