A porta-voz do PAN considerou hoje que a demissão do secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro “pecou por tardia” e salientou que “chega um momento em que é fundamental saber pedir desculpa”.
“Respeitando aquele que é o princípio da presunção de inocência de todo e qualquer cidadão, parece-nos que efetivamente esta demissão pecou por tardia”, afirmou Inês de Sousa Real.
A líder e deputada única do PAN, que falava aos jornalistas em conferência de imprensa na Assembleia da República, apontou que, “além da investigação, existia já uma acusação”.
“E portanto, existindo uma acusação de um crime tão grave como o de prevaricação, não obstante o princípio de presunção de inocência, parece-nos que a demissão devia ter acontecido e que há esclarecimentos que devem ser prestados ao país, até para que não exista esta reiterada perceção na opinião pública de que estamos sempre perante casos e casinhos, sejam eles de corrupção, de favorecimento, de benefício de familiares ou de interesses diretos”, defendeu.
Inês de Sousa Real considerou que “a democracia precisa de restabelecer a confiança nos cidadãos e isso não se coaduna com esta delonga ao longo dos últimos dias”.
A porta-voz do partido Pessoas-Animais-Natureza salientou também que “em política chega um momento em que é fundamental saber pedir desculpa aos cidadãos”.
“Demorou-se que houvesse uma demissão de Miguel Alves como secretário de Estado, é preciso saber dizer aos portugueses que, mesmo que as pessoas não tivessem conhecimento, mesmo que o restante Governo não tivesse conhecimento, que há um pedido de desculpas à população pelo que aconteceu e que vão ser apuradas todas as consequências até às últimas instâncias”, sustentou.
Na ótica de Inês de Sousa Real, “dizer apenas” que se agradece “as funções do secretário de Estado e até à próxima” é “manifestamente insuficiente e até quase desrespeitoso para com as pessoas, que esperam mais”.
Miguel Alves apresentou a demissão esta quinta-feira, no dia em que foi noticiado pelo Observador que é acusado pelo Ministério Público (MP) do crime prevaricação no âmbito de uma certidão extraída da Operação Teia por atos cometidos quando era presidente da Câmara Municipal de Caminha. Fonte do MP confirmou à Lusa esta acusação.
O ex-autarca tomou posse em 16 de setembro como secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro – cargo que António Costa optou inicialmente por não ter na orgânica deste seu terceiro executivo, constituído em 30 de março.
A porta-voz do PAN foi questionada também sobre o primeiro-ministro ter admitido processar o ex-governador do Banco de Portugal Carlos Costa por ofensa à sua honra, por este ter afirmado que foi pressionado para não retirar Isabel dos Santos do BIC.
Inês de Sousa Real afirmou que, a comprovar-se a interferência, “é evidente que é grave” e “sendo grave, o senhor primeiro-ministro vai ter de vir prestar esclarecimentos ao país sobre o assunto”.
A deputada única assinalou que o PAN “já tentou que a nomeação do governador do Banco de Portugal passasse por parecer vinculativo da Assembleia da República, algo que foi rejeitado” e defendeu que isso permitia “maior escrutínio, maior transparência, mas também um maior respaldo do governador”, que ficaria “mais equidistante do Governo”.