É um dos casos raros em todo o mundo que pode dizer que viveu duas pandemias. Nascido a 19 de julho de 1916, tinha apenas dois anos quando eclodiu a ‘gripe espanhola’ e, esta segunda-feira, celebra 105 anos com o mundo a braços com uma nova pandemia. Armindo Pimenta é não só o homem mais velho de Vilar do Monte, freguesia de onde é natural, como também o será do concelho de Barcelos.
A data é assinalada com uma festa em família e com direito a foguetes. E não fosse a covid-19, seria uma comemoração maior, com a pompa e circunstância que a ocasião merece.
“Se não houvesse pandemia fazia-se uma festa com mais gente, mas devido ao contexto vai ser apenas família”, conta a O MINHO o genro, José Arantes. “É uma pena não podermos partilhar com mais gente, porque não é qualquer pessoa que chega aos 105 anos”, acrescenta.
Protegido pela família, que ao percebê-lo “assustado” quando lhe falaram da pandemia, Armindo Pimenta sentiu, contudo, o impacto da covid-19, porque as visitas do padre e da senhora que aos domingos lhe ia levar a comunhão acabaram. Mas, para sua alegria, as visitas deverão ser agora retomadas e o pároco, já esta segunda-feira, visitou Armindo Pimenta, nesta data tão especial para a comunidade vilarmontense, orgulhosa de ter entre os seus um homem com tão longa longevidade.
“Ainda hoje bebe o seu copinho de vinho”
E perguntamos, como não podia deixar de ser, qual é, afinal, o segredo para chegar aos 105 anos? “Nunca foi pessoa de excessos”, responde José Arantes, acrescentando que o sogro “ainda hoje bebe o seu copinho de vinho e o café ao fim de comer”. “Mas não é pessoa de exceder-se. Mesmo a comer nunca se excede. Acho que é mesmo o segredo da longevidade”, reforça.
Terceiro de sete irmãos, Armindo Pimenta é o único vivo. Trabalhou toda a vida na agricultura. Ficou viúvo aos 50 anos e casou novamente com Maria Rosa, de 88 anos, com quem teve a única filha, Maria Teresa. Tem três netos: Sara, Licínio e Gonçalo. Há cerca de 20 anos ficou cego devido a problemas de “tensão ocular”.
Só então parou de trabalhar na lavoura, mas ainda assim ia dar de comer aos animais, ia à caixa de correio, etc. “Habituou-se a fazer a rotina sem ver, ia apalpando”, conta o genro.
Armindo Pimenta, de Barcelos, tem 104 anos e já tomou a segunda dose da vacina. “É um alívio”
E é na casa onde mora com a família, um agregado de oito pessoas, que continua a manter as suas rotinas. “Fanático pelo Benfica”, conta a filha Maria Teresa, antes não perdia o relato de um jogo. O rádio era uma grande companhia, onde ouvia também o programa Bola Branca, da Rádio Renascença, e o terço. “Há dois anos começou a perder interesse pelo rádio”, conta a filha, dando conta, no entanto, de que o hábito do terço mantém-se.
“Diariamente reza o terço e até nos pede para rezar com ele”, realça Maria Teresa, feliz por ver o pai celebrar os 105 anos de vida.