Um grupo de cerca de 20 bombeiros sapadores de Viana do Castelo voltou a sair às ruas, esta quarta-feira, em protesto contra o comandante António Cruz e contra o presidente da Câmara, José Maria Costa, a quem acusam – o primeiro – de assédio laboral, e – o segundo – de nada fazer.
Esta quarta-feira, os operacionais deslocaram-se com tarjas e vestidos com t-shirts alusivas ao protesto até à porta da Câmara Municipal, para se fazerem ouvir por aquilo que consideram uma injustiça e falta de consideração do autarca por não os querer ouvir nesta matéria.
Conforme explicou a O MINHO Ludovina Sousa, coordenadora distrital do Sindicato dos Trabalhadores da Administração Local (STAL), os bombeiros estão insatisfeitos por o presidente da Câmara não ter tido nestes últimos anos a iniciativa de conversar com os bombeiros perante uma situação de alegado assédio que “dura há mais de três anos”.
A sindicalista explica que mais de metade do corpo de bombeiros – os elementos mais antigos -, estão contra certas atitudes do comandante, que apelidam de assédio e discriminação. Dá conta ainda de alguma fratura por entre a corporação, existindo “grupos” dentro do corpo que retiram a união.
Desde 22 de março, data de aniversário da companhia, que a responsável sindical acompanha e apoia várias ações de rua. Ludovina afirma que existem “situações graves lá dentro e das quais o senhor presidente da Câmara se demitiu da responsabilidade como dirigente máximo do serviço e representante maior da proteção civil local”.
A responsável explica que estes protestos são ocorrem por “falta de consideração e pela postura do presidente da Câmara, porque não era necessário ter chegado aqui se tivesse ouvido as queixas dos trabalhadores, pois é com o diálogo que as coisas se resolvem, e ele sempre se recusou a fazê-lo”.
No passado dia 11 de março, um total de 31 bombeiros assinou um documento que foi entregue ao autarca José Maria Costa (PS), denunciando “atitudes ditatoriais, discriminatórias e persecutórias do comandante” exigindo “que se ponha cobro às situações descritas”. A resposta do autarca foi enviar o documento para o Ministério Público para ser analisado e processar judicialmente o sindicato por falsas declarações à imprensa.
“Este processo arrasta-se há vários anos, o senhor comandante não consegue ser uma pessoa imparcial no tratamento com os homens que comanda. Ele favorece uns em detrimento de outros, em coisas que até são simples, mas são continuadas, como as formações que só existem para alguns e nunca para outros. Alguns dos formandos nem sequer podem usar esses conhecimentos no terreno porque não têm graduação para tal, ao contrário de outros que ficam sistematicamente de fora”, denuncia Ludovina.
De acordo com a sindicalista, os bombeiros querem “que se regularize as situações”, independentemente da continuidade ou não do comandante António Cruz. “Ele não tem de gostar dos trabalhadores, tem é de cumprir enquanto comandante e ter um tratamento igual para todos, sem prejudicar na evolução profissional. E o senhor presidente sabe disso através de ofícios e reuniões presenciais, e pura e simplesmente deixa andar”, afirma.
Presidente da Câmara processa sindicato
O sindicato processou o comandante, que ainda não se pronunciou publicamente sobre este tema, motivando uma reação por parte de José Maria Costa, à agência Lusa: “Não temos tido nenhuma razão de queixa, até ao momento, na forma e organização da corporação. Sabemos que há sempre uma ou outra reclamação, que é natural do ponto de vista sindical, a que temos procurado dar acolhimento. Mantenho a confiança no comandante António Cruz. Não tenho razão para o contrário”, disse o autarca.
Entretanto, José Maria Costa decidiu avançar com um processo a cargo do Município, e contra o sindicato, entendendo “que tais afirmações não correspondendo à verdade, podem consubstanciar um crime de difamação, pondo em causa o bom nome do município de Viana do Castelo e da companhia dos Bombeiros Sapadores”.
José Maria Costa realçou “a gravidade dos factos plasmados nas notícias, veiculados pelo STAL”, informando que iria apresentar participação junto do Ministério Público para averiguação as declarações do sindicato e do teor do abaixo-assinado.
Com 242 anos de existência, os antigos Bombeiros Municipais de Viana do Castelo passaram, em 2019, a designar-se Companhia de Bombeiros Sapadores.
A decisão foi tomada, por unanimidade pela Câmara de Viana do Castelo, dando cumprimento ao Decreto-Lei Nº 86/2019.