O presidente do Eixo Atlântico, Ricardo Rio, disse hoje ser “precoce” fazer uma avaliação dos programas de cooperação transfronteiriça em que Portugal vai participar, sem conhecer em “concreto” a dotação para a eurorregião Galiza – Norte de Portugal.
“Ainda é algo precoce, neste momento temos a indicação de valores globais daquilo que serão as linhas programáticas. Teremos que conhecer depois mais em concreto a sua respetiva locação desde logo a esta eurorregião e a cada uma das linhas de programação”, afirmou em declarações aos jornalistas no final da cerimónia de inauguração da sede da associação, na Maia.
A secretária de Estado da Valorização do Interior, Isabel Ferreira, revelou hoje, durante a cerimónia, que Portugal já assegurou a participação em nove programas operacionais do Programa de Cooperação Transfronteiriça Interreg, cuja dotação global ascende aos oito milhões de euros.
Para o também presidente da Câmara de Braga, mais do que olhar para as fontes de financiamento, o Eixo Atlântico tem como prioridade identificar projetos a submeter a essas mesmas linhas de financiamento, por forma a concretizar uma estratégia comum de desenvolvimento para todo o território da eurorregião, independentemente do lado da fronteira.
“Mais do que ser um desenvolvimento induzido pelas gavetas da programação, termos o nosso modelo de desenvolvimento bem definido, termos os nossos objetivos estratégicos e tentarmos depois encontrar as mesmas fontes de financiamento”, disse.
O autarca diz não ignorar, contudo, que “historicamente” a eurorregião tem tido um “subfinanciamento” face àquilo que são as suas prioridades, facto a que acresce a “nem sempre tão célere” concretização “de muitos projetos infraestruturantes.
“O caso da ligação ferroviária é, porventura, neste momento um momento de satisfação por uma etapa que está cumprida, com a componente da eletrificação, mas também uma fonte de ansiedade porque todos sabemos que nem sempre tem havido a valorização do corredor atlântico no contexto da própria Península Ibérica tanto quanto nós julgamos que se justificaria”, salientou.
Ricardo Rio recorda ainda que eurorregião aguarda pelo momento de concretização da ligação de alta velocidade entre a Corunha e Lisboa, que coloca as duas cidades a quatro horas de distância e o Porto a uma hora de Vigo, e cria uma estação intermédia na cidade de Braga e no aeroporto Francisco Sá Carneiro, “ambições de longuíssima data desta região”, que espera que “não demorem tanto” quanto outros projetos.
Questionado sobre a implementação de uma solução ferroviária para introdução do tráfego de passageiros na Linha de Leixões e a ligação ferroviária ao Aeroporto Francisco Sá Carneiro em alta velocidade, o autarca mostrou-se confiante, em face dos compromissos assumidos pelo Governo.
“Temos sentido esse compromisso sobretudo por parte do ministro [das Infraestruturas] Pedro Nuno Santos e do próprio primeiro-ministro [António Costa], têm-no referido em diversas ocasiões e eu espero que, de facto, essa vontade e essas declarações se materializem em ações concretas”, disse.
A Área Metropolitana do Porto discute na reunião de sexta-feira um acordo de colaboração com as Infraestruturas de Portugal e os municípios do Porto, Matosinhos, Valongo, Maia e Gondomar, para a avaliação preliminar daquelas ligações.
Ricardo Rio lamentou, contudo, a postura do Governo espanhol em projetos como o da saída sul de Vigo.
“Não sentimos, infelizmente, a mesma vontade do lado espanhol, em que às vezes projetos tão importantes como a saída sul de Vigo, que permitiria uma conectividade muito mais ágil entre a ferrovia dos dois países, não se têm materializado, apesar das grandes reivindicações do presidente da junta da Galiza, que hoje mesmo está reunido com o primeiro-ministro [de Portugal] a dar ainda mais voz àquela que foi a nossa reivindicação apresentada há cerca de dois meses ao Presidente da República”, rematou.
Durante a sua intervenção, o autarca tinha já defendido que para a eurorregião, o POCTEP, programa de cooperação transfronteiriça entre Portugal e Espanha, “teria de ser rebatizado”, tendo em conta a concretização preconizada pelo Eixo Atlântico de construção de “um verdadeiro modelo de desenvolvimento integrado”.
O social-democrata anunciou ainda que na reunião da Comissão Executiva, que decorreu durante a manhã, Viana do Castelo apresentou uma proposta, imediatamente acolhida, de juntar novamente à mesa autarcas e outros responsáveis regionais para fazer a discussão da aplicação do Plano de Recuperação e Resiliência no contexto da fronteira.
O Eixo Atlântico, associação que agrega 39 município, inaugurou hoje, na Junta de Freguesia de Águas Santas, na Maia, a sua sede em Portugal, procurando fortalecer laços e concretizar modelo de desenvolvimento comum por si preconizado para a eurorregião.