Armindo Pimenta tem 104 anos. É o homem mais velho da sua freguesia, Vilar do Monte. E muito provavelmente do concelho de Barcelos. Tomou a segunda dose da vacina contra a covid-19, esta quinta-feira, acompanhado pela esposa, Maria Rosa, de 88 anos. Um “alívio” para a família que, no entanto, vai manter todos os cuidados tomados até agora para que o vírus se mantenha longe.
A chuva caía miudinha quando, perto das 17:00, o genro, José Arantes, estacionava o carro no centro de vacinação instalado na Escola Secundária de Barcelos. Para os idosos não terem que sair do carro, pouco depois a enfermeira Natália Vale Lima saía do edifício e inoculava o casal de idosos.
Primeiro, Maria Rosa. Depois, Armindo Pimenta. “É um privilégio vacinar alguém com 104 anos”, afirma a enfermeira, que já tinha administrado a primeira dose ao casal. Natália Vale Lima realça a O MINHO que o vilarmontense, que celebrará 105 anos no dia 19 de julho, foi a pessoa com mais idade que vacinou.
Administrada a injeção, Armindo Pimenta diz que “não” custou nada. O genro pergunta-lhe se, então, “quer levar outra” e a resposta do idoso vem recheada de humor: “Não, é preciso governá-las”. Como quem diz: a vacina tem que chegar a todos.
E efeitos não notou nenhum. “Estou na mesma”, afirma Armindo Pimenta, enquanto aguarda dentro do carro a meia-hora exigida para o caso de sofrer alguma reação.
“Vamos manter todos os cuidados”
Armindo Pimenta e a esposa receberam a primeira dose a 16 de fevereiro. Foram chamados no próprio dia. “Ligaram de manhã para virmos às 15:00”, conta a O MINHO a filha, Maria Teresa Pimenta, que nem hesitou em levar os pais. “Deixa-nos mais confortáveis, é um alívio”.
O pai “está rijo”, só toma um comprimido por dia – para as tensões. O principal “problema” é não ver há cerca de 20 anos. Por isso, o rádio, através do qual não perdia os relatos do seu Benfica, foi sendo a sua maior companhia, apesar de nos últimos tempos já não “querer saber” do aparelho.
Mas, pese embora Armindo Pimenta se encontrar bem de saúde, devido à sua avançada idade, as consequências de contrair o vírus eram uma grande preocupação da família que, desde o eclodir da pandemia, tomou “todos os cuidados” possíveis.
“Não sai de casa, só para vir aqui [ao centro de vacinação], e não há visitas”, explica a filha única e mãe dos três netos de Armindo Pimenta. Com um agregado de oito pessoas, mesmo depois de os pais já estarem imunizados, Maria Teresa garante que a família vai “manter todos os cuidados”.
Com uma vida dedicada à lavoura, aos 104 anos Armindo Pimenta é a pessoa mais velha de Vilar do Monte, freguesia do concelho de Barcelos, onde por esse motivo é muito acarinhado pela população.
“Toda a gente me diz: aí está um grande homem, que honra a freguesia”, conta Maria Teresa, referindo que o pai é o único vivo de sete irmãos.
O centenário deu conta da pandemia quando a senhora que, todos domingos, por volta das 10:00, lhe ia a casa dar a comunhão deixou de aparecer, em março do ano passado, na primeira vaga da pandemia que, desde então, em Portugal, já infetou mais de 800 mil pessoas e provocou mais de 16 mil mortos.
“Tivemos que lhe explicar porque é que ela deixou de vir”, conta Maria Teresa, recordando que o pai desabafou: “É o fim do mundo”. Felizmente, não acabou, mas mudou muito. Com a vacinação dão-se passos importantes para voltar a ser o que era. E Armindo Pimenta retomar a comunhão dominical.