O ex-piloto de automóveis bracarense Rui Lages foi, na tarde desta terça-feira, condenado a oito meses de prisão, substituídos por 240 dias de multa à taxa diária de 14 euros, no total de 3.360 euros, por ter tentado atropelar um ciclista na sequência de desentendimentos de trânsito ocorridos no centro da cidade de Braga.
Rui Lages, que já se tinha comprometido a indemnizar em dois mil euros o jovem ciclista que perseguiu ao volante, incluindo esta verba as despesas hospitalares e as da reparação da bicicleta da vítima, foi penalizado por um crime de ofensas corporais agravadas na forma tentada, já que Ricardo Neves, então com 25 anos, teve que se atirar ao chão para não ser atropelado quando o arguido subiu com o automóvel para o passeio.
A juíza teve em conta a gravidade da conduta de Rui Lages, cujas consequências poderiam ter sido piores, dada a desproporção de um carro em alta velocidade contra um velocípede, de forma dolosa, tendo o jovem ficado uma semana sem poder trabalhar e provado da bicicleta, que era o seu ganha pão, enquanto estafeta.
Dirigente da Associação Humanitária e Beneficente dos Bombeiros Voluntários de Braga, Rui Lages, agora reformado, foi o ídolo da juventude amante do automobilismo de montanha e de velocidade, concorreu ao cargo de presidente da Câmara de Braga, pelo PSD, tendo sido eleito vereador, mas sem pelouro.
Rui Lages “de cabeça perdida”
Rui Lages, no final do julgamento, afirmou à juíza “estar arrependido”, justificando: “Na altura eu estava de cabeça perdida”. Depois das principais testemunhas terem confirmado a acusação do Ministério Público, que pedia a sua condenação, o seu advogado, Fernando Barbosa e Silva, solicitou a absolvição, já que, retomando as palavras do cliente, a ira seria contra a bicicleta e nunca contra o ciclista, que tinha caído, na fuga ao automóvel, na Rua Beato Miguel de Carvalho, perto da Escola Secundária de Carlos Amarante.
Ricardo Neves, à data com 25 anos, que desempenha o trabalho de estafeta em bicicleta, vinha de uma entrega de medicamentos, quando ao entrar na Rua 25 de Abril, vindo da zona da Escola EB1 de São Lázaro em direção ao cruzamento com a Avenida 31 de Janeiro, mesmo seguindo o mais à direita possível na via, conforme determina o Código da Estrada, sentiu-se “apertado” por um automobilista, chamando-o depois à atenção no semáforo seguinte, dizendo que além de o “rasar”, iria a alta velocidade e a falar ao telemóvel.
Rui Lages não terá gostado de ser advertido, perguntando-lhe se seria polícia e que não sabia com quem se estava a meter. Travou-se então uma acesa troca de palavras, altura em que o famoso piloto, saindo do carro, terá tentado alcançar o jovem, conhecido pacifista de Braga, que temendo pela integridade física, atirou com a bicicleta em direção ao antigo vereador do PSD na Câmara de Braga, tendo o velocípede “servido de escudo para me defender”, segundo afirmou Ricardo Neves durante o julgamento.