População e autarcas de 11 freguesias de três concelhos manifestaram-se, hoje, contra o mau cheiro que dizem emanar do aterro sanitário do Vale do Lima e Baixo Cávado, a funcionar há um ano em Paradela, em Barcelos.
Na manifestação de hoje participaram centenas de pessoas, por entre autarcas e habitantes de Laúndos, Rates, Aguçadoura, Navais e Estela (Póvoa de Varzim, Porto), Apúlia e Fão (Esposende, Braga) e Cristelo, Barqueiros, Paradela e Vila Seca (Barcelos, Braga).
O presidente da Junta de Freguesia de Laúndos, Félix Marques, que tem vindo a liderar a contestação, disse que o cheiro “é insuportável” e se faz sentir, sobretudo, ou de manhã ou à noite.
“São freguesias que estão à volta do aterro e que vão sofrendo, à vez, os efeitos dos maus cheiros, dependendo do lado para que sopra o vento”, explicou no dia anterior ao protesto, em declarações à agência Lusa.
Félix Marques disse ainda que aos maus cheiros pode vir a juntar-se, no futuro, a contaminação dos solos e das águas por materiais pesados.
Operação de “boa vizinhança”
O aterro, que está localizado na freguesia barcelense de Paradela, é gerido pela empresa Resulima, responsável pela recolha de resíduos nos municípios de Arcos de Valdevez, Barcelos, Esposende, Ponte da Barca, Ponte de Lima e Viana do Castelo.
Entrou em funcionamento no início de 2022, mas, desde então, tem gerado a contestação dos habitantes das freguesias limítrofes.
Em comunicado enviado esta manhã às redações, durante o protesto, a Resulima disse ter “recebido” os manifestantes numa ótica de “boa vizinhança”.
“Esta operação de boa vizinhança deu a conhecer as medidas tomadas e em curso para minimizar os incómodos sentidos pela população”, argumenta a Resulima, que diz ter ouvido a população e anotado as reclamações, prometendo que todas serão respondidas num prazo de 15 dias.
“Para o efeito esteve presente uma equipa preparada para dar todo o apoio e encaminhar os pedidos e reclamações à Administração da Resulima”, salienta a nota.
Funciona sem licenças
Em janeiro deste ano, depois de uma segunda vistoria, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) anunciou que “estão reunidas as condições” para a emissão das licenças de exploração que ainda faltam para aquela estrutura.
O organismo ressalvava, no entanto, que a emissão das licenças devia incluir, como condições ou medidas, a criação de uma barreira cénica e a implantação de uma cortina arbórea no extremo sul da instalação, no prazo máximo de dois meses.
Outra condição é a apresentação, também no prazo de dois meses, dos resultados do “Estudo de avaliação de medidas adicionais de mitigação da emissão de odores”, com indicação detalhada do planeamento das novas medidas adicionais a implementar.
No mesmo mês, a Resulima garantiu que tem vindo a implementar “várias medidas operacionais” no sentido de otimizar o processo produtivo, com o “objetivo primeiro” de minimizar qualquer impacto nas populações vizinhas.
A Junta de Laúndos já recorreu às instâncias da União Europeia para denunciar que os fundos utilizados pela Resulima “prejudicam gravemente a qualidade de vida” das populações vizinhas.
Por sua vez, a Câmara da Póvoa de Varzim anunciou a interposição de uma ação judicial contra o Estado, por considerar que não existiu fiscalização suficiente ao aterro.