Analisar as bio estruturas até ao nível atómico pode ajudar a estudar doenças como o Alzheimer ou o cancro, bem como a desenvolver novas terapias é possível a partir de Braga, graças ao novo microscópio criogénico eletrónico instalado no Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia.
O aparelho foi inagurado esta quinta-feira com a presença da presidente da Fundação para a Ciência e a Tecnologia – FCT, Madalena Alves, do presidente da CCDR-N, António Cunha, e da vereadora Olga Pereira.
A aquisição deste equipamento está integrada na criação da Rede Nacional CryoEM-PT, “uma rede de microscopia eletrónica para as ciências da vida e da saúde”, explica Paulo Ferreira, coordenador científico desta iniciativa que abre portas a investigadores e empresas de território ibérico, permitindo o fácil acesso a infraestruturas e tecnologias de ponta.
A microscopia crio eletrónica é uma técnica de última geração fundamental para a biologia estrutural e investigação em saúde, permitindo que as células e seus componentes sejam observados com uma precisão sem antecedentes.
Este tipo de microscópio “utiliza eletrões para observar os materiais”, o que “permite atingir o nível atómico”, explica Ferreira, enquanto “as amostras são arrefecidas à temperatura do azoto líquido”. Esta última é “a vantagem de usar esses instrumentos”, detalha o coordenador do projeto, uma vez que a baixa temperatura impede que “o feixe de eletrões destrua as amostras quando interage com estas”.
Nesse sentido, a tecnologia usada é útil para uma ampla variedade de aplicações, como “obter a estrutura tridimensional de biomoléculas e vírus como o SARS-CoV-2”, para que “possamos desenvolver estratégias de combate mais eficazes”.
“Isso abre uma grande oportunidade para estudar muitas terapias e também doenças, por exemplo, Alzheimer e Parkinson ou cancro, bem como o desenvolvimento de novos medicamentos”, razão pela qual não apenas instituições académicas estão entre os futuros utilizadores, mas também empresas dedicadas ao desenvolvimento de fármacos.
Além disso, esses microscópios são “muito exigentes computacionalmente; são necessários servidores com velocidades e capacidades de armazenamento muito altas”, explica, já que a máquina obtém milhares de imagens por segundo e em poucos minutos gera “uma grande quantidade de terabytes de dados.
Relativamente ao seu funcionamento, os utilizadores da rede podem optar por enviar as amostras diretamente para o laboratório do INL, colaborando diretamente com os seus profissionais, ou receberem formação prévia para que os próprios obtenham e analisem os dados recolhidos.
Este tipo de tecnologia, recorda Ferreira, foi galardoada com o Prémio Nobel da Química em 2017 e é, sublinha, “um instrumento considerado crítico nas ciências da saúde e da vida em todo o mundo”.