Renata Gomes, premiada cientista natural de Barcelos, foi esta terça-feira condecorada no Reino Unido como freeman da City of London. Esta condecoração, com um histórico de 800 anos, é um reconhecimento do mérito profissional e contributo dado ao país.
Até 1996, era atribuída apenas a britânicos e a cidadãos da Commonwealth, mas desde então foi alargada a pessoas de qualquer nacionalidade admitidas por nomeação ou apresentadas por associações industriais e comerciais.
As origens desta tradição remontam a 1237. O termo medieval freeman aplicava-se a alguém que, não sendo propriedade de nenhum senhor feudal, gozava de privilégios como o direito de ganhar dinheiro e possuir terras.
Desde a Idade Média até à era vitoriana, freedom (liberdade em português) era o direito ao comércio.
É uma condecoração “histórica” e também a cerimónia de atribuição cumpre formalidades com longa tradição, como usar chapéu ou atravessar a Ponte de Londres guiando um rebanho de ovelhas – esta última impossibilitada por causa da pandemia de covid-19.
“Depois de receber o papiro, toda a gente se junta e atravessa a Ponte de Londres com as ovelhas de um lado a outro. Há 800 anos, isto tinha muito significado, porque poucas pessoas tinham o direito a comercializar”, explica a O MINHO Renata Gomes, acrescentando que essa cerimónia deverá acontecer assim que a evolução da covid-19 o permita.
Também por causa pandemia, a cientista de 34 anos entrou para a história ao ser a primeira pessoa a tornar-se freeman através de uma cerimónia online, em março deste ano, no caso da The Worshipful Company of Spectacle Makers.
“A minha foi a primeira cerimónia online na história. Ficou tudo gravado. Temos que pegar na nossa caneta, assinar o nosso nome num papel e ao fim disso apertar a mão”, conta a diretora científica da organização Blind Veterans UK (Veteranos de Guerra Invisuais), que recebeu fundos para a abertura de instituto que deverá começar a funcionar em abril do próximo ano.
“Inicialmente vamos focar-nos em regeneração ocular e vascular em militares e veteranos, mas temos liberdade para expandir a outras áreas e o natural é que com o tempo isso aconteça. Uma das grandes áreas é a prevenção de doenças. Temos mais de 100 anos de informação médica e social detalhada de alguns milhões de militares e veteranos e estamos a usar inteligência artificial para prever e prevenir”, adianta Renata Gomes, que desde a eclosão da pandemia também tem estado a “ajudar as equipas que estão a desenvolver a vacina”.
A cientista nasceu na freguesia da Pousa, em Barcelos, e foi ainda jovem para o Reino Unido.
Licenciou-se em Medicina Forense e Ciências Médico Forenses pela Universidade de Bradford, exercendo atividade clínica nessa área, e fez Mestrado em Medicina e Bioquímica Cardiovascular na University College of London.
Depois começou um doutoramento internacional em Regeneração Cardiovascular e Nanotecnologia, pelas Universidades de Oxford (Reino Unido), Coimbra e Kuopio (Finlândia).
Nesse âmbito, foi premiada, em 2012, com um Silver Certificate (certificado de prata) dos prémios Science, Engineering and Technology (Ciência, Engenharia e Tecnologia), atribuídos pelo parlamento britânico. Deste então têm sido várias as distinções que cientista de Barcelos tem recebido.