Artigo de Vânia Mesquita Machado
Humanista. Mãe de 3. De Braga. Pediatra no Trofa Saúde – Braga Centro.
Porque TODAS as doenças são importantes.
Existem momentos, em que o fundamentamismo ideológico cego deixa de fazer qualquer sentido.
Estamos a atravessar um desses momentos ,
a nível mundial, chamado pandemia.
E o nosso país, não está imune à evolução galopante da infeção por covid-19.
Mas no nosso país nenhuma das outras doenças deixou de existir ou perdeu o seu grau de importância, tal como no resto do planeta.
E porque TODAS as doenças são importantes,
é fundamental falarmos TODOS a mesma linguagem,
em vez de perdermos tempo com ninharias
de quem tem razão,
de inflamados discursos contra quem governa o país (não deve ser fácil ser governante em situação de crise sanitária),
de disseminar insultos contra os alvos do costume, os profissionais de saúde “preguiçosos” e que “nem querem ver doentes”.
Colocando em primeira linha, acima de posições opinativas pessoais,
o interesse superior de TODOS como pessoas:
– manter os melhores cuidados de saúde,extensíveis a toda a população, e que abranjam TODAS as doenças.
Porque TODAS as doenças são importantes.
Por este motivo,
o atual Bastonário da Ordem dos Médicos
o Dr. José Miguel Guimarães,
em carta conjunta com Ex- Bastonários,
escreveu com toda a clareza
uma carta aberta à Sra. Ministra da Saúde,
onde na essência se expõe a emergência de acionar TODOS os meios ao dispôr do país para combater simultaneamente a pandemia sem abandonar TODAS as doenças que necessitam equitativamente da atenção plena dos profissionais de Saúde.
Isto inclui obviamente não desmazelar os cuidados de prevenção:
-para que as crianças mantenham o adequado acompanhamento desde que nascem,
– para que as pessoas mais velhas possam usufruir da sua vida com a máxima qualidade a que têm direito.
– Portugal, é um dos países europeus com menor qualidade de vida na 3a e 4a idades.
– A nossa taxa de mortalidade infantil é das melhores da Europa, e para isso urge manter os cuidados de prevenção em Consultas de Saúde Infantil.
“Não há tempo a perder Sra Ministra.
Este é o momento de o SNS liderar uma resposta global, envolvendo os setores privado e social, que permita aumentar o acesso a todos os cuidados de saúde, com uma resposta inequívoca a todos os doentes” cito a carta.
Porque TODAS as doenças são importantes.
E os números falam por si:
– O número de óbitos não covid 19 foi nos últimos 6 meses, em média cerca de 7000 x superior à do 5 anos anteriores.
É altura de TODOS arregaçarmos as mangas.
Admito que discussões sobre estratégias a adoptar
num saudável brainstorming coletivo contribuam para encontrar as melhores soluções.
Mas estamos em contra-relógio.
– Com o crescimento exponencial de infeções a covid-19 ,a desviar os Médicos de Medicina Geral e Familiar (sobrecarregados e exaustos), de todas as outras suas atividades nas outras doenças, seja em rastreio, diagnóstico ou tratamento;
– Com as urgências dos hospitais públicos sobrelotadas, os médicos sobrecarregados e exaustos, e o consequente adiamento de consultas e cirurgias programadas…
…corremos o risco do Sistema Nacional de Saúde
ruir nos próximos meses.
E das doenças não-covid ficarem outra vez na pilha dos pendentes.
Convém não esquecer que na 1a vaga,
a mola do crescimento de casos por covid-19 foi contida não só pelo trabalho dos profissionais de saúde , mas também pelo confinamento.
O nosso país não suporta economicamente um novo lock-down.
Soluções com percursos burocráticos sinuosos e demorados,salpicadas de reuniões que se desmultiplicam, e das habituais quezílias partidárias em incontáveis sessões parlamentares vão chegar demasiado tarde.
Não existe apenas um Sistema Nacional de Saúde.
Existe um CONJUNTO de Médicos,
formados após anos de estudo que culminam com juramento de Hipócrates,
e que depois se diferenciam em especialidades Médicas.
TODOS somos médicos,
sejamos pertencentes ao setor público ou ao setor privado.
Independentemente da chuva de críticas,
que não movem moinhos, e que caem sobre ambos os setores, em fase de crise importa juntar os esforços de TODOS os setores.
Porque TODAS as doenças são importantes.
Sou Pediatra no setor privado, desde 2017, por motivos familiares.
Mas não deixo de cumprir, da melhor forma possível, o meu papel como médica de crianças,
missão que assumi há cerca de 20 anos.
Faço aqui o meu apelo individual
ao bom senso coletivo,
da necessidade desta colaboração entre ambos os sistemas de saúde, para o bem comum de TODOS.
A união faz a força.
Porque TODAS as doenças são importantes.
Vânia Mesquita Machado