Com quatro anos de existência, o projeto ArTerapia, desenvolvido em Joane pela ACIP – Ave Cooperativa Intervenção Psico-Social, junta mulheres desempregadas ou em situação de pré-reforma e através dos trabalhos manuais dá-lhes ‘uma nova vida’. São cerca de 20, que uma vez por semana, se reúnem, “para fazer esta terapia coletiva”.
São rosas, senhor, são rosas!. Num espaço amplo estão várias mesas juntas cheias de quinquilharias, fios, tesouras, fitas, arames. Cada uma com a sua função, umas cortam pedaços de tecido, outras juntam os pedaços e outras ainda, dão formas às rosas. Há quem esteja concentrado a cortar pequenas ‘pétalas. Duas estão a aviar encomendas de tapetes.
Requião. Foi numa formação para desempregados em 2015 que o desafio foi lançado. “Era uma formação sem prática onde nos ensinaram muita coisa. E eu comentei que precisávamos de por as mãos na massa e não ficar só na teoria”. Foi quando desafiaram Ana Maria Freitas para integrar um grupo de mulheres com o objetivo de praticarem aquilo que aprenderam.
Estava criada a Arterapia. Trabalhos em crochet, malhas, papel, cartão, flores, tudo o que a imaginação quiser, são elaborados por cerca de duas dezenas de mulheres. “Estamos sempre à procura de fazer mais coisas e por isso, em casa pesquisamos bastante”, refere a mulher de 54 anos.
Uma das particularidades, segundo explica Letícia Campelo, psicóloga e coordenadora do projeto, é que quem propõe “fazer algo de novo, fica também encarregue de ensinar às outras como se faz”. Por isso, cria-se “uma dinâmica muito interessante de solidariedade, de interesse e muitas vezes, de perceber as limitações do outro”.
Menos medicamentos
Ana Maria reconhece que a terapia semanal a tem ajudado no seu dia-a-dia: “para mim, tem sido fantástico. Tomo menos medicamentos do que tomava e o meu único lamento é que seja só uma vez por semana”, entre as 14:30 e as 17:30. Uma reivindicação extensível a todas as outras.
Fernanda, em situação de pré-reforma, descobriu a Arterapia por indicação de uma familiar. “Não queria ficar em casa, parada”. Com 58 anos sente-se ainda útil. “Gosto tanto disto que já trago a minha neta”.
Há quem tivesse problemas relacionais e agora “fala pelos cotovelos”; há quem tivesse problemas de autoridade e agora lideram atividades e há quem, mesmo tendo encontrado um emprego, continue a ir às sessões do projeto.
Empoderamento
A participação em feiras é uma outra faceta. “A adesão das pessoas tem sido muito boa. Esgotamos quase sempre o stock dos trabalhos”, revela Letícia Campelo. O empoderamento feminino é “aqui uma realidade. Sentem-se valorizadas e reconhecidas e isso, depois, reverte para o seu dia-a-dia”.
Natália está desempregada. Numa das idas à ACIP falam-lhe do projeto. “Como estava sem fazer nada, aceitei e digo-lhe: bendita a hora! Gosto muito de estar aqui. Tenho pena que seja só um dia!”. Natália destaca o presépio para uma junta de freguesia como um dos projetos que mais a marcou.
A quebra do isolamento, o aumento da rede de suporte informal e consequente integração social são apontados pela responsável como as principais mais-valias do projeto, gerado no seio de duas Comissões Sociais Inter Freguesias de que a ACIP faz parte, abrangendo um total de 9 freguesias do concelho.
“Há também conversas sobre temas sensíveis. O espaço da sala, o trabalho em conjunto, o gostarem do que fazem aqui, vai permitindo criar laços e a abertura para falar sobre quase tudo vai-se proporcionando”, revela ainda Letícia Campelo.
Materiais
O dinheiro arrecadado com a venda do que vão produzindo, donativos e muita solidariedade são canalizados para a compra dos diferentes materiais com que vão criando os produtos. “Ofereceram-nos uma máquina industrial o que irá permitir alargar mais os horizontes”, diz Ana Maria.
“Já participamos em campanhas como a do Banco Alimentar, fizemos passeios, convívios e aí levamos também a família porque é importante que percebam a importância que o projeto tem para nós”, acrescenta Fernanda. Este aspeto é ainda mais importante, porque o Arterapia é uma espécie de “clube do bolinha’ mas no feminino: “não há homens mas com muita pena nossa porque seriam bem-vindos”.
Prémio Inovação
O projeto foi reconhecido pela Câmara de Famalicão no âmbito do roteiro da inovação tendo merecido a visita do presidente da autarquia.
“É um projeto fantástico e é muito bom perceber que na sociedade civil há associações que estão preocupadas com a comunidade”, referiu, na altura, Paulo Cunha. “Precisamos que as pessoas falem mais umas com as outras. Devemos estar preocupados com o que acontece à nossa volta. E às vezes as pessoas só precisam de uma palavra amiga, de um conforto, de alguém que as ouça e é isso que a ACIP está a fazer com este projeto”.
Recorde-se que a ACIP nasceu a 4 de maio de 1999, com a missão de promover a qualidade de vida das pessoas com deficiência/incapacidade. Entre os vários serviços prestados, destaque para o Departamento de Formação, que visa a (re)integração na vida ativa e profissional de grupos desfavorecidos; o Departamento de Educação/Reabilitação, vocacionado para a prestação de serviços terapêuticos a crianças e jovens, e o Departamento Comunitário, vocacionado para a promoção de ações e projetos de âmbito social dirigidos a grupos em situação de desvantagem socioeconómica.