José António Pires, 62 anos, nascido em Portela Susã, Viana do Castelo, é columbófilo “há pelo menos 40” e, este ano, voltou a sagrar-se campeão da Sociedade Columbófila das Neves, uma das mais relevantes de todo o Minho. Por ano, investe “mais de cinco mil euros” na modalidade, mas não se arrepende e afirma: “É uma paixão de família”.
O bancário reformado nasceu e cresceu “no meio dos pombos”, no seio de uma família praticante da modalidade desde tempos idos. A paixão, herdou-a do pai, que herdou a sua do avô. Atualmente, por entre 250 pombos-atletas e reprodutores, tem um que é um verdadeiro campeão, embora não tenha nome, apenas número. É o “500” e foi o mais rápido a fazer mais de 700 quilómetros na última largada de Valencia, a maior prova europeia de corrida de fundo onde participaram 55 mil pombos-atletas.
Em 1985, quando começou a trabalhar como funcionário bancário na sucursal em Barroselas da Caixa Geral de Depósitos, já tinha os seus próprios pombos e ansiava vencer competições. Na vila vianense ficou 24 anos, sempre com os pombos. Os últimos oito de profissão passou-os como gerente bancário do balcão da CGD na Senhora da Agonia, em Viana. E, em 32 de trabalho, nunca ‘encostou’ os pombos, que foi criando na sua casa em Mujães, onde “casou” e assentou morada.
Começou na associação que ajudou a fundar, a Sociedade Columbófila de Barroselas. Mas há dois anos ‘mudou-se’ para a Sociedade Columbófila das Neves, também em Viana, porque “fica mais perto de casa” e, assim, também frequenta “as duas”. É assim José, um verdadeiro aficionado do mundo da columbofilia, amor que tentou passar às três filhas, embora sem grande sucesso. “Mas a primeira mulher associada da SC Barroselas foi uma das minhas filhas”, salientou.
No currículo tem vários títulos. Já foi campeão distrital de Viana do Castelo, foi distinguido em provas a nível internacional, como foi o caso da ‘solta’ de Valencia, graças à já mencionada “500”, nome atribuído por serem os últimos três algarismos do número de registo que se encontra afixado na anilha da pomba, que é filha de pombos comprados em Braga em 2015.
“É a melhor pomba de Viana”, diz, sustentando que a ave, em 2022, “marcou 12 prémios” nas 12 provas que participou no campeonato. Mas como a prova tem 18 (seis para cada distância), houve outra pomba, também de Viana, a ser ‘coroada’ a rainha. Mas isso “pouco importa” a José.
“A 500 marca em velocidade, fundo e meio-fundo, que são as três provas em competição”, explica. Em relação à largada de Valencia, salienta que não foi a pomba portuguesa mais rápida, porque localidades no Alentejo e no interior português ficam mais perto. Mas foi a primeira a chegar ao Minho e a mais rápida na distância superior a 700 quilómetros.
Desporto de ricos praticado por pobres
José tem 250 pombos e 180 são atletas. Os restantes 70, também já foram de competição, mas agora são reprodutores, “dão filhos bons e é deles que eu tiro atletas”, revela, até porque não há disponibilidade financeira para estar sempre a investir em novas aquisições.
“Para comprar uma pomba, normalmente, são 50 euros. Qualquer um vai achar caro. Só que em Aveiro já dás 1.500 euros. E na Bélgica dás 50.000, isto para não falar na China, onde foi vendida, há dias, uma pomba por mais de um milhão de euros”, comenta, lembrando o negócio mais caro que fez – pagou 2.500 euros por uma “pomba estrangeira, mas não foi grande coisa”.
A columbofilia não é, hoje, um passatempo muito popular por entre a juventude, e José acha que isso se deve aos gastos elevados que a modalidade acarreta, não existindo qualquer apoio monetário aos praticantes: “A columbofilia é um desporto de ricos praticado por pobres. Durante o ano não chegam 6 mil euros para manunteção. É um desporto muito caro. Este ano a Câmara de Viana financiou aquisição de alguns equipamentos e houve apoio para obras, mas é pouco”.
A finalizar, José diz que “cinco mil euros por ano” não lhe chegam para os encargos com a modalidade e com os animais: “Já gastei muito dinheiro, dava-me para andar com um bom Mercedes. E nunca vendi nenhuma pomba”.