No âmbito da celebração do 94.º aniversário da elevação de Barcelos a cidade, a Câmara Municipal promoveu a atribuição de medalhas de mérito a 14 personalidades do concelho. Entre os homenageados está a mais célebre artesã do concelho, o presidente do Gil Vicente e empresários com ligação à indústria têxtil. A sessão solene de atribuição decorreu na quarta-feira, nos Paços do Concelho, em Barcelos.
A ceramista mais célebre da cidade, Rosa Ramalho, foi agraciada com a Medalha de Honra da Cidade de Barcelos. Uma distinção de grau ouro atribuída a título póstumo para a artesã natural de Galegos São Martinho que mais contribuiu para que o “figurado de Barcelos” se tornasse a “arte popular mais conhecida no país” e a “arte popular portuguesa mais conhecida no mundo”, conforme notou o Município no decorrer da cerimónia.
Foi ainda atribuída a Medalha de Mérito (grau prata) a 11 personalidades e dois barcelenses foram ainda homenageados com a Medalha de Bons Serviços (grau prata).
Medalha de Honra da Cidade de Barcelos (grau ouro)
Rosa Ramalho (artesã) – a título póstumo
Nasceu em 1888 na freguesia de Galegos São Martinho e desde cedo mostrou ter dotes para a olaria. Contudo, as lides domésticas (teve oito filhos, sendo que três morreram à nascença) fizeram-na adiar a vida no barro. Foi quando enviuvou, aos 68 anos, que a sua carreira enquanto artesão atingiu maior destaque. Se inicialmente moldava o barro para obter algum rendimento extra, rapidamente se revelou uma paixão que passou a ser apreciada por personalidades ligadas às artes. Um êxito raro no contexto social da época, afinal tratava-se de uma mulher oriunda de um meio pequeno e rural, com peças de artesanato que eram vistas com desconfiança e desconforto, devido ao seu caráter profano. Morreu aos 89 anos, em 1977, e, 45 anos depois, “a sua obra perdura no tempo”.
Medalha de Mérito Municipal (grau prata)
Francisco Dias da Silva (empresário)
Natural de Abade de Neiva, foi nessa freguesia barcelense que inaugurou a empresa têxtil Silsa em 1974, que ainda hoje é detentor. Para além da têxtil, Francisco Dias da Silva dedicou-se ao ramo da construção imobiliária e notabilizou-se enquanto dirigente desportivo. Atualmente, é presidente do Gil Vicente FC e ficou ligado enquanto líder da direção aos maiores feitos do clube, como a primeira subida do Gil Vicente ao escalão máximo do futebol nacional (1989/1990) e ainda, na última época, foi ao seu leme que os ‘galos’ asseguraram uma presença inédita nas competições europeias. Para lá do futebol, também foi o rosto do Óquei Clube de Barcelos entre 2012 e 2018. Nesse período, o clube conquistou títulos internacionais e foi recuperada a ‘mística’ à volta do emblema barcelense.
Conceição Dias (empresária)
Aos 61 anos, Conceição Dias é presidente do grupo DiasTêxtil/Sonix, que emprega, direta e indiretamente, cerca de duas mil pessoas. Aos 13 anos já trabalhava como costureira numa empresa da região e ainda jovem comprou cinco máquinas de costura industriais para se lançar como empresária. Em 2015, foi condecorada com as insígnias de Comendadora da Ordem do Mérito Industrial por Aníbal Cavaco Silva, enquanto Presidente da República Portuguesa. Além da área têxtil que o grupo empresarial de Conceição Dias está ligado ao sector imobiliário, à extração de minério e à nanotecnologia.
Ana Sousa (empresária)
Nascida numa família ligada à agricultura, na freguesia de Pereira, desce cedo que não quis seguir as pisadas da família. Primeiro quis ser professora e, mais tarde, abraçou o sonho da moda. Foi aí que se notabilizou com a fundação da Flor da Moda – Confeções SA em 1981. Começou por ser uma pequena unidade familiar de confeção, mas a sua dimensão foi-se expandindo. Até que, em 1992, a estilista criou uma marca em nome próprio – “Ana Sousa”. Tem atualmente mais de 50 lojas, está presente em mais de 30 países e emprega cerca de 250 trabalhadores.
José Simões de Sousa – a título póstumo
Mais conhecido como “Zé da Bagoeira”, José Simões de Sousa nasceu em Adães, em 1949. Após cumprir o serviço militar, começa a trabalhar na Pensão Bagoeira em 1973 como emprega de mesa. Até que, três anos mais tarde, toma conta do negócio que é um dos mais reconhecidos restaurantes do Minho e que é, desde 2004, também um hotel. Morreu em 2021, com 72 anos.
Renata Gomes (cientista)
Foi ainda enquanto frequentava a escola primária que Renata Gomes emigrou da Pousa para Londres. A reconhecida cientista notabilizou-se no meio académico britânico, tendo atingido o topo da carreira académica aos 35 anos. Em 2021, tornou-se professora catedrática da Universidade de Nothhumbria, em Newcastle. Antes disso, juntou ao currículo inúmeras distinções e investigações ao serviço da ciência, mantendo sempre uma ligação ao país e ao concelho que a viu nascer.
José Manuel Vilas Boas Ferreira (empresário)
Nascido em 1966, trabalhou durante 20 anos na empresa Araújo & Irmãos. Essa experiência valeu-lhe para que, na viragem do século XX, tivesse as ferramentas necessárias para se iniciar enquanto empresário têxtil, mas também na área de fabrico de componentes para a indústria automóvel. Em 2007, adquire a empresa Valérius e inicia um percurso de crescimento e sucesso, apostando na inovação e na tecnologia, como fator de diferenciação junto do mercado. É reconhecido pelo seu trabalho em ‘resgatar’ empresas da falência, como recentemente aconteceu com as reconhecidas Ambar e Dielmar. Foi agraciado, em 2015, com a categoria de Comendador da Ordem de Mérito Industrial pelo Presidente da República Aníbal Cavaco Silva.
Abel Varzim da Cunha e Silva – a título póstumo
Foi ordenado sacerdote em 1925, tendo sido depois professor e líder do seminário de Serpa. Em 1930 foi estudar para a Bélgica e lá contactou com grandes pensadores cristãos. Regressa a Portugal, funda e é assistente geral da Liga Operária Católica (1936/1948), sendo afastado devido aos condicionalismos políticos e sociais então existentes. Foi professor do Instituto de Serviço Social (1938/48), diretor do Secretariado Económico-Social da Ação Católica Portuguesa (1939/48), assistente do Centro de Estudos de Ação Social para Universitários (1941745) e deputado à Assembleia Nacional (1938/42). A Conferência Episcopal Portuguesa definiu-o como “apóstolo dos trabalhadores, paladino da justiça social em Portugal e defensor das vítimas contra a dignidade humana”. Em 25 de abril de 1980, foi condecorado, a título póstumo, com a Ordem da Liberdade, pelo Presidente da República Mário Soares, reconhecendo-se, assim, oficialmente os seus méritos singulares na defesa constante dos pobres e dos oprimidos. Abel Varzim, nascido na freguesia de Cristelo, morreu em 1964, aos 62 anos.
Adalberto Neiva de Oliveira (empresário)
Licenciou-se em Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, tendo exercido advocacia em Portugal e Angola, e, mais tarde, foi presidente do Conselho de Administração do jornal “Comércio do Porto” (1978/1985) e fundou a Sociedade Editora Gazeta dos Desportos, em 1980. Na carreira política, foi presidente fundador do Partido do Centro Democrático Social da Póvoa de Varzim (1974/1976), deputado à Assembleia da República pela Aliança Democrática (1978/1980 e 1980/1983), Presidente da Assembleia Municipal do Porto (1982/1986). Notabilizou-se no mundo empresarial e nunca esqueceu as suas raízes, tendo contribuído para a fundação da IPSS Carapeços Solidário.
António Tomé da Costa Pereira (médico ginecologista)
Terminou a licenciatura em Medicina em 1982 e destacou-se na área da ginecologia. O médico natural de Carapeços, passou por diversos cargos como professor associado convidado de ginecologia do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (2005), diretor do Serviço de Ginecologia do Hospital de Santo António (2008) e chefe de serviço hospitalar do Hospital Geral de Santo António, no Porto, entre muitos outros cargos de relevo.
João Pimenta (médico dentista)
Nasceu na Vila das Aves, tendo-se mudado para Barcelos e ter aberto uma clínica em Barcelos logo após ter terminado os estudos académicos. Com um percurso pioneiro na área da implantologia em Portugal, João Pimenta obteve a pós-graduação em Reabilitação Oral e Implantologia, pela Universidade de Bordéus, em 1990. Foi professor convidado da Universidade de Bordéus, no domínio da Implantologia, de 1991 a 2000, e foi docente da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto, até 2001, após ter contribuído para a fundação do primeiro mestrado na área na mesma instituição académica.
José Macedo Gomes (a título póstumo)
Foi durante décadas o líder da confeitaria “A Colonial”, situada no centro da cidade de Barcelos, mas a sua marca na cidade fez-se notar em várias outras valência. Foi o histórico responsável pelos tradicionais tapetes de flores das Festas das Cruzes que elaborou ininterruptamente desde a década de 1990 até à sua morte, em 2020, com 77 anos. Pelo caminho, José Macedo Gomes passou pelos Bombeiros Voluntários de Barcelos, pela Associação Humanitária dos Dadores de Sangue de Barcelos, pelo Gil Vicente FC, pela Santa Casa da Misericórdia de Barcelos e ainda pela Real Irmandade do Senhor Bom Jesus da Cruz.
Medalha de Bons Serviços (grau prata)
Ivo da Rocha Boaventura
Natural de Barqueiros, iniciou funções na Câmara Municipal de Barcelos em 1979 e por lá se manteve até 2013, quando se aposentou. Este engenheiro civil esteve 34 anos serviço do Município, tendo passado pelos cargos de chefe dos Serviços Municipais e de Habitação, da Divisão de Ordenamento do Território permanecendo, foi diretor de Departamento de Infraestruturas e Equipamentos e ainda diretor de Gestão Urbanística.
José Ribeiro – a título póstumo
Começou a trabalhar na Câmara Municipal com apenas 14 anos, em 1968, tendo sido trabalhador, ininterruptamente, até 2014, ano em que se aposentou. Em 1985, o funcionário natural de Viatodos ingressou na categoria de operário, na então Divisão de Conservação e, em 2003, passa a Encarregado Operário, na Divisão de Serviços Urbanos, permanecendo nessa categoria até 2014.