Os avistamentos de cobras têm sido cada vez mais frequentes nas últimas semanas. Por exemplo, como O MINHO ainda ontem noticiou, uma cobra-rateira surpreendeu um grupo de caminhantes em Barcelos, mas antes uma cobra-de-escada tinha sido encontrada numa casa em Guimarães, e uma outra cobra-rateira fora filmada em Paredes de Coura. E porque é que vemos tantas cobras nesta época?
Contactada por O MINHO, a bióloga Joana Soto explica que há “vários” fatores: “Primeiro, os dias estão mais agradáveis e as pessoas andam mais na rua, portanto é mais fácil avistar estas espécies”.
“Depois, estamos numa altura, a primavera, em que as cobras estão mais ativas porque estão a procurar o seu par reprodutor. E também estamos a falar de animais de sangue frio, precisam do calor do sol para regular a sua temperatura”, acrescenta.
“Como elas usam a luz do sol para regular a sua temperatura”, os períodos “em que estão mais ativas acabam por ser de manhã e mais ao final do dia e até noite”, aponta Joana Soto.
Concluindo: “Isto tudo conjugado: primavera, regulação de temperatura e as pessoas andarem mais na rua, faz com que haja mais avistamentos”.
Espécies perigosas
A bióloga barcelense, responsável pelo projeto BiodiverCidade, da associação Amigos da Montanha, explica que “em Portugal temos 10 espécies de serpentes e destas apenas duas podemos considerar perigosas, mas não mortíferas, estamos a falar das víboras”.
No caso da víbora-de-seoane, há “população confirmada” na área do Parque Nacional da Peneda-Gerês, podendo, no entanto, estar noutros locais do Minho. Já a víbora cornuda está dispersa por todo o país mas “vê-se com mais facilidade na zona Norte e Centro”.
“Têm veneno tóxico para o ser humano, mas são muito raros os casos que acabaram em morte”, explica Joana Soto, salientando que esses casos mortais estão relacionados com situações em que as vítimas tinham um sistema imunitário mais frágil e que em todos os hospitais há “um antídoto universal para todas as mordeduras”.
Como saber se são venenosas?
Nas espécies existentes em Portugal, é possível detetar se uma serpente é venenosa ou não, através dos olhos. “Nas víboras a íris está na vertical, enquanto nas outras cobras a íris é redonda. Quando vemos uma íris redonda sabemos que é inofensiva, quando temos a íris vertical então já sabemos que estamos perante uma serpente venenosa”, esclarece Joana Soto.
A bióloga salienta, contudo, que estes répteis “nunca querem o confronto” com os humanos: “Se tiverem possibilidade de fuga, vão preferir fugir a confrontar-nos. Só se não tiverem alternativa é que vão tentar morder-nos”.
O que fazer?
E o que fazer caso nos deparemos com uma cobra? Se ela já estiver na natureza, serpenteando no seu habitat natural, é deixá-la estar. Se estiver em zonas indesejáveis (como em casa), o mais avisado é ligar ao SOS Ambiente (808 200 520) que mobilizará uma equipa especializada (da PSP, GNR ou bombeiros) para capturar o réptil e o devolver à natureza.
Caso a pessoa se sinta mais à vontade para manusear a cobra, pode arranjar uma caixa e pô-la ao seu lado para ela entrar lá e depois libertá-la nas imediações. “As cobras são muito fiéis ao seu território, por isso levá-las para cinco quilómetros mais longe poderá causar um impacto muito grande nela e pôr em causa a sua sobrevivência”, alerta Joana Soto.
A bióloga acrescenta que também é possível, com um pau, e sempre com os maiores cuidados para não magoar a cobra, tentar indicar-lhe um caminho para seguir.
“Medo irracional histórico”
A bióloga salienta que há um “medo irracional histórico” dos humanos em relação às cobras, mas “a verdade é que são espécies importantes que nos conseguem controlar, por exemplo, na horta, os roedores e uma série de pragas, porque também comem insetos e alguns passeriformes”.
“Têm um papel regulador das nossas hortas. Quando um agricultor está a matar uma cobra, na verdade está a dar um tiro no pé, porque está a matar um dos seus maiores aliados. Temos que aprender a conviver com elas”, desenvolve.
A bióloga dos Amigos da Montanha aconselha quem quer afastar as cobras de casa, mas mantê-las no quintal para fazer esse controlo de pragas, a criarem amontoados de pedra ou de madeira cortada: “Elas gostam muito desses espaços para se esconderem, abrigarem e reproduzirem”.
Todas as espécies são importantes e, no caso das víboras, o seu “estatuto de conservação está ou ameaçado ou em perigo de extinção, pelo que têm que ser protegidas”.
BiodiverCidade
Joana Soto é a bióloga responsável do projeto BiodiverCidade, iniciado em 2017 pelos Amigos da Montanha, associação desportiva e ambiental sediada em Barcelinhos: “O nosso objetivo é trazer a biodiversidade, os animais e as plantas, para a cidade. Não só para mostrar a toda a população como forma de sensibilização e educação ambiental, mas também porque uma cidade com mais biodiversidade vai ser uma cidade mais equilibrada e resiliente às alterações climáticas”.