“Está tudo mudado, até as ruas. Só a ponte de Prado é que continua igual”. Esta é uma das muitas observações de Manuel Augusto de Barros, português residente na Venezuela, atualmente com 65 anos, que não vinha ao nosso país desde 1981 e que esteve esta tarde à conversa com O MINHO.
Natural de Parada de Gatim
Natural de Parada de Gatim, em Vila Verde, partiu para a Venezuela aos 19 anos, depois de dois anos de trabalho na construção em Espanha. O pai tinha falecido num acidente de mota e, no início da década de 1980, a Venezuela, mais propriamente a capital Caracas, em franco desenvolvimento construtivo, era um lugar “onde se ganhava muito bem” e as perspectivas de futuro eram melhores que na ruralidade portuguesa.
No regresso a ‘casa’ ao fim de 41 anos, Manuel Augusto revelou um “entusiasmo” extra por não ver a sua mãe – Júlia de Barros de 86 anos – e os irmãos há mais de quatro décadas, que são também a sua família, a juntar ao casamento e aos cinco filhos e quatro netos que teve na Venezuela.
“É muito bom, nunca pude vir cá ao longo do tempo porque a situação na Venezuela desenrolou-se de uma forma em que passou a ser muito complicado, e a última vez que cá vim foi em 1981 para o batizado de um sobrinho”, sustentou.
Sobre os anos sem cá voltar, Manuel Augusto desenvolve o motivo de não ter regressado: “A família era muito grande, mulher, cinco filhos, quatro netos, eram muitos e eu não queria deixar a mulher que estava doente”.
Acidente grave e reforma de 15 dólares
Infelizmente, Manuel sofreu um acidente grave em 2006 que o atirou para uma reforma de 15 dólares, um dos filhos sofreu uma doença complicada e a esposa também adoeceu e acabou por falecer. Todas essas situações aliadas a uma instabilidade económica que se começou a fazer sentir no final da década de 1980 contribuíram para que Manuel Augusto nunca regressasse a Portugal e ao seu Minho, onde “as estradas têm poucos buracos”.
Manuel recorda que foi para a Venezuela no Dia dos Namorados, 14 de fevereiro de 1979. Aterrou em Caracas e começou logo a trabalhar nas obras do metropolitano, que ainda hoje serve milhões de venezuelanos. Rapidamente conheceu o amor da sua vida, casou e decidiu por ali ficar, trabalhando na construção de prédios e moradias até ao malogrado acidente que lhe partiu as duas pernas.
Há menos buracos nas estradas
No regresso a Portugal, nota “muitas diferenças”, mas, e de forma bastante sincera, elogia as estradas por terem menos buracos que as da América do Sul.
“São muitas diferenças, isto está tudo muito mudado, as ruas não são as mesmas. Posso dizer que já não conheço Portugal, mas é uma mudança para bem”, ressalta, deixando a consideração também para a sua aldeia-natal: “Quando fui da minha casa, Parada de Gatim era velha, agora encontrei uma Parada de Gatim moderna”.
Outra diferença é o clima, “que não é como em Portugal”, pois lá encontra neve, chuvas torrenciais, calor extremo, mas de resto as diferenças são menores do que as esperadas: “Tem os seus rios, o mar, é como aqui”.
“Não estou contra uns nem outros, mas podiam fazer melhor”
Sobre a Venezuela, Manuel Augusto até se perde em considerações, mas com a bipolarização existente entre as fações bolivarianas e liberais apoiadas pelos Estados Unidos, o mais prudente é mesmo não tecer grandes comentários políticos, reconhecendo apenas que a realidade atual “é muito complicada”, não só por causa das políticas mas também por causa do embargo americano, que resulta em crianças e idosos a passarem fome.
“O Governo também tem culpa numas coisas, mas estamos a ser embargados pelos EUA e com esse embargo puseram-nos a passar fome”, considera, sem alongar, lembrando porém que a oposição também tem o seu papel negativo em toda esta situação.
“Não sou político, nem estou contra uns nem outros, mas todos podiam fazer melhor”, rematou.
Vai ficar três meses e ver Braga por um canudo
Manuel Augusto pensa ficar cá três meses, para “poder conhecer a família toda”, que são “mais de 100 pessoas”. Na terça-feira à noite, juntamente com os familiares residentes em Portugal e outros que residem na Suíça, participou numa festa em sua homenagem, onde até lhe fizeram “um arco muito bonito para passar por baixo”.
Mas há mais família para conhecer, sobretudo os que residem no estrangeiro, e como só cá regressam em agosto, Manuel Augusto vai esperar por eles e aproveitar para se reencontrar com Vila Verde, com o Minho, com Portugal mas, sobremaneira, com o Bom Jesus, conforme nos contou: “Quero ver o Bom Jesus e Braga por um canudo. Passei por Prado, está tudo muito modificado, só não está modificado a ponte de Prado, é a mesma estrada para entrar e sair”.