Gil Leitão é o candidato do Iniciativa Liberal a presidente da Câmara de Guimarães. Tem 43 anos, é licenciado em Engenharia e Sistemas de Informação, um curso feito como trabalhador-estudante. Tem três filhos, “pelos quais tenho que lutar para que possam ficar por cá, ao pé de mim.” Gostaria de ter uma Câmara Municipal mais desburocratizada e de baixar a derrama para atrair o investimento. Do seu ponto de vista, um bom resultado para a IL seria colocar um deputado na Assembleia Municipal (AM).
O que é que uma política liberal poderia trazer de novo à governação do Município?
Uma política liberal, aqui no Município, seria focada na desburocratização. O que nós verificamos é que existe uma carga burocrática muito grande, nomeadamente para os licenciamentos: habitação e empresas. Vemos também uma carga fiscal, não das mais altas do país, mas a meio da tabela. Temos concelhos vizinhos que conseguem ter uma taxa de derrama mais baixa que a nossa e isso é um impedimento para captar investimento. Queremos que o Município tenha um papel de desbloqueador, atualmente é um bloqueador.
As medidas de assistencialistas têm algum peso na ação da Câmara: apoio aos mais idosos, às crianças, na habitação social. A própria Autarquia é proprietária de mais de 400 fogos de habitação social. Qual é a posição da iniciativa liberal relativamente a toda esta intervenção da Câmara?
Há uma imagem de que os liberais não se preocupam com questões sociais. A IL foca-se no indivíduo, em dar-lhe as condições para singrar. A e B devem ter as mesmas condições e isso a IL quer garantir. Aquilo que nós pedimos é menos intervenção, neste caso do Município. Não cabe à Câmara ditar regras e condicionar as pessoas, dando-lhes benefícios de forma que, depois, lhos possa cobrar, para os manter agarrados numa teia.
A nível da habitação social é preciso fazer um levantamento, ver quais são as habitações que ainda não foram intervencionadas e colocar todas no mesmo patamar. Devemos evitar a “guetização” das pessoas.
Uma das queixas que se faz é que a habitação em Guimarães é muito cara, que os jovens não se conseguem fixar porque a habitação é muito cara. Como é que o Gil Leitão olha para este problema? Devemos deixar isto entregue ao mercado e a lei da oferta e da procura acabará por regular os preços?
O problema da habitação não é de Guimarães, é nacional e até global. Há determinadas ações que têm que ser implementadas para amenizar a situação. A IL não olha para a habitação como se fosse uma responsabilidade do Município construir casas para as fornecer a baixo custo. Estaríamos a colocar uma entidade pública a fazer o trabalho dos privados e esse não é o objetivo. Queremos identificar porque é que a habitação em Guimarães é tão cara. Os investidores têm que enfrentar uma forte burocracia e esse é o primeiro problema. Com estes bloqueios, há pouca construção, portanto, com pouca oferta o preço sobe.
Estamos em 61º lugar em termos de rendimento médio, estamos até atrás de concelhos do interior, como Vila Real, Évora e Viseu. Se o salário médio é baixo, se há pouca construção, porque o Município funciona como uma força de bloqueio, acaba por ser um ciclo.
Vê o Autarquia como uma força de bloqueio para a nova construção. Como é que avalia a flexibilidade que essa mesma autarquia tem tido na leitura do PDM, quando, ainda recentemente, permitiu a construção de uma fábrica, em zona de Reserva Agrícola Nacional (RAN), no centro de Urgezes?
Essa questão devia ser-lhes colocada a eles. Se me perguntar se essa flexibilidade deve existir? Eu diria que sim. O PDM deve ser flexível ao ponto de se adaptar às necessidades do concelho como um todo.
Neste caso em concreto, acha que foi uma boa decisão?
Teria de perceber o porquê. Quais os benefícios.
O investimento em vias de comunicação, mesmo para um liberal, é algo que compete à iniciativa pública. Que retrato é que faz das acessibilidades dentro do concelho e das vias que ligam o concelho aos principais eixos regionais?
As acessibilidades, para a IL, são logicamente da responsabilidade do Município. Quem governa tem que dar as condições às pessoas e empresas para se movimentarem. A IL identifica, desde logo, o problema da ferrovia. No caso do Porto, não temos uma ligação rápida e vamos continuar a não ter. A linha nova a ser construída vai passar por Famalicão e Braga. Nós não temos voz, não vemos o nosso Município a dar um murro na mesa e a demonstrar a ambição de Guimarães. Estamos a perder, com estas aceitações.
O Gil Leitão acha que essa falta de voz se deve ao facto de Governo e Câmara serem da mesma cor política?
Não identificaria o problema assim. É falta de ambição. Não é anuência com os amigos de Lisboa. É falta de ambição. Acham que estamos bem e que devemos ficar assim como estamos.
Voltando à ferrovia…
Eu já trabalhei fora de Guimarães bastante tempo, se quisesse ir para Lisboa e não levar o carro, tinha que ir apanhar o Alfa a Braga. Tínhamos um Alfa por dia e até esse perdemos. Quando existia, do Porto até Guimarães vinha a parar em todas as estações.
Quais seriam as soluções em termos da ferrovia?
Passaria por ligar todos estes concelhos aqui em volta. A alta velocidade vai passar a leste de Braga, então, temos que ter uma ligação ferroviária que nos ligue a essa linha.
A nível rodoviário o que é que é preciso fazer?
Guimarães teve uma política que podemos considerar positiva, temos vários centros e isso é benéfico. Mas, esquecemo-nos que é preciso uma rede de acessibilidades para servir esses vários centros. Não estamos a falar só de ligar as vilas ao centro, porque quem está nas Taipas precisa de vir a Guimarães, mas também pode precisar de ir a Pevidém.
Em 2010, quando trabalhei no Avepark, falava-se da ligação deste parque industrial a qualquer sítio. Onze anos depois, isto ainda é um tema. Daqui a dez anos não podemos estar a falar dos problemas de hoje.
Há uma grande dificuldade. Esqueceram-se da necessidade de deixar espaços para a rede e agora não há espaço. Temos o exemplo da circular urbana que agora já não vai ser um anel fechado. Esta via foi logo projetada da forma errada, com falta de planeamento.
“Somos contra o investimento avultado que não gera uma oferta de qualidade aos vimaranenses”
Recentemente a Câmara propôs um teleférico entre as Taipas e Guimarães?
É mais uma proposta… enfim, são três anos sem fazer grande coisa e depois um ano a fazer qualquer coisa para mostrar. É um estudo académico. Denota a falta de planeamento anterior.
Guimarães criou uma forte marca cultural depois houve uma tentativa de ser Capital Verde Europeia. Esta mudança para a vertente ambiental foi benéfica?
Quando Guimarães concorreu a Capital Europeia da Cultura (CEC), foram feitos investimentos, reabilitações, novos edifícios… houve investimentos públicos para alcançar o título, sem preocupação de garantir o seu funcionamento no futuro. Alguns são agora elefantes brancos, é o caso do CIAJG.
A IL não é contra o investimento na cultura. Somos contra o investimento avultado que não gera uma oferta de qualidade aos vimaranenses. Desde a CEC os cartazes têm vindo a cair em qualidade e em número.
O que é poderia ser feito para atalhar caminho, por exemplo, na Plataforma da Artes?
Estamos a falar de um investimento muito avultado. Mas, não é responsabilidade do Município promover eventos. É preciso criar uma equipa que atraia para cá eventos, criar condições para que os eventos venham para cá.
Temos uma concessão de transportes que esta anunciada para arrancar em janeiro de 2022. Acha que esta concessão vai resolver o problema do transporte dentro do concelho?
Se ela já tivesse entrado em funcionamento, no início do ano, como estava previsto, já poderíamos fazer uma avaliação. Assim, estamos a falar sobre algo que está apenas no papel. Vamos dar o benefício da dúvida.
É um trabalho que é feito no último ano e que, assim, escapa à avaliação.
Acha que isso é deliberado?
Se fosse apenas uma situação, eu diria que não.
Tem-se falado muito da gratuitidade dos transportes públicos gratuitos, principalmente para reformados e menores de 18 anos. Qual é a perspetiva da IL relativamente a esta ideia de oferecer transporte?
Haverá sempre alguém que paga o transporte, ele nunca é de graça. O transporte público é muito importante, desde logo, pela questão da pegada ecológica. Se conseguirmos reduzir o número de carros que andam nas estradas, através do uso do transporte público, isso é ótimo. Mas, é preciso uma rede que cumpra as necessidades das pessoas. O transporte tem que chegar à freguesia mais longínqua, mesmo que tenha poucas pessoas. É preciso dar as condições aos munícipes para se deslocarem no território.
Relativamente à frota de autocarros, ela tem que ser eletrificada. Temos também que garantir uma rede de carregamento elétrico espalhada pelo concelho.
Não faz sentido andar às voltas à procura de estacionamento, podia haver informação digital que nos indicasse onde é que há estacionamento.
Mas, e relativamente aos transportes gratuitos, o Gil Leitão é contra ou a favor? Era a pergunta inicial.
Os transportes nunca são gratuitos, alguém vai ter que os pagar. É uma política da IL dar as mesmas condições a toda a gente. Se há uma pessoa que não se consegue movimentar porque não tem os meios para isso, tem que existir esse apoio.
Em Guimarães fala-se agora do alargamento da zona classificada a Couros e de retirar cada vez mais os carros do centro da cidade. Qual é posição do IL relativamente ao aumento da zona pedonal?
A zona de Couros já tem poucos carros, deve haver vimaranenses que nem sabem que se pode fazer a ligação por ali. Não podemos ter uma política de querer fechar já tudo. O centro é uma zona de passagem para vários sítios. Fechando, temos que ter garantias que temos alternativas.
“O acesso à autoestrada é um exemplo de mau planeamento”
Seria uma preocupação do Gil Leitão encontrar um canal para fazer o fecho da circular?
Seria uma preocupação, não pelo facto de fechar a circular, mas para satisfazer as necessidades que esse canal iria cobrir. Fechar a circular, o que agora parece difícil, ou encontrar soluções para podermos ir de um lado ao outro da cidade sem ser pelo centro. Agora, fechar sem saber quais são as alternativas…
Há muitas superfícies comerciais a abrir pela cidade, tudo isto esvazia o centro. A Câmara podia ter aqui políticas diferentes, no sentido de defender o comercio do centro da cidade?
Podemos ver pela parte da empregabilidade. Do nosso ponto de vista há benefícios na abertura dessas empresas. No caso de Silvares, já foram ali feitas vias para suportar aquele desenvolvimento, umas bem, outras mal. Estamos a falar outra vez do planeamento.
O acesso à autoestrada é um exemplo de mau planeamento. Só se pensou no acesso à autoestrada, mas o problema residia também nas pessoas que querem ir para Pevidém, Gondar e nas que vão para o outro lado, para Brito, Ronfe. Não se pensou nisso.
Mas voltando à questão: nós estamos de acordo com a abertura destas superfícies comerciais. Vai criar emprego. Para criar condições para as pessoas irem ao comércio tradicional, é preciso aumentar a área pedonal.
Uma medida liberal seria oferecer estacionamento para as pessoas irem às lojas do centro, como fazem os centros comerciais?
No nosso programa, como apoio à economia local, queremos tornar o centro mais atrativo para andar a pé. Depois, é preciso ajudar o dono da loja, nomeadamente pela redução da derrama.
Estacionamento gratuito, não?
Não.
O que seria um bom resultado para a IL nestas eleições?
O objetivo é dar a conhecer os ideais liberais, por as pessoas a falar sobre eles. Dar a conhecer que a IL existe e que está na corrida a Câmara Municipal e à Assembleia Municipal. Colocar uma pessoa na AM, seria um objetivo alcançado. Desta forma poderíamos, nos próximos quatro anos, debater, com conhecimento interno, os temas do Município.