É um tema quente, a exploração de lítio na Serra de Arga. O MINHO questionou todos os nomes cimeiros nas listas autárquicas, para lugares de representação na Câmara de Viana do Castelo. Sem exceção, todos se posicionaram tendencialmente contra a extração de lítio no concelho. O presidente de Junta de São Lourenço da Montaria afirma que “já foram emitidas licenças de prospeção do recurso geológico nas freguesias do sopé da Serra de Arga”. A meio do ano, o ministro do Ambiente garantiu que não haveria exploração de lítio na área de serra protegida pela rede Natura 2000.
É um recurso mineral com vários fins comerciais: a produção de energia menos poluente. A eletrónica “verde” necessita descontroladamente de lítio, enquanto a nova indústria de produção de meios de transporte “eco-friendly” procura saciar-se, vorazmente, com qualquer buraco onde o afamado minério reluza.
Aparentemente, o maciço florestal da Serra de Arga assemelha-se com o protótipo de buraco resplandecente que a indústria extrativa procura. No entanto, várias são as vozes contra a mineração de lítio, que recorda os tesouros de outro tempo – volfrâmio.
No concelho de Viana do Castelo a Serra de Arga abarca as seguintes freguesias: Montaria, Amonde, Vilar de Murteda, Meixedo e Lanheses. Empresas estrangeiras descobriram que nestas terras o solo brilha com mais força. “Lítio Não” respondem-lhes os populares.
No decorrer das entrevistas autárquicas, com os candidatos à Câmara de Viana do Castelo, O MINHO questionou qual a posição dos mesmos face à exploração do minério na serra prometida. Todos se foram pronunciando, determinantemente, timidamente ou convictamente, contra a exploração de lítio na Serra de Arga.
“Algumas pessoas tentam passar a ideia de que são os únicos contra a exploração de lítio na Serra d’Arga” afirmou Luís Nobre, candidato do PS à Câmara de Viana, aproveitando para recordar que “tudo” irá “fazer na autarquia para impedir a exploração de lítio na Serra d’Arga. É um ativo ambiental de toda a região que não pode nem vai ser desperdiçado pela atividade mineira”.
Eduardo Teixeira candidato à Câmara de Viana, rosto de uma geringonça antípoda à governativa, formada entre o PPD-PSD e o CDS-PP, não faz por menos: “Uma tentativa de atentado contra o nosso património natural e cultural, que são únicos e imprescindíveis. Espero que não dê em nada, muito sinceramente. Nós, PSD, vamos continuar a lutar com todos os meios e recursos para que tal não aconteça. Além de ser altamente prejudicial para o meio ambiente, coloca em risco a saúde de todos, a qualidade de vida e o bem-estar das comunidades locais, em local de rede natura e em plena Serra d’Arga que urge proteger”.
O negócio do lítio soa colonial, empresas estrangeiras a explorar recursos nativos. Por isso, a esquerda vianense não tira o pé da reivindicação. “A paisagem protegida da Serra de Arga pode ser comprometida pela exploração de lítio. Por isso, achamos que devem ser suspensas quaisquer diligências, porque não está assegurado o bem-estar da população. As empresas que estão a tentar dominar o lítio são estrangeiras, e nós não estamos, de forma alguma, a favor da destruição da Serra de Arga”, afirmava, em entrevista, Cláudia Marinho a O MINHO.
O Bloco de Esquerda, de Jorge Teixeira, encontra-se apreensivo com a exploração mineira na região por causa do “imenso histórico de passivos ambientais deixados sistematicamente, pela indústria extrativa (também existentes na serra d’Arga), pela falta de controlo público da mesma e também porque entendemos que as espectativas de necessidades de lítio estão muito sobrevalorizadas”.
Na direita, o candidato do Aliança, Rui Martins afirma que “não será viabilizada qualquer extração mineira sem que se verifique a criação de valor acrescentado à nossa comunidade”. Por sua vez a cabeça de lista do partido Chega, Cristina Miranda, indaga: “A indústria extrativa nas nossas serras do Alto Minho não faz qualquer sentido. De acordo com os estudos existentes temos uma percentagem de 0,05%, antes de refinado”.
Maurício Silva, “special one” da candidatura autárquica do Iniciativa Liberal à Câmara de Viana, defende, até, um referendo, mas ao negócio, não fecha a porta: “No caso da perfuração devem ser clarificados os benefícios e os riscos, por ser um tema que pode afetar, positivamente ou negativamente, várias gerações, de uma forma democrática achamos que os vianenses devem ser ouvidos através de um referendo local após uma exposição isenta e clara das vantagens e desvantagens e sob discussão de forma serena e sem extremismos. Recordo que hoje temos as baterias de lítio em todos os eletrónicos que utilizamos inclusive nos carros elétricos”.
Paula Veiga, candidata do Nós, Cidadãos à Câmara de Viana do Castelo, posiciona-se veemente: “Opomo-nos fortemente ao avanço da indústria extrativa para esta região. Consideramos que a exploração deste minério não traz qualquer vantagem e só tem um intuito cegamente económico, que não pode, em circunstância alguma, sobrepor-se às pessoas e à garantia de preservação do nosso património natural e ambiental, que é garante das gerações vindouras”.
São Lourenço da Montaria
Armando da Silva Paula, presidente da junta de freguesia de Montaria, está renitente com o futuro do solo da aldeia -“Por nós junta, não vai haver exploração de lítio. A junta está determinadamente contra, porque conhecemos pouco do que vai ser feito. Pelos vistos, foram imitidas licenças de prospeção, mas não de exploração”.
“As zonas de prospeção são nos baixos da Serra de Arga. A questão de 1 milhão de dólares é se vai, ou não, haver exploração e se eles imitirem licenças teremos de utilizar outras armas. Todas as freguesias no sopé da Serra de Arga, entre Caminha e Ponte de Lima podem ser alvo de prospeção de lítio”, afirma Armando a O MINHO.
Alguns resultados de prospeções de Lítio levadas a cabo por empresas estrangeiras, já são públicos.
Rede Natura 2000
A UE dispõe de uma legislação rigorosa em matéria de proteção da natureza, que se articula em torno da rede Natura 2000. Composta por 26 000 sítios protegidos que representam um quinto do território europeu, a rede Natura 2000 cria uma proteção vital às espécies e habitats mais ameaçados da Europa.
Esta rede tem um impacto económico importante: estima-se que o valor dos benefícios, proporcionados pela rede de proteção da biodiversidade, esteja entre os “200 e os 300 mil milhões de euros por ano, ou seja, 2 % a 3 % do Produto Interno Bruto da EU”, disponível no site da Comissão Europeia.
Em maio, o Ministro do Ambiente afirmava à imprensa nacional, que o governo não imitiria licenças de exploração de lítio, nas áreas protegidas pela normativa da Comissão Europeia, “Rede Natura 2000”.