O turismo alternativo rumo ao coração do Minho atrai cada vez mais estrangeiros que buscam férias que não passem por simples idas à praia. Um desses casos é o de seis famílias belgas, vindas da região da Flandres, que passaram este sábado por entre as freguesias de Aboim da Nóbrega e Gondomar (Vila Verde) e Vade S. Pedro (Ponte da Barca), às portas do Parque Nacional Peneda-Gerês (PNPG), onde trocaram as sandálias e os banhos do mar pela recriação de tradições minhotas que levam na memória para casa, de onde chegaram no início desta semana. Foram acompanhados por Armando “Carriça” Rodrigues, guia já habituado a dirigir turistas estrangeiros pelos recantos geresianos.
Katrien Clou, cientista na área da Química, é uma das turistas que aprendeu a “escorregar em penedos” e a conduzir cabras nas aldeias à porta do Gerês. Veio passar dez dias a Portugal com marido e filho depois de se ter inscrito numa agência de viagens que promove férias alternativas [Anders Reizen], e que os enviou para Ponte da Barca, onde ficam numa casa de turismo rural situado em S. Martinho de Crasto, casa essa também à guarda de uma cidadã belga a residir por cá há vários anos.
“Fomos três dias à praia, no Porto, depois de chegarmos, mas estes últimos sete dias são passados aqui no meio da natureza e estamos a adorar a experiência”, contou a belga a O MINHO. O sábado de Katrien, do marido e do filho, assim como das restantes cinco famílias belgas, que apenas se conheceram já em solo português, foi preenchido por caminhadas pelos trilhos naturais da região e pelo acompanhamento de um “cabreiro”, José da Costa, um dos últimos cuidadores de cabras da região.
Os belgas acompanharam o rebanho de perto de meia centena de cabras durante uma caminhada, uma vez que os animais vão pastando enquanto andam pelas verdes encostas da Nóbrega e do Livramento, cruzando distritos de Braga e Viana do Castelo, mostrando que as fronteiras só existem no papel. José da Costa, natural de Aboim da Nóbrega, é dos últimos “cabreiros” da região e, embora tenha sido apenas mais um dia em que leva as cabras a pastar, ficou agradado com a companhia dos turistas, sobretudo das crianças que mostram sempre curiosidade perante os animais.
Liz Moons, arquiteta de profissão, e inserida no mesmo grupo, contou a O MINHO que este tipo de férias é cada vez mais procurado na região belga, onde existem áreas verdes mas, sublinha, não com esta “autenticidade”. “Estamos radiantes por ver toda esta natureza e pelas tradições que nos mostram, mas também pela simpatia dos portugueses que nunca nos tratam como turistas”, realça.
A belga explica que outro dos atrativos neste sábado foi o “brincar nos penedos”, tradição de outros tempos que agora é negligenciada pelos portugueses, Garante ainda que o “verde autêntico” e as tradições minhotas vão na memória de todos aquando do regresso ao ocidente da Europa, previsto para o início da próxima semana.
Como explica Armando, o guia português que os acompanhou, estes turistas “nunca se esquecem do que daqui levam”. Para além de acompanhar as cabras, os turistas passaram algum tempo por entre penedos onde se mostraram radiantes.
“Todos querem descer os penedos em cima das giestas ou correr a subir os penedos maiores, o que é engraçado quando se faz o contraste com os portugueses que, quando lá chegam, ficam apenas a olhar e não querem participar”. Armando refere-se ao “escorregar” em penedos gigantes com recurso a giestas, diversão que domina e, garante, não tem qualquer perigo. A acompanhar Armando esteve a filha Laura, que serviu de intérprete, já que o guia não “domina o inglês”.
Armando, em conjunto com Domingos Costa, zelador do Parque de Campismo e Caravanismo Rural de Aboim da Nóbrega, promovem este tipo de iniciativas naquela freguesia para turistas e caminheiros.
Adiantam que, pelos penedos, já passaram mais de um milhar de pessoas, sobretudo estrangeiros, que levam no regresso o nome destes montes minhotos como uma referência que, com comparação ao restante continente, em nada devem às terras altas da Escócia ou outros recantos procurados por turistas que procuram caminhadas na natureza.