Está em desenvolvimento um novo tratamento para o cancro da bexiga, o quarto mais frequente em Portugal e o que apresenta uma reincidência superior a 50%, com especial incidência no género masculino. A responsabilidade do novo projeto é da Escola de Medicina da Universidade do Minho e do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e da Saúde (ICVS).
“Propomos esta ideia em doentes com cancro da bexiga que não respondem à terapêutica, porque um dos mecanismos de não-resposta parece ser realmente as células terem este tipo de metabolismo”, explica Julieta Afonso, responsável pelo trabalho publicado recentemente na Nature Reviews Urology.
A responsável pelo desenvolvimento do tratamento, explica que “nem todos os doentes respondem à imunoterapia: “Ainda temos trabalho a fazer nessa área”.
Esta terapêutica “ajuda o sistema imunitário a combater as células malignas, com resultados incontornáveis no controlo de tumores como melanoma e cancro do pulmão”.
O funcionamento passa pelos “inibidores de checkpoints imunitários”, que “libertam um travão natural no sistema imunitário de forma a que as células imunes (os linfócitos T) reconheçam e ataquem os tumores”.
“Estes inibidores, que estão na origem do Nobel da Medicina de 2018, mostraram também boas respostas no cancro da bexiga, mas a taxa global de resposta é de apenas 15% a 25%”, explica.
“A nossa ideia de trabalho consiste em utilizar o metabolismo da glicose, que é a principal fonte de energia das células malignas e das células do nosso sistema imunitário, para potenciar a resposta da imunoterapia”, disse Julieta Afonso, em artigo divulgado pelo ICVS.
A investigadora explica que o cancro da bexiga acarreta elevados custos: “É o décimo tumor mais frequente, a nível mundial. Só que tem uma particularidade: em termos de custos para os sistemas de saúde é o que tem mais impacto. A maioria são até tumores superficiais, de mais fácil tratamento, mas o que acontece é que estes tumores têm uma taxa de reincidência muito elevada [acima dos 50%], o que requer uma vigilância muito apertada e pode requerer novas cirurgias. A isto acresce o risco de progressão para formas invasoras, e a heterogeneidade na resposta aos tratamentos clássicos”.