32.094 edições em papel. Centenas de milhares de páginas impressas. De 4 páginas para as atuais 40. 18 diretores, todos homens. O jornal bracarense Diário do Minho faz hoje 100 anos e O MINHO foi conhecer um pouco melhor da sua história.
A 15 de abril de 1919 saiu para as bancas a primeira edição do Diário do Minho. Na primeira de quatro páginas falava-se de cultura, literatura, espectáculos. Da Santa Sé e da Páscoa. Ao fundo, começava a ser publicada, como folhetim, um extracto de uma novela que ocuparia os números seguintes.
O diretor era Joaquim Pereira Vilela que sairia dois anos depois. Custava 29 reis (dois centavos).
Damião Pereira é o actual diretor do jornal. Em conversa com O MINHO assume “o orgulho e o agradecimento” por estar à frente do projeto nas comemorações do centenário.
“Orgulho de pertencer a uma equipa fantástica, que faz um trabalho extraordinário e de gratidão para com todos aqueles que desde o início fizeram com que o jornal chegasse aos 100 anos”.
Vídeo: Damião Pereira (2014) / YouTube de DishMob Braga
Com os tempos conturbados que passa a generalidade do Comunicação Social, o diretor assume que “sempre procuramos adaptarmo-nos a novos modelos de negócio” que poderão trazer a sustentabilidade da edição em papel, que “continuará a ser a nossa prioridade”.
Não acreditando no fim do papel, Damião Pereira vê o futuro como “uma fusão do digital com o papel. O digital vai precisar que as notícias sejam saboreadas de outra forma, com mais tempo e diferentes perspectivas. Espero que daqui a 100 anos ainda haja papel e comemorações de mais um centenário”.
Evolução
O jornal foi sofrendo alterações de formato ao longo dos tempos. A primeira página a cores surge em 1922, num domingo, segundo dados fornecidos na edição de hoje, em papel.
Em 1977 passou a tablóide (formato actual) depois de oscilações no seu tamanho. Neste ano passa das quatro para as oito páginas, com a exceção da quinta-feira que tinha 12. Em 1989 o jornal publica-se com 16 páginas à segunda-feira e 20 nos outros dias. No dia de aniversário em 1994 passa para 24 páginas diárias, já teve 48 e actualmente está nas 40 páginas.
O jornal até 1998 não se publicava ao domingo e nos dias seguintes aos feriados. Hoje só no dia 26 de Dezembro e na segunda-feira de Páscoa é que não há Diário do Minho.
Entre os vários prémios e distinções recebidos ao longo dos anos, em novembro de 2018 foi galardoado com a Medalha de Ouro do Município de Braga.
Veleiro ‘O Esposende’
A 26 de abril de 1919 é publicada a primeira imagem no jornal: a reprodução de um veleiro “O Esposende” construídos nos estaleiros de Fão. A segunda foi, alguns dias depois, e reproduzia o quadro “A Ceia” de Leonardo Da Vinci.
A entrevista a Eurico Almeida sobre uma campanha antitífica e antivariológica foi a primeira a ser editada. A seção de entretenimento é a mais antiga e o suplemento ‘Igreja Viva’ o primeiro a sair.
Assuntos mais ‘quentes’
O ‘Diário do Minho’ não foi imune à sociedade e discussões acaloradas em diferentes sectores sociais.
Vídeo: Convívio natalício exotra colaboradores do Diário do Minho a semearem esperança (2017) / YouTube de Diário do Minho
Damião Pereira lembra-se da “polémica com o estacionamento subterrâneo”, em Braga, atribuído à empresa Bragaparques e que deu “muito que falar na altura” com opiniões para todos os gostos.
“Os referendos ao aborto serviram para o jornal valer-se do seu estatuto editorial onde está escrito que condenamos tudo o que se opõe à vida humana, e o aborto é um dos casos”.
Carlos Nuno Vaz, sobrinho do Cónego António Luís Vaz, diretor do jornal aquando das comemorações dos 50 anos, recorda em crónica publicada hoje, “os sacrifícios” do tio para garantir o jornal durante 34 anos.
E dá o exemplo das grandes festas passadas em Melgaço: “as dificuldades de comunicação e eles não terem automóvel próprio” faziam com que chegassem “na noite de Natal já depois das 20:00, a uma casa sem luz eléctrica” e regressassem a Braga “no dia imediato, logo após o almoço abreviado, porque a feitura do jornal urgia”. Uma situação “quase desumana”.
Colaboradores
Carlos Nuno Vaz recorda, na mesma crónica, que o jornal há 50 anos tinha “dois redactores em três dias da semana, três nos restantes, responsáveis por um diário”, o que o tio diretor apelidava de “quase impossível”.
Hoje, segundo Damião Pereira, a empresa tem 80 funcionários 20 dos quais afetos ao jornal e ao novo projeto jornalístico, a revista “Minha”, publicada em Dezembro de 2018.
Gráfica
A gráfica Diário do Minho é hoje, o sustentáculo financeiro do jornal. Imprime cerca de 130 jornais regionais, além de livros, revistas, catálogos, entre outros.
“Está sempre em processo de modernização porque os trabalhos pedidos vão sendo cada vez mais exigentes”, reconhece Damião Pereira.
“Daí que o jornal se vá reinventando para encontrar sempre novas soluções que dêem sustentabilidade à gráfica”, finaliza Damião Pereira.