A região do Minho vai ser local priveligiado para assistir à passagem do cometa ‘verde’, recentemente descoberto e que só deverá voltar a passar daqui a dezenas de milhares de anos. Na realidade, todo o ‘globo’ vai poder ver a passagem do cometa EC/2021A1, batizado como Leonard, que já se encontra em órbita no sistema solar e prepara-se para ficar mais brilhante aos olhos da população durante todo o mês de dezembro.
A órbita concreta daquele pedaço de gelo e poeiras espaciais é ainda relativamente desconhecida, sabendo-se que terá duas caudas, uma feita da poeira que começa a sublimar com a aproximação do sol, mesmo astro que reflete o brilho tornando essa cauda visível, e outra feita de gases, de muito rara visão, mas que já terá sido identificada no Leonard, dando-lhe o tom esverdeado.
Nuno Peixinho, investigador do Instituto de Astrofisica e Ciências do Espaço, explicou a O MINHO que este foi o primeiro (e talvez o único) cometa descoberto este ano de 2021, em janeiro, e que a órbita “ainda não é muito bem conhecida”.
“Da órbita que se conhece agora, podemos dizer que só volta a passar daqui a 80 mil anos, mas o número pode ser inferior, embora nunca volte em menos de 100 anos, isso é garantido”, expôs.
Heads up everyone! Comet Leonard is back on track after the dissapearance of moonlight!
And it might enter the naked eye range today for very dark skies! Look out for a comet in the next few nights 👀 pic.twitter.com/xqJbs60ldx
— C/2021 A1 (Comet Leonard) (@Comet2021a1) December 1, 2021
O especialista explica que, conforme o cometa se vai aproximando do sol, poderá sofrer alguma mudança de curso, face aos poderosos jatos de gases que vão evaporando no próprio corpo. O cometa também pode partir-se, e alterar por completo a órbita. No entanto, o mais provável é que se mantenha e que leve dezenas de milhares de anos para que a nossa civilização o aviste.
Na internet, vários astrofotógrafos já partilharam imagens do cometa, onde este surge com tom esverdeado, que já lhe valeu a alcunha de cometa verde na imprensa internacional. Mas Nuno Peixinho explica que poderá tratar-se do efeito de gases: “Os cometas são bolas de poeira com gelo, e quando passam mais perto do sol, mais ou menos entre Júpiter e a cintura de asteroides, começa o gelo a sublimar, e salta a poeira que estava presa. A cauda branca dos cometas é das poeiras a refletirem a luz do sol, e por vezes conseguimos ver uma segunda cauda, essa sim, já costuma ser azul, e talvez seja este o caso em relação ao cometa Leonard, mas costuma ser azul e não esverdeado, por causa dos gases”.
A olho nu, só um pontinho, mas com binóculos, é espetacular
Nuno Peixinho alerta que, apesar de ser vísível a olho nu, não será fácil de descortinar aquele corpo gelado por entre as estrelas: “A olho nu só vamos ver um pontinho brilhante, menos brilhante do que uma estrela, mas com binóculos ou telescópio, e não precisa de ter muito alcance, já dá para ver bem”.
Devido à longa distância a que se encontra do planeta Terra, o cometa também traz outra deceção: Vai parecer parado, explica o astrónomo: “Está tão longe que parece que está no sempre no mesmo sítio. Mas de facto, de um dia para o outro, nota-se que ele andou bastante, comparado com as estrelas lá ao fundo”.
The NASA Picture of the Day for December 03, 2021 is Comet Leonard and the Whale Galaxy pic.twitter.com/Qxc9jUgkmZ
— Astronomy POTD (@NASAPOTD) December 3, 2021
Sobre o tamanho do cometa, ainda não há estimativa, sabendo que é típico que tenham um par de quilómetros, não muito mais do que isso.
Será possível ver no Minho
Nuno Peixinho aconselha a todos os astrónomos amadores e curiosos para que se afastem “alguns quilómetros da cidade”, dando perferência ao Parque Nacional Peneda-Gerês, um local que classifica como “ótimo para a observação do céu, onde se vê tudo e mais alguma coisa”.
“Ele está a passar perto da constelação dos Cães de Caça, e vai cruzar a de Boieiro, direito à Cabeça da Serpente, e depois, à constelação de Serpentário. Assim, se forem a um mapa do céu, já percebem onde vai passar”, contextualiza.
Nuno Peixinho refere ainda que, a olho nu, conseguiremos vê-lo “de madrugada, uma hora antes do nascer do sol, olhando para leste, onde irá parecer uma estrela minúscula”.
Não tem influência no planeta Terra
Estas passagens de cometas visíveis a olho nu não são muito frequentes, ocorrendo a cada cinco ou seis anos . Os outros, só mesmo com telescópio. Como a massa é pequena, não chega a ter influência no planeta Terra, como tem a Lua, por exemplo.
A real treat. Thankful for the Cosmos!
‘Introducing Comet Leonard’ image from the #NASA_Apphttps://t.co/NdLfFE51rz pic.twitter.com/WyUnXsYB94
— Alex Akins (@Astro_Akins) November 25, 2021
“Até dia 12, máximo, ele consegue ver-se antes do nascer do sol, olhando para este. A partir de 14 vai-se ver logo a seguir ao pôr do sol, olhando para sudoeste. Ainda conseguimos ver. E vai fazer um percurso no céu que vai passar debaixo do planeta Vénus, que agora parece uma estrela brilhante após o pôr do sol, e vai passar por baixo”, determina o especialista.
Dicas para a observação
Nuno Peixinho deixa algumas dicas para assegurar que ninguém perde esta oportunidade, isto, claro, se o céu estiver limpo no dia escolhido para a observação.
“A lua estará Nova até 11 de dezembro, depois começa a ficar Crescente e já atrapalha a observação, pelo que é recomendável efetuá-la durante a próxima semana.
“O ideal é afastar uns quilómetros bons da cidade e poderão conseguir ver o cometa. A olho nu, vai ser pouco impressionante, apenas um pontinho, o ideal é irem com binóculos ou com um telescópio, que nem é prceciso aumentar muito para ver”, diz.
E recomenda: “Não podemos segurar os binóculos com a mão, porque vai tremer. O truque é pôr os binóculos num tripé, só assim é que se vê bem o cometa. Para isso, até podem utilizar três paus e fita-cola (risos), mas não lhe toquem com as mãos”.
Terminando, o astrónomo assegura que “é uma experiência que vale a pena, sempre gira de ver”. “Achamos que já não nos impressiona porque vemos melhor na internet e na televisão, mas a sensação de ver com os próprios olhos, estar mesmo a vê-lo, acho que vale a pena”.