Um leitor de O MINHO registou em vídeo, no passado dia 11 de abril, o que aparentava ser uma cria de urso a deambular na Rua Dr. José Pedreira, em Vila Nova de Cerveira, já perto da fronteira com Espanha. Contudo, trata-se de um texugo.
Guilherme Gomes, autor das imagens, questionou a possibilidade de existirem ursos naquela localidade, algo que seria pouco lógico por não existir um corredor verde proveniente de Espanha ou mato denso suficiente naquela zona do Minho para que animais selvagens como o urso possam habitar.
De acordo com fonte da GNR de Cerveira, contactada por O MINHO, não chegou ao posto nenhum registo recente de algum animal selvagem a deambular pelas ruas daquela localidade, situação que habitualmente acontece quando se trata de um animal invulgar.
Contactado a propósito, Guillermo Palomero, diretor executivo da Fundación Oso Pardo, com quem já O MINHO tinha falado acerca da possibilidade de começarmos a ver mais ursos a passarem a fronteira, assegurou que, neste caso, e ao contrário do que sucedeu em Trás-os-Montes, em 2019, “com toda a certeza não se trata de um urso”.
O MINHO contactou então Francisco Álvares, biólogo com doutoramento em Biologia da Conservação e investigador no CIBIO/InBIO, um reconhecido especialista em mamíferos carnívoros e habitual colaborador da revista de vida selvagem “Wilder“.
Francisco Álvares refere já ter visto o vídeo anteriormente, e “apesar da reduzida qualidade e ambiente nocturno”, não tem muitas dúvidas sobre que animal será.
“(…) parece tratar-se com quase toda a certeza de um texugo (Meles meles), um mamífero carnívoro que é nativo e tem uma distribuição generalizada em Portugal”, adiantou aquele especialista.
Francisco Álvares realça que “o texugo é um animal estritamente nocturno, e por isso de difícil observação, e que apresenta um padrão de coloração característico (com faixas de cor branca e negra na cabeça) mas que não são perceptíveis no video devido à reduzida luminosidade”.
Contudo, “tem cauda curta, aspeto ‘atarracado’, e um característico andar ‘bamboleante’ – que são evidentes no video – e, de facto, pode assemelhar-se a um pequeno urso, apresentando pegadas muito semelhantes a este animal”, conclui o biólogo.
De acordo com o mapa interativo de avistamentos recentes desta espécie em Portugal, desenvolvido pelo portal BioDiversity4All, há registos recentes de texugos avistados em Caminha, Viana do Castelo, Ponte de Lima, Barcelos e Póvoa de Lanhoso, bem como em alguns concelhos de fronteira, mas já noutros distritos, como Santo Tirso, Póvoa de Varzim ou Amarante.
O texugo é uma espécie protegida por lei em Portugal, sendo apenas permitida a sua caça, bem como de doninhas, toirões, martas, fuinhas, ginetes e gatos-bravos, após um despacho conjunto entre Ministros da Agricultura, Pescas e Alimentação e do Plano e da Administração do Território.
A nível europeu, e segundo uma resposta do Parlamento Europeu, “o texugo (Meles meles) consta do Anexo III da Convenção de Berna, o que implica que, em princípio, se trata de uma espécie protegida. No entanto, em conformidade com o disposto no artigo 8.o da Convenção, são permitidas derrogações, nomeadamente por razões de saúde pública ou de segurança”.
Apesar de ser uma espécie protegida, o seu estatuto no Livro Vermelho dos Invertebrados, em relação à conservação, aponta para “pouco preocupante”.