Jorge Ferreira da Costa Ortiga, D. Jorge Ortiga, comemora vinte anos como Arcebispo de Braga. Nasceu, cresceu e foi ordenado em Braga, antes de ir para Roma, esteve na paróquia de S. Vítor e foi o movimento focolare que lhe ‘moldou’ o pensamento e a forma de estar na vida, na sociedade e na igreja.
Hoje é um dia de alegria para todos nós 😁
Foi há 20 anos que @djorgeortiga tomou posse como #Arcebispo de #Braga! 🎉
Parabéns e obrigado pela sua entrega ao Senhor e dedicação ao povo de Deus! pic.twitter.com/6Dl31PiQIW
— Arquidiocese de Braga (@diocesebraga) 18 de julho de 2019
“Praticar a alegria e a amizade” é um dos legados que gostaria de deixar ficar. A oração e os amigos irão ficar a ganhar quando o Santo Padre aceitar a sua resignação.
Para marcar esta importante efeméride, é apresentado, publicamente, o livro “D. Jorge Ortiga – Semeador da alegria e construtor da unidade”.
Uma publicação da autoria do jornalista Ricardo Perna com prefácio do Cónego João Aguiar Campos, e apresentada por D. Nuno Almeida, bispo auxiliar da diocese bracarense.
D. Jorge Ortiga é o bispo há mais tempo em funções em Portugal. É uma personalidade que marcou a Igreja em Portugal nos últimos quarenta anos. Com 75 anos e depois de atingir o limite de idade para continuar no cargo, o ainda Arcebispo de Braga já entregou o pedido de renúncia ao Papa.
Responsáveis da editora ‘Paulus’ dizem que “a sua vida é uma feliz divina coincidência, com todos os movimentos pós-Concílio Vaticano II, sem esquecer a dura realidade da luta pela liberdade no 25 de Abril, e principalmente nos anos que se seguiram à Revolução dos Cravos”.
Quem com ele lida de perto, reconhece que “tem sido arquiteto de uma vida em Igreja em busca da unidade, contra a uniformidade”.
Apesar dos seus setenta e cinco anos, e de já ter entregado a renúncia ao Papa Francisco, são os seus colaboradores diretos que, mesmo sendo mais novos, falam “do seu ritmo acelerado de trabalho, que não lhes deixa tempo para respirar”.
Seminário
Natural de Brufe, Vila Nova de Famalicão, D. Jorge Ortiga recorda numa entrevista, hoje, divulgada através da editora ‘Paulus’ que teve “uma infância feliz integrado numa boa família e a crescer num bom ambiente paroquial. Nasci numa família de rendimento médio, onde não faltava o essencial em contraponto com muitos dos meus colegas de escola”.
Os pais têm um papel fundamental: “são extraordinários marcados pela ideia do trabalho, conscientes do cumprimento escrupuloso dos deveres, com uma educação orientada para os valores, coerência, honestidade, transparência e no sentido de pertença numa comunidade, que eles praticavam”.
A ‘vocação’ para o sacerdócio vem desde pequeno: “desde que me lembro, disse que queria ser padre e punha-me a celebrar missas, batizados ou casamentos”, refere na mesma entrevista. “Quando falam na vocação, é um chamamento que entra e não se sabe porquê. Foi acolhida tremendamente pelos meus pais que manifestaram maior alegria que eu”.
No seminário tem 135 jovens como ele e reconhece que nunca passou por um “período de crise” mas teve “muitas interrogações”, sobretudo, sobre o papel da igreja.
“Nós tínhamos a pessoa do diretor espiritual, um bom diretor, que era jesuíta. Eu ordenei-me em 1967 e o concílio foi 65. Vivíamos no signo da necessidade da mudança, da reforma. Por isso a minha crise não foi tanto sobre a fé, mas mais por uma igreja diferente”.
Focolares
O movimento Focolare mudou a forma de estar de D. Jorge Ortiga. Conheceu o movimento no primeiro ano de padre, quando coadjuvava na paróquia de S. Vitor e ainda antes de ir estudar para Roma. “Encontrei uma espiritualidade que oferecia um rosto de igreja mais jovem, atraente, mais sedutora em tudo”, justifica.
Depois, a vivência dessa espiritualidade foi a ‘cereja em cima do bolo’: “no concreto essa espiritualidade expressava-se através da música, em comunhão com o mundo inteiro, uma igreja mais aberta, mais presente na comunidade”.
Aliás os ‘Focolares’ traziam para a discussão assuntos que a própria igreja não queria abordar na altura, como o ecumenismo. “Nos anos 70, falava-se nos Focolares do diálogo inter religioso que estava no concílio mas não estava a ser posto em prática, falava-se da relação com os não- crentes e foi aí que encontrei a igreja numa linha de renovação”.
Roma
A ida para Roma “foi uma graça” e a experiência comunitária junto com outros sacerdotes haveria de o marcar: “às quintas-feiras não havia aulas, deixava o colégio e ia viver uma experiência comunitária com outros sacerdotes, padres de todo o mundo e isso marcou-me”.
A linha de pensamento do arcebispo de Braga começa a ser moldada: “não sou capaz de ver a igreja fora do modelo da santíssima trindade, os três distintos, diferentes mas os três unidos num só Deus, do amor que deles resulta que é o único preceito que temos. Depois uma igreja onde não há ricos nem pobres, mas que existem e temos que estar atentos”.
Futuro
D. Jorge Ortiga é o bispo em funções há mais anos e é o seu preceito de vida o segredo para esta longevidade: “eu procuro acordar todos os dias e vivê-los como únicos, com o mesmo entusiasmo e a mesma dedicação. Encarar serenamente o dia-a-dia”.
Em Março apresentou a resignação ao Papa Francisco que ainda não foi aceite: “estou à espera e uma das normas é viver o momento presente com a mesma dedicação e entusiasmo. Deus dá-me a tranquilidade porque não preciso de me preocupar para onde ir, não faltam lugares onde possa estar”, refere na mesma entrevista.
Depois de descansar um pouco, “não quero estar na inactividade mas quero continuar a trabalhar. Uma coisa de que gostaria ter era mais tempo para a oração e para cultivar a amizade”.