A peça intitulada “Anjo Branco”, de homenagem ao navio-hospital Gil Eannes, vai estrear no final de maio a bordo da embarcação, envolvendo cerca de 50 atores amadores, entre eles ex-trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC).
De acordo com o diretor artístico do Teatro do Noroeste – CDV, Ricardo Simões, o novo projeto cénico recebeu aquele nome, “Anjo Branco” por ser a designação “atribuída pelos pescadores da frota bacalhoeira, quando o avistavam no mar”.
“Chamavam-lhe Anjo Branco pelo conforto que trazia a nível de víveres, apoio médico e correio”, explicou esta quarta-feira, durante a apresentação da programação cultural do Teatro do Noroeste- centro Dramático de Viana (CDV).
A estreia da peça, a bordo da embarcação, está marcada para o fim de semana de 28 e 29 de maio e, volta a ser representada nos dias 03, 04 e 05 de junho.
“Para nós é um projeto estratégico e extremamente importante porque vai celebrar a memória do navio Gil Eannes, desde a sua construção, ao seu papel na pesca do bacalhau e o seu enquadramento na política do Estado Novo”, sublinhou.
Já no próximo dia 31 de janeiro, para assinalar os 18 anos do regresso da embarcação a Viana do Castelo após ter seguido resgatada da sucata, será feita uma “breve” apresentação da nova produção.
Construído em 1955 nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC), para apoiar a frota bacalhoeira portuguesa na Terra Nova e Gronelândia, o Gil Eannes foi resgatado da sucata, pelo município, em 1998. Desde então assumiu as funções de museu e recebeu mais de 650 mil visitantes.
A representação, um tributo a uma das primeiras construções dos ENVC, agora em fase de extinção, envolve cerca de 50 pessoas, de várias faixas etárias, desde adolescentes a seniores, passando por ex-trabalhadores daquela empresa.
Atores amadores que participam nas oficinas de teatro promovidas pela companhia profissional de Viana, a AtivaJúnior, a AtivaSénior e a Enquanto Navegávamos.
Segundo Ricardo Simões o processo criativo do Anjo Branco tem “como pano de fundo a obra de Bernardo Santareno que, durante dois anos, foi médico psiquiatra no navio Gil Eannes e que é considerado o mais importante dramaturgo português do século XX”.
“Escreveu muito sobre a pesca do bacalhau, inspirado na sua experiência como médico no navio Gil Eannes e noutro onde prestou serviço, retratando o universo duro da pesca do bacalhau. Foi também a forma que encontrou, ao espelhar a dureza da faina, para criticar de forma muito cuidadosa o Estado Novo”, explicou.
Os ensaios da nova criação começaram em outubro e, desde o início deste mês, estão a decorrer a bordo do navio, dirigidos por Graeme Pulleyn, o encenador inglês convidado pela companhia profissional de Viana do Castelo.
Além do texto “Nos Mares do Fim do Mundo” de Bernardo Santareno o novo projeto cénico resulta ainda da investigação feita por todos os participantes para recolha de depoimentos, histórias e imagens do navio.
“Os mais jovens têm encontrado histórias junto dos pais, avós sobre o navio, a pesca do bacalhau, a seca do bacalhau, toda essa atividade que faz parte do património imaterial de Viana do Castelo. É com base nesta pesquisa que, com a coordenação da equipa responsável pelo projeto, é criada a dramaturgia que queremos que seja uma celebração da memória do Gil Eannes”, explicou Ricardo Simões.
A primeira peça protagonizada pelos ex-trabalhadores dos ENVC, “Enquanto Navegávamos”, estreou setembro de 2014 no teatro municipal Sá de Miranda. Foi a 118 produção daquela companhia, que em dez dias foi vista por mais de dois mil espectadores.