A produção do melão tradicional da região de Entre Douro e Minho – o célebre casca de carvalho -, tem vindo a decair nos últimos anos com cada vez menor produção e uma quebra de vendas em regime ambulante que tem forçado alguns produtores a desistir.
O MINHO falou com alguns produtores e vendedores da região de Soutelo, no concelho de Vila Verde, um dos pontos estratégicos de venda ambulante deste tipo de melão “apimentado”, e estes mostram um profundo descontentamento em relação à continuidade deste negócio.
Com características bastante diferentes do célebre melão de Almeirim, esse mais enraizado no consumo dos portugueses, este tipo de melão não tem tanta procura.
José Oliveira, de 44 anos, é um dos vendedores que “monta” banca junto ao Santuário do Alívio, à face da Estrada Nacional (EN) 101, em Vila Verde.
As alterações climáticas e a menor procura por parte do consumidor, especialmente dos portugueses emigrados no estrangeiro que regressam nesta altura, têm feito diminuir as receitas deste produtor.
O também vendedor explica que, de entre 500 melões que colhe, só “perto de 200” têm qualidade para venda. “Mais de metade do produto abre, rasga ou apodrece”, lamenta. Explica que este é o sexto ano de venda na zona do Alívio, e “cada ano é pior”.
“O clima está muito alterado, num dia está muito calor, no outro já está frio, e isso prejudica a qualidade do fruto”, esclarece José Oliveira, indicando que a média de venda diária é de “cinco melões”.
“Estou aqui há duas semanas e há dias em que não vendo nenhum, mas ao fim de semana acabo por vender uns 10 ou 15 por dia”, acrescenta.
A média de venda destes produtores no Alívio é de três euros o quilo do melão e 80 cêntimos o quilo da melancia.
João Gonçalves queixa-se que lhe roubaram 70 melões nas plantações
João Gonçalves, com 73 anos, é dos produtores mais antigos do concelho de Vila Verde, e está também desanimado com o negócio.
“Este deve ser o último ano que vendo”, assegura o produtor, também ele da freguesia de Coucieiro. “Está muito fraco, tanto a produção como a venda. É mesmo para esquecer”.
No que diz respeito à produção, João aponta que lhe roubaram “70 dos melhores melões que tinha na plantação”. “Não apresentei queixa porque não vale a pena, o procedimento é caro e nunca encontram os ladrões”, lamenta, acrescentando que “roubaram para vender, pois ninguém vai roubar 70 melões para comer porque estragam”.
Ainda sobre a “fraca produção”, o homem aponta as “noites frescas e o tempo incerto” como motivo principal para a “má colheita” deste ano.
No que diz respeito à venda, João concorda com os outros vendedores do Alívio. “Está muito fraco, o emigrante parece que vem ‘teso’ e os portugueses só querem comida de supermercado”, realça.
João confessa que este poderá ser o último ano em que vende melões. “Estou velho, acho que só venho no próximo ano e deixo-me desta vida, não me vou sacrificar mais com isto, dá muito trabalho a plantar e depois não se vende nada”, desabafa.
Ainda há quem compre
Rafael Ferreira, de 63 anos e residente em Turiz (Vila Verde), não quer nada com os supermercados no que diz respeito a este fruto, e não deixou de parar à face da EN 101 para comprar “dois ou três”.
“Estes são os melhores melões do país e costumo comprar todos os anos, e sempre aqui, nunca vou ao supermercado”, garante.
Para além de Rafael, alguns curiosos vão parando junto à estrada nacional para adquirir o fruto, mantendo assim a tradição viva. Pelo menos por enquanto. Se as vendas continuarão nos próximos anos, só o futuro o dirá.