A cidade de Braga vê uma verdadeira “invasão” de cidadãos brasileiros há alguns anos. Mas o clube que carrega o nome do município há um século já pensa nisso há mais tempo, e com sucesso. Tanto que não faltam nomes do país na votação do onze do século.
Desde pelo menos a chegada do presidente António Salvador, a aposta em brasileiros ficou mais evidente. Na equipa de Jorge Jesus, em 2008/09, por exemplo, eram 10 jogadores do país irmão. Em 2010/11, quando o Braga foi à final da Liga Europa com Domingos Paciência, já eram 17, e no atual plantel são nove, e mais três nos “bês”. E se perguntar aos adeptos, principalmente os mais jovens, os grandes ídolos do clube, é certo que nomes como Alan, Mossoró, Fransérgio, Lima e tantos outros serão citados.
“A minha chegada foi num momento de mudança do clube. Mas marcou-me toda a estrutura, a organização e o planeamento de António Salvador, que deu liberdade ao Jorge Jesus e ao Carlos Freitas para construírem a equipa. Era um momento fundamental, de mudança, jogadores novos, treinador novo, estádio novo, mudou muita coisa”, disse Márcio Mossoró, que jogou no clube de 2008 a 2013, a O MINHO.
“O plantel tinha muitos brasileiros, tive a sorte de encontrar um grupo muito bom, começámos a formar uma família. Não tinha vaidade, claro que todos tinham as suas personalidades, mas no relvado e no balneário todos lutavam pelo mesmo objetivo, nunca houve ciúme. Até hoje continua isto no Braga, há um laço muito grande entre portugueses, brasileiros e jogadores de outros países”.
Ao contrário de clubes como Benfica, FC Porto e Sporting, é mais difícil o Braga ir ao Brasil e contratar jogadores que se destacam nas principais equipas do país. Mossoró é uma exceção, pois veio do Internacional, atual líder do Brasileirão. Mas Leandro Salino, por exemplo, veio do Ipatinga. O lateral-direito lembra que os seus compatriotas eram muito unidos.
“Sempre estávamos juntos a fazer churrascos nas nossas casas. A equipa era muito unida, por isso fomos tão longe”, lembra o jogador em entrevista a O MINHO.
“Jogar em equipas com muitos jogadores brasileiros é muito bom, facilita muito a adaptação. Fui recebido da melhor maneira possível pelos brasileiros que estavam há mais tempo em Braga e depois em Donetsk”, recorda o lateral-direito Ismaily, que teve uma rápida passagem pelo clube minhoto em 2012 e foi para o Shakhtar Donestk, da Ucrânia, que também aposta muito nos “brazucas”, a O MINHO.
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Em 2013, o Braga voltou a conquistar um título nacional depois de mais de 30 anos. A equipa treinada por José Peseiro derrotou o FC Porto de Danilo, Alex Sandro, Lucho González, James Rodríguez, João Moutinho e Jackson Martínez com cinco brasileiros entre os titulares, e o golo do título foi de Alan, para muitos, o maior jogador da história dos Gverreiros, e que até estabeleceu residência na cidade depois de pendurar as botas, e ainda trabalha no clube como diretor de Relações Institucionais.
“Foi muito importante, falam que a Taça da Liga não é valorizada, mas se for ver as finais, tudo valoriza as conquistas. O Porto tinha uma das melhores equipas da Europa, era um grupo muito forte, e final ninguém quer perder”, lembra Mossoró.
“Até hoje lembro dos adeptos do clube a esperar o nosso regresso com a taça e a cidade em festa. Celebrámos por toda a madrugada. Fico feliz e grato por fazer parte desta história linda do Braga”, complementa Leandro Salino.
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Para as celebrações do centenário, o Braga resolveu abrir uma votação através da aplicação oficial para o melhor 11 de sempre. Entre os brasileiros estão nomes como Artur Moraes, Matheus, Marcelo Goiano, Jorge Luiz, Vandinho, Alan, Mossoró e Lima
“É uma sensação única, é muito satisfatório para mim, se eu puder entrar na melhor equipa do Braga, não tem preço. Vou ficar muito feliz, espero fazer parte. Foram cinco anos especiais da minha vida, devo muito ao Braga, se eu puder fazer parte desta equipa, vai ser muito gratificante”, disse Mossoró.
Novos adeptos
Milhares de brasileiros chegaram à cidade nos últimos anos. A maioria sem uma ligação familiar que justifique o apoio aos “três grandes”, e muitos acabaram por adotar o Braga como clube em Portugal. É o caso do advogado paulista Roger Lima, de 46 anos e há cerca de um ano e meio no município com a mulher, os dois filhos e o cão.
No momento de escolher o clube português para ser adepto, a família teve sorte.
“Quando chegámos, pesquisámos sobre os clubes daqui. Nós moramos em São Vicente, bem próximo ao Estádio Municipal de Braga e logo fomos à Final Four da Taça da Liga. Vencemos frente ao Sporting, e aquele momento trouxe a lembrança dos jogos no Brasil. Depois também fomos à final, e vencemos frente ao FC Porto”, disse.
A conquista também ajudou para a relação de pai/filho a torcerem pelo mesmo clube, o que já acontecia no Brasil com o São Paulo, atual vice-líder do Brasileirão. Um dos miúdos é apaixonado por futebol, controla um perfil no Instagram sobre curiosidades da modalidade, e até já conseguiu uma foto com quase toda a equipa.
“Uma vez estávamos no Bom Jesus e a equipa estava num hotel por lá. Pedi para que tirassem uma foto com os meus filhos e todos os jogadores e comissão técnica enfileiraram-se para tirar foto com eles”, recorda o pai feliz.