O historiador Joel Cleto defende uma candidatura transfronteiriça luso-espanhola a fundos da União Europeia para financiar um projeto de valorização do caminho jacobeu que liga Braga a Santiago de Compostela pela Geira Romana, que vai crescer “exponencialmente” em número de peregrinos.
Numa altura em que o debate sobre este itinerário de peregrinação está na ordem do dia, Joel Cleto afirmou na sexta-feira, 14, em Póvoa do Varzim, que “o importante é que haja um discurso coerente e uma articulação entre municípios galegos e portugueses no sentido de haver uma candidatura transfronteiriça, assim mais valorizada, a fundos comunitários”, pode ler-se numa nota enviada a O MINHO.
Na perspetiva do historiador e arqueólogo, este itinerário “é uma mais-valia como caminho de Santiago, mas também porque a geira é uma das mais importantes e bem preservadas estradas romanas do mundo”, pelo que a sua valorização “é uma grande oportunidade para a história e para os itinerários jacobeus”. Por outro lado, “é uma questão de muito poucos anos termos esta via muito concorrida pelos peregrinos de Santiago. É incontornável que vai ‘explodir’ como caminho de Santiago”, frisou.
Joel Cleto, que falava durante a conferência “O Caminho de Santiago pelo Gerês – A Geira Romana”, organizada pelo Grupo dos Amigos do Caminho de Santiago da Póvoa de Varzim, considera esta estrada uma “peça patrimonial de imenso valor, que muitos estudiosos da rede viária romana a nível internacional consideram a mais bem preservada da atualidade”, envolta “numa zona muito natural, ainda muito pouco tocada pelo homem desde o tempo dos romanos”.
“É um caminho belíssimo também do ponto de vista natural e, por isso, pressente-se o enorme potencial que pode ter num futuro relativamente próximo, mormente para as pessoas que querem fazer um caminho de Santiago que lhes permita tranquilidade e espiritualidade”.
Quanto ao traçado a propor às entidades que oficializam os caminhos de Santiago, Joel Cleto afirmou que “é um tema quente e muito em debate entre apaixonados pelos caminhos, nomeadamente do lado espanhol”, destacando que não defenderia um traçado durante a conferência.
No entanto, reconheceu que, depois da Portela do Homem e descendo a Serra do Xurês “há caminhos mais rápidos para chegar a Santiago de Compostela do que passar por Ourense”. “Mas também reconheço que muitos peregrinos não abdicariam de ir a Ourense, porque era um grande centro religioso e urbano”, referiu o historiador, adiantando: “Não me vou imiscuir no debate em curso,
sobretudo no lado galego, mas não me fere nada que depois de descer a Serra do Xurês possam existir duas ou três variantes”.
O itinerário mais direto é defendido pelas associações espanholas do Caminho Jacobeu Minhoto-
Ribeiro e de Codeseda Viva, bem com por uma associação de autarquias da região. Trata-se do designado Caminho da Geira Romana e dos Arrieiros ou Minhoto Ribeiro. A ideia de um traçado em direção a Ourense deve-se ao facto da tradição referir que foi o percorrido pela Rainha Santa Isabel.
Mas Joel Cleto lança um alerta: “Agora também não vamos criar centenas de caminhos. Temos de ter provas documentais, património, que justifiquem pelo seu valor que um itinerário seja classificado. Mas não me fere nada que possa haver os caminhos mais diretos para Santiago de Compostela e/ou aquele que segue por Ourense. Não vejo inconveniente nenhum”.
O historiador, que falava perante uma plateia de 500 pessoas, no Centro de Congressos do Hotel Axis Vermar, referiu ainda que é importante, desde já, além da discussão à volta dos traçados, “pensar em medidas protetoras do impacto que terá numa área sensível de enorme valia também como património natural, como é o Parque Natural da Peneda-Gerês, que tem de ser salvaguardado. É também um desafio que se vai colocar nos próximos anos”.