A vida pacata em Pedralva, no extremo oriental do concelho de Braga, continua a ser a mesma, após a detenção de Hernâni Vaz Antunes, benfeitor da freguesia. Na sua propriedade, a Quinta das Eiras, continuam diariamente as obras de construção de novas edificações, ao longo da extensa propriedade, com dois guindastes a funcionarem na plenitude.
No final da Rua da Eiras, por onde passa a Ribeira de Reamondes, ao longo da Grande Rota da Serra dos Picos, tem duas ruas sem saída.
Do lado esquerdo, o caminho para a nascente do rio Este, passa à frente da mansão de Hernâni Vaz Antunes, que, há uma semana, foi alvo de buscas judiciais, na Operação Picoas/Processo Altice. Agora, um cão de raça Serra da Estrela não para de ladrar.
Mas quem seguir pelo lado direito, da Grande Rota 46/Serra dos Picos, a rota de mais difícil progressão no concelho de Braga, não deixa de passar pelos domínios do empresário bracarense Hernâni Vaz Antunes, já que ali estão a decorrer e nunca tendo sido interrompidas com a sua atual detenção, em Lisboa, duas frentes de obra para ampliar o edificado da sua Quinta das Eiras.
A Quinta das Eiras, onde estão apreendidos 18 bólides, de Hernâni Vaz Antunes, constituído o fiel depositário, dos supercarros.
Um dos quais, de marca e modelo Bugatti Chiron Sport, vale mais de dois milhões e meio de euros (custou há dois anos exatamente dois milhões e 650 mil euros).
Por essa razão nunca foi aconselhável aterrar por ali um helicóptero, ao contrário do que sucede com o seu amigo e coarguido, Armando Pereira, no alto de Guilhofrei, em Vieira do Minho, acima da Barragem do Ermal, banhada pelo rio Ave.
Armando Pereira tem apreendidos 14 bólides, das marcas Ferrari, Lamborghini, Rolls-Royce e Porsche.
O principal benfeitor de Pedralva
Diz quem sabe que a velha quinta foi adquirida, ainda no tempo dos escudos, por 19.500 contos, aos herdeiros de um brasileiro de torna viagem, que a tinha adquirido há mais de um século, quando Hernâni Vaz Antunes queria a propriedade, pois encostava aos terrenos do seu pai, João Antunes, de 94 anos, ainda a viver em Pedralva, mas já mais acima.
Hernâni Vaz Antunes, de 60 anos, entregou-se na Esquadra da PSP de Matosinhos, no sábado, dois dias após a detenção da filha mais velha, Jéssica, com a Operação Picoas, é o principal benfeitor daquela freguesia.
O antigo emigrante no Canadá tem duas filhas, Jéssica e Melissa, fruto do seu casamento com uma açoriana, radicada no Quebeque.
Quem chega ao cruzamento do centro cívico da freguesia, pela Estrada Municipal 594, que liga Pedralva à Póvoa de Lanhoso, depara-se com as obras de remodelação da Igreja Matriz de Pedralva, custeadas em grande parte por Hernâni Vaz Antunes. Fez questão de suportar as despesas, em conversa com o seu o padre Tobias Silva, há muitos anos a paroquiar a freguesia.
O sacerdote católico, Tobias Álvares da Silva, de 96 anos de idade, já está na Paróquia do Divino Salvador de Pedralva, há 72 anos consecutivos, um caso muito raro, mesmo nas aldeias minhotas, conhecendo naturalmente todos os paroquianos.
A freguesia tem cerca de 1.060 habitantes, uma média de 131,4 por quilómetro quadrado, em face da extensão de 8,07 quilómetros quadrados.
Pedralva é a terceira maior freguesia do concelho de Braga, logo a seguir a Adaúfe e a Palmeira, mas apesar da sua extensão, tendo mais de mil habitantes, não corre risco de desertificação, especialmente desde que Mesquita Machado construiu a Via do Alto da Vela, aproximando do centro da cidade as freguesias de Pedralva, Espinho e Sobreposta.
Nestas três freguesias ainda se recorda a construção da Piscina de Sobreposta, bem como o calcetamento de muitos caminhos, a par da extensão da rede dos Transportes Urbanos de Braga (TUB), não só, mas também, por insistência do então octogenário presidente da Junta de Freguesia de Pedralva, que se deslocava em autocarro. Maria José Borges é atualmente a autarca local.
Na freguesia de Pedralva afirma-se que Hernâni, filho da terra, “foi apanhado por não pagar impostos”, mas ninguém lhe quer mal, muito antes pelo contrário, é estimado pela vizinhança, contando-se sucessivas estórias de ajudas que dá aos mais pobres, sempre na condição de anonimato, enquanto benfeitor, sendo conhecido como o “engenheiro”, dadas as obras que manda fazer.
“Se ele prestar uma caução ainda fica com as calças”, diz o povo, acerca da expectativa quanto às medidas de coação a aplicar ainda esta semana pelo juiz de instrução criminal, Carlos Alexandre.
Aguarda-se serenamente o destino de Hernâni Vaz Antunes e da filha mais velha, Jéssica Antunes, também detida, enquanto a mais nova, Melissa Antunes, é só suspeita.
Em Pedralva, as pessoas comentam abertamente a situação pela qual está a passar o clã Antunes, mas a vida continua com a normalidade de sempre, envolvida pela ruralidade ainda profunda, destacando-se duas vacarias, uma das quais com mais de 300 vacas (a outra tem cerca de uma centena), a propriedade de onde todos os dias sai um camião cisterna carregado com leite.
Na extensa Quinta das Eiras, Hernâni Vaz Antunes continua a manter vacas, cabras e ovelhas, mas nunca na quantidade que o seu pai chegou a ter, quando era só do campo que se tirava rendimento, o que ainda é recordado pelos mais antigos. Mas que os mais novos também não desconhecem, sendo que agora a maioria das pessoas dali, apesar de viverem na aldeia, trabalham na cidade.
A Unidade de Saúde Familiar de São Geraldo, situada na Avenida de Ranhó, que é via estruturante de Pedralva constitui um dos mais recentes melhoramentos da freguesia, mas os fregueses recordam a saída, quer da farmácia, quer da “subfarmácia”, isto é, o depósito de uma farmácia da Póvoa de Lanhoso, que também vendia muitos medicamentos para animais.
Lamentam ainda que os jornalistas só se interessem por ir à localidade “quando há desgraças”, como o caso do marido que assassinou a esposa a tiros de espingarda caçadeira, do homem que matou os cunhados, também com disparos de caçadeira, suicidando-se de seguida, bem como a recente morte de um motard, perto da Igreja Matriz, mas que não era daquela freguesia.