Jorge Ferreira, testemunha no julgamento de um homem acusado de ter asfixiado a mulher, até à morte, em março de 2019, no restaurante pertença de ambos, em Salamonde, Vieira do Minho, negou, na última audiência, no Tribunal de Braga, as alegações de que seria amante da vítima. “Eramos só amigos! Nunca se passou nada entre nós”, afirmou, confessando, no entanto, que “gostava muito dela”.
A testemunha continua a ser ouvida nesta sexta-feira no Tribunal de Braga.
A acusação – e conforme O MINHO tem noticiado – diz que o arguido, António Manuel Fidalgo, de 45 anos, – em prisão preventiva – terá “apertado o pescoço” da mulher, Ana Paula, de 41 anos, “com o que lhe causou a morte por asfixia”. O alegado crime ocorreu no dia 07 de março de 2019, pelas 21 horas, na lavandaria da pensão/restaurante que ambos exploravam no local.
A morte da mulher ocorreu um dia antes de o casal assinar escrituras sobre bens que possuíam em conjunto, um ato preparatório do divórcio.
Na segunda sessão do julgamento, e ante o coletivo de juízes, a testemunha garantiu que eram muito amigos, e que “gostava dela”, mas assegurou que não tinham um relacionamento amoroso.
O seu depoimento coincidiu com os dos pais da vítima, Maria de Jesus e Alfredo, que disseram que entre ela e o Jorge havia apenas amizade.
Trabalhava de graça
O Jorge Ferreira trabalhava, graciosamente, no restaurante desde 2018, e “para ajudar a família”, dadas as dificuldades financeiras que enfrentavam: “prometeram-me que, quando tivessem disponibilidade de dinheiro me pagariam”, explicou.
A testemunha, que é motorista de transportes escolares na região, passava grande parte do dia no restaurante. No seu depoimento, afirmou que o arguido desconfiava da mulher sem razão, e que tinha atitudes agressivas para com a família. Esta declaração provocou alguns risos na sala, o que levou a juíza a repreender o público, gente de Salamonde, lembrando que se estava a tratar de uma tragédia, com uma pessoa morta, um preso, e filhos órfãos.
Na mesma sessão, os pais da Ana Paula, assistentes no processo, contaram, sempre com alguma comoção, que o arguido a teria já ameaçado com uma faca e que, uns meses antes da sua morte, apareceu com um cachecol à volta do pescoço, alegadamente para esconder marcas de agressões dele.
Depoimento dos pais
A mãe, Maria de Jesus disse que, no dia do crime, o genro, não foi trabalhar como motorista em Braga, dando a entender que teria estado a premeditar o ato. Nesta altura, o advogado de defesa, João Magalhães, desmentiu o facto, lembrando que, nos autos consta uma declaração da empresa, a garantir que trabalhou nesse dia. De seguida, o jurista requereu ao Tribunal que declare a nulidade do seu depoimento, por ser “falsa” e visar apenas “vingar-se do genro”.
O causídico contestou, ainda, por difamatórias, as afirmações do pai, segundo as quais o Fidalgo teria dado um desfalque na conta bancária que tinham, todos, em conjunto, dela retirando 100 mil euros: “O senhor está a difamar o meu cliente!”, retorquiu, lembrando que o casal, que regressara de Inglaterra, tinham contraído empréstimos para pagar a pensão e devia 150 mil euros a uma irmã da Ana Paula. Ou seja, a eventual retirada de dinheiro do banco seria para pagar essas dívidas…
Mensagens de amor
João Magalhães interveio, também, após o Jorge Ferreira ter dito que não havia nada entre ele a Ana Paula, isto apesar das mensagens amorosas que trocavam. No processo constam mais de duas centenas de mensagens telefónicas trocadas entre ele e a vítima, com sucessivas juras de amor e promessas de felicidade futura.
Por isso, o advogado de defesa, João Magalhães, pediu ao Tribunal que, na próxima sessão, agendada para dia 27, fossem lidas e projetadas no ecrâ da sala todos os sms’s amorosos, nas quais ela diz, várias vezes, “eu amo-te”.
No julgamento, a acusação tenta demonstrar que o arguido matou a mulher por “ciúmes” e que estes não tinham razão de ser.
Já os defensores, que incluem os advogados Mariana Agostinho e Luís Correia, não admitem o crime, tentam provar que os dois eram amantes, apesar de a mulher ser ainda casada com o arguido.
O Jorge encontra-a no chão
Minutos depois de ter saído, a mãe de Ana Paula pediu a Jorge que fosse chamar o casal, porque o jantar estava pronto. Este encontrou-a no chão, inanimada, com sangue e hematomas no rosto. Aos gritos, pediu para chamarem o INEM. A GNR também veio. Nos autos estão fotos do próprio arguido, também, com sinais de arranhões e sangue na cara, o que deixa supor que terão brigado. A defesa diz que, quando ele saiu ela ainda não estava morta, tese que sustenta com o facto de o INEM ainda a ter tentado reanimar.
O casal esteve emigrado duas décadas em Inglaterra, mas voltou a Portugal em 2017, abrindo em Vieira do Minho uma unidade de alojamento local.