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Um McLaren Senna, avaliado em um milhão de euros, foi um dos 18 bólides apreendidos pelo Fisco ao empresário Hernâni Vaz Antunes, em Braga. O carro foi confiscado na sua garagem, sita na Quinta das Eiras, em Pedralva, no Processo Altice/Operação Picoas, e é um dos sinais de ostentação que o empresário vinha mostrando nos últimos anos. O bracarense, assim como o empresário de Vieira do Minho Armando Pereira, cofundador da Altice, continuam detidos em Lisboa, à ordem do juiz Carlos Alexandre, e só amanhã devem ser ouvidos.
Um desses casos de ostentação foi precisamente a exibição do seu McLaren Senna, não só, mas também, na rural freguesia de Pedralva, tal como O MINHO noticiou, em meados de abril deste ano, quando Hernâni Vaz Antunes estacionou o carro, com o valor de cerca de um milhão de euros, à porta de um talho, frente ao Centro de Saúde de Pedralva, no Cruzamento de Ranhó.
O bólide a circular por Pedralva chamou a atenção de transeuntes e num instante as imagens caíram nas redes sociais, tendo o caso sido então desenvolvido por O MINHO, logo explicando que só foram construídos 500 exemplares do modelo automóvel fotografado.
O carro foi construído para homenagear o antigo piloto de Fórmula 1 Ayrton Senna, que faleceu na pista e as imagens foram partilhadas nas redes sociais e depressa reuniram centenas de comentários onde se mostram impressionados com o registo, sobretudo por se tratar de Pedralva, uma freguesia rural do concelho, percebendo-se, pela matrícula, que o carro foi registado na Suíça.
Segundo os detalhes fornecidos pela própria marca, o McLaren Senna é um “supercarro” coupé de duas portas, com motor V8 4.0 biturbo, potência de 800 cavalos e é relacionado com o modelo McLaren 720S. Tem 4,7 metros de comprimento, 2,1 de largura, 1,2 de altura e 2,6 entre eixos, pesa 1.198 quilos, chamando a atenção a toda a gente, com as portas a abrir para o lado.
Segundo o Instituto Ayrton Senna, este McLaren representa “como nenhum outro carro as características de Ayrton Senna”, elogiando a aceleração de 0 aos 100 km/h em 2,8 segundos e aos 200 km/ em 6,8 segundos, sendo a sua velocidade máxima de 335 quilómetros horários, o que é mais um apelativo para os amantes de automóveis, estupefactos com o carro estacionado.
Lançado em 2018, o modelo tem o nome do piloto cujos direitos são propriedade do Instituto Ayrton Senna mas também da construtora automóvel. Custava cerca de 850 mil euros na altura do lançamento, mas todos os carros foram comprados ainda em 2017, ou seja, antes do próprio lançamento.
De notar que a marca construiu mais 115 ‘Sennas’, mas de modelo diferente, o que os torna ainda mais raros. Também esses foram vendidos antes da apresentação. Recorde-se que Ayrton Senna venceu por três vezes o Mundial de pilotos da Fórmula 1 ao serviço da marca inglesa, que por sua vez conquistou quatro títulos mundiais de construtora com o piloto brasileiro na linha da frente.
Hernâni Vaz Antunes já tinha comprado um modelo idêntico, que ardeu em 02 de março de 2020, quando estacionado do lado oposto ao Parque Desportivo da Rodovia, em Braga, logo no dia seguinte a ter sido comprado pelo empresário bracarense, tendo a empresa vendedora, alemã, recolhido o veículo de alta cilindrada, tendo-o substituído depois por um modelo idêntico.
Armando Pereira com 14 carros apreendidos
Já Armando Pereira antigo número dois da Altice, viu o MP e o Fisco apreenderem-lhe 14 bólides, na sua garagem, avaliada, a própria garagem, em três milhões de euros, na sua Quinta das Casas Novas, em Guilhofrei, Vieira do Minho, sendo que um dos carros é mais caro meio milhão de euros dos que os mesmos da sua série e marca, apenas porque possui pintura especial.
Hernâni Vaz Antunes com 100 milhões ‘congelados’
Hernâni Vaz Antunes, o empresário bracarense, de 60 anos, que se entregou sábado na PSP de Matosinhos e foi logo transferido para Lisboa, viu ainda arrestados pelo Fisco e o Ministério Público cerca de um 100 milhões de euros das suas contas bancárias, em Portugal, mas admite-se que mais bens móveis possam ser apreendidos, à medida que forem sendo identificados pelo Fisco.
É indiciado, tal como sua filha mais velha, Jéssica Antunes, a par de um outro milionário seu amigo, Armando Pereira, detido quinta-feira, em Guilhofrei, Vieira do Minho, bem como do economista bracarense Álvaro Gil Loureiro, de crime de corrupção ativa no sector privado, fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais, falsificação de documentos e falsas declarações.
Entre os quatro detidos, assim como outros arguidos e alguns suspeitos, varia o número de crimes pelos quais estão indiciados, isto é, ainda não formalmente acusados, relativamente a todos, consoante o envolvimento em cada um de casos, nos negócios, considerados suspeitos pela Equipa Especial do Ministério Público, liderada pelo procurador-geral-adjunto, Rosário Teixeira.
É este o magistrado do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) do Ministério Público, quem em parceria com o inspetor tributário principal bracarense Paulo Silva, está a questionar na tarde desta terça-feira, em Lisboa, o economista Álvaro Gil Loureiro, após o primeiro interrogatório a Jéssica Antunes, faltando ouvir Armando Pereira e Hernâni Vaz Antunes.
As diligências estão a ser presididas pelo juiz de instrução criminal Carlos Alexandre, que depois dos primeiros interrogatórios a todos os quatro arguidos detidos, bem como das respetivas alegações do Ministério Público e dos advogados de Defesa, irá até ao final desta semana, aplicar as medidas de coação, admitindo-se eventuais prisões preventivas e/ou cauções económicas.
Operação Picoas
Nesta fase inicial da Operação Picoas, o Ministério Público, coadjuvado por uma série de inspetores tributários, que é oriunda, na sua génese, da Direção Distrital de Finanças de Braga, tem optado pela apreensão de viaturas tipo de gama, que atingirão o montante global de cerca de 20 milhões de euros, para além do arresto cautelar das contas bancárias de todos os quatro detidos.
Entretanto, as amplas propriedades de ambos os milionários, o bracarense Hernâni Vaz Antunes e o vieirense Armando Pereira, poderão ser igualmente de arretadas judicialmente, quer servindo como cauções carcerárias, a fim de acautelar uma eventual fuga, em caso de medidas de coação que não a prisão preventiva, como cauções económicas, para garantirem as indemnizações.
É que a Altice, que o próprio Ministério Público afirma ter sido alvo de “saque” pelos principais arguidos, então com Armando Pereira à cabeça, enquanto número dois da empresa internacional de telecomunicações, terá sido a principal entidade privada a ser lesada, pelo que se constituirá assistente no processo, quer dizer, fazer a queixa particular e um pedido de indemnização.
O que está em causa
Na Operação Picoas, assim designada por ser naquela zona da cidade de Lisboa que se situa um dos edifícios da Altice que se crê terem sido vendidos em circuito fechado, constituindo em todas as transações de imóveis negócios ruinosos para a Altice, o que está em causa, além da corrupção no setor privado, serão as fraudes fiscais e o consequente branqueamento de capitais.
O chamado Edifício Sapo, situado na Avenida Fontes Pereira de Melo, na zona de Picoas, em Lisboa, foi um dos imóveis que terá sido comprado e revendido entre sociedades comerciais alegadamente criadas por Hernâni Vaz Antunes apenas para obter, de forma ilícita, mais-valias com os negócios, não só defraudando a proprietária original, a Altice, como o ocultando do Fisco.
Mas num emaranhado de ligações familiares, desde as suas origens humildes minhotas, com ligações a vários países europeus, aos Estados Unidos da América e aos Emirados Árabes Unidos, as investigações criminais apontam para um eventual abuso de posição dominante, que consistiria em exigirem contrapartidas para si próprios aos fornecedores de bens e serviços à Altice.
Ostentação e sinais exteriores de riqueza
Segundo apurou O MINHO, para o início deste megaprocesso terão contribuído a ostentação de Armando Pereira e de Hernâni Vaz Antunes, de propriedades faraónicas e uma vida das arábias, conjugada com sinais exteriores de riqueza, da parte de quem os rodeava, sendo que em todos os casos as declarações fiscais não correspondiam de modo algum com as despesas que faziam.
O Ministério Público e a Autoridade Tributária e Aduaneira, auxiliados por cerca de uma centena de agentes da PSP de Lisboa, desencadearam a Operação Picoas, na quinta-feira passada, cujas buscas terminaram no dia seguinte, no Continente e na Região Autónoma da Madeira, em cuja Zona Franca da Madeira, estavam registadas a maioria das empresas dos principais suspeitos.