16 bombeiros da Companhia de Sapadores de Braga estão infetados com covid-19. Os restantes colegas estão preocupados porque não foram testados. A Câmara não tem testes disponíveis e as autoridades de saúde ainda não autorizaram a já anunciada despistagem por entre bombeiros e forças de segurança.
Tudo terá começado com um transporte de um utente para o Hospital de Braga, a 17 de março. Os Bombeiros Sapadores faziam mais um serviço à guarda do INEM quando, já tardiamente, foram alertados que o doente que transportavam estava infetado com o novo coronavírus.
Um dos bombeiros, que lidou diretamente com o doente, estava desprotegido, sem o equipamento de proteção individual recomendado pela Direção-Geral de Saúde contra a covid-19. Dez dias depois, a 27 de março, recebeu a confirmação que menos desejava. Estava [o bombeiro] também infetado.
Ao longo dos dias que se seguiram, até esta quarta-feira, mais 15 colegas sapadores testaram positivo, grande maioria do mesmo turno do primeiro bombeiro infetado [o quarto turno]. Outros sete terão testado negativo, entre os quais o comandante da corporação e o adjunto. Em dois casos, o resultado foi inconclusivo, pelo que houve necessidade de repetir os testes, algo que ainda não foi possível fazer.
Para as autoridades de saúde locais, apenas os bombeiros que efetuaram um combate a um grande incêndio na ala psiquiátrica do Hospital de Braga foram testados, para além das funcionárias de limpeza e a telefonista da corporação. Mas os profissionais estão em crer que o vírus se espalhou dentro das instalações do quartel, tese apoiada pelo Sindicato Nacional de Bombeiros Sapadores.
Incêndio no Hospital de Braga mobiliza 30 bombeiros e faz dois feridos
Ricardo Cunha, dirigente daquele organismo sindical, explicou a O MINHO que tentou convencer a Câmara de Braga para que todos os operacionais fossem testados, uma vez que “podem estar infetados e contagiar doentes e a própria família”. Mas o pedido não terá sido “levado em consideração”.
O sindicato aponta ainda algum atraso nas medidas levadas a cabo pela autarquia, nomeadamente a alteração de horários para não existir tanta rotatividade e o fornecimento de equipamentos adequados para desinfeção das instalações, das viaturas e dos equipamentos.
“Medidas estas que já tinham sido aconselhadas por este sindicato como medidas preventivas, ainda antes do mal se encontrar consumado”, assegura Ricardo Cunha.
Incêndio no hospital
O sindicato afasta a possibilidade do contágio se ter dado durante o incêndio em ala hospitalar, dando como exemplo outras corporações de bombeiros que apoiaram no combate às chamas e que, diz o organismo, não estarão infetados.
A câmara que menos condições de proteção disponibiliza aos bombeiros
Ricardo Cunha diz mesmo que a Câmara de Braga é a que “menos condições de proteção disponibiliza aos seus Bombeiros”, por já ter sido alertada e não ter tomado ações preventivas.
Não conseguem compreender como é que o comandante e o adjunto foram testados e os restantes bombeiros de turnos diferentes do primeiro infetado não.
“Os bombeiros necessitam mais do que palmas, no mínimo necessitam que os respeitem”, finaliza o sindicato, exigindo ainda “testes realizados quinzenalmente a todos os bombeiros sapadores do país”.
Intervenção da DGS
O sindicato enviou uma missiva à Direção-Geral da Saúde a denunciar a “situação no quartel de Braga”, apelando a esta autoridade que realize testes de despistagem aos restantes bombeiros.
Bombeiros vivem drama
O MINHO falou com alguns bombeiros que não disfarçaram o momento dramático que estão a viver dentro (e fora) do quartel. Os operacionais não testados temem estar a infetar doentes durante o transporte e assistência habitual, em casos não relacionados com o novo vírus.
É altura de solidariedade
Contactado por O MINHO a propósito deste caso, o vereador da proteção civil, Altino Bessa, apelou à solidariedade neste momento “anormal”, pedindo aos bombeiros e à população em geral que “olhem para as situações dramáticas que estão a acontecer à volta”.
“Percebo perfeitamente que todos queiram fazer teste, mas não há em número suficiente, nem em Braga, nem no país, nem no resto do mundo”, explica o responsável político reforçando que não se trata “de querer fazer ou não”, mas sim “que não há testes no mercado”
Altino Bessa não dá certezas, nem é possível dar a esta altura, mas aponta para que este contágio nos bombeiros se tenha, efetivamente, dado durante o combate ao incêndio, pelos “indicadores” de testes negativos que receberam de elementos dentro do quartel.
“Mas pode não ter sido essa a situação, porque também há bombeiros que trabalham lá e têm familiares que trabalham nos hospitais e têm outras profissões à parte (de forma legal) e pode ter sido contraído numa dessas alturas e ter existido contágio dentro do quarto turno”, reforça.
“Também não fiz teste”
O vereador dá o próprio exemplo de alguém que não fez testes e anda em “zonas de risco”, havendo a possibilidade de infetar a mulher e as duas filhas. “Eu não as cumprimento e tomo todas as precauções de higiene e segurança quando chego a casa, para tentar minimizar uma possível hipótese de contágio, caso esteja infetado”, assume Altino Bessa.
“Hoje tive reuniões com o ACES, com o delegado de saúde, com a segurança social, ontem estive nos bombeiros. Eu ando na rua e lido com pessoas que estão em lugares de risco, mas nem por isso pedi para me fazerem o teste, porque considero haver grupos prioritários que dependem no imediato destes exames, e incluo os bombeiros nesse grupo, como incluo utentes e funcionários de lares, forças de segurança, entre outros”.
Estão devidamente equipados para se precaverem
Altino Bessa assegura que os bombeiros “têm todo o equipamento e todas as condições para a manutenção do seu trabalho em segurança”. “Se houver algum bombeiro com sintomas, é colocado em quarentena, até porque já há um grupo de bombeiros que estão em casa, retirados aos outros três turnos, para poderem estar como reserva, porque o quarto turno já está praticamente todo em casa”.
280 infetados em Braga
O boletim epidemiológico da Direção-Geral de Saúde desta quarta-feira vem com os números aproximados daquilo que são os casos fidedignos de infeções por Covid-19 discriminados por concelho. Existem 725 casos confirmados no Minho, mais 76 do que na quarta-feira.
Os números correspondem aos dados recolhidos até as 00:00 de quarta-feira e podem comportar apenas cerca de 79% dos casos reais.
Braga, com 280 (+35 do que ontem) casos confirmados, Famalicão com 107 (+8) e Guimarães com 99 (+10) são os concelhos da região do Minho mais atingidos pela pandemia.
Segue-se o concelho de Barcelos com 65 (+10), Vila Verde com 36 (+6) Viana do Castelo mantém 34 , Amares com 17 (+4) Póvoa de Lanhoso mantém 17, Arcos de Valdevez com 12 (+1), Esposende com 11 (+1), Vizela mantém 11, Fafe mantém 8, Vieira do Minho com 6 (+2) enquanto Melgaço e Monção mantêm 5 casos cada. Caminha, Celorico de Basto e Valença mantêm 3 casos cada enquanto Paredes de Coura, também com 3 casos, entra pela primeira vez no boletim.
Os restantes concelhos minhotos registam menos de 3 casos, alguns ainda sem infetados, e não constam no relatório por “motivos de confidencialidade”.
209 mortos e 9.034 infetados no país
Portugal regista hoje 209 mortes associadas à covid-19, mais 22 do que na quarta-feira, e 9.034 infetados (mais 783), segundo o boletim epidemiológico divulgado pela DGS.
No dia em que assinala um mês desde que o primeiro caso da doença foi detetado em Portugal, o relatório da situação epidemiológica, com dados atualizados até às 24:00 de quarta-feira, indica que a região Norte é a que regista o maior número de mortes (107), seguida da região Centro (55), da região de Lisboa e Vale do Tejo (44) e do Algarve, que hoje regista três mortos.
Relativamente a quarta-feira, em que se registavam 187 mortes, hoje observou-se um aumento de 11,8% (mais 22).
De acordo com dados da DGS, há 9.034 casos confirmados, mais 783, um aumento de 9,5% face a quarta-feira.