O Union Saint-Gilloise é um ‘gigante adormecido’ que regressou aos grandes palcos esta época. O clube está a viver um “momento histórico”, depois de décadas afastado do principal escalão belga e os seus adeptos não faltaram à chamada. Vieram cerca de 500 até Braga esta quinta-feira para apoiar a equipa na disputa do primeiro lugar do Grupo D da Liga Europa com SC Braga.
Vestidos de amarelo e azul, estes adeptos belgas não andam em Braga em bando. Uns almoçam tranquilamente às quatro da tarde na Rua do Souto, outros tomam uma água com gás na Brasileira e, claro, há quem não dispense uma cerveja nas solarengas esplanadas da cidade. Foram anunciados 140 polícias para acompanhar estes adeptos, mas, pela tarde, reina a calma e o policiamento é discreto. Posicionamento diferente daquele adoptado na última visita ‘europeia’ com os mais de dois milhares de adeptos do Union Berlim, que tiveram acompanhamento de perto.
O jardim de Santa Bárbara é o ponto de reunião dos mais ruidosos que aquecem os motores para a partida da noite. Há quem improvise jogos para beber com uns dados no chão enquanto não chega a hora de rumar à ‘Pedreira’. Mas, acima de tudo, aproveitam o bom tempo.
Foi (muito) pelo sol português que o belga Gaetan Mandiau rumou a Braga com os amigos. “Viemos, em primeiro lugar, por causa do país. Temos a oportunidade de ir a Malmo ou a Berlim [na fase de grupos da Liga Europa], mas o tempo é aqui é tão bom e quisemos vir apanhar sol”, contou o adepto do Union a O MINHO.
Junto à Arcada, outro ponto de reunião dos adeptos belgas, Abdel Korchie também confessa que veio a Braga a pensar no verão prolongado em Portugal. “Aqui o clima é incrível, na Bélgica está frio”, conta. A seu lado e com a cara pintada a rigor, Ilias Zahid sintetiza: “Viemos aqui para assistir a um bom jogo, sem violência, só queremos ver futebol e passar um bom momento”.
Ambos elogiam a beleza e a “calma” desta “cidade histórica”, enquanto Simon Burgho, sentado na borda do chafariz a beber uma cerveja, confessa que viu pouco das vistas bracarenses. Apenas chegou esta manhã à cidade, depois de dois dias no Porto, mas já fez ‘rali das tascas’. “Não vi muito da cidade, mas vi muito dos bares e os bares em Braga são muito bons. De resto não sei mais nada, só sei que a cerveja nos bares é muito boa”, brinca Simon Burgho.
Este é um adepto ferrenho do clube. “Estive em Glasgow, em Berlim e depois estarei em Malmo. Esta época vou estar em todos os jogos europeus”, conta. Vai a todo o lado com o Union porque o clube está a viver um “momento histórico”. “Há duas épocas estávamos na segunda divisão, na época passada terminamos em segundo [na primeira divisão] e estar agora num jogo europeu é totalmente de loucos para nós”, explica.
Também Ilias Zahid realça o ressurgimento deste ‘gigante adormecido’ que conta com onze títulos de campeão nacional – terceiro clube mais titulado da Bélgica -, mas que passou as últimas décadas na mó de baixo. “Estávamos na II divisão há duas épocas e agora temos aqui 500 adeptos vindos da Bélgica”, destaca. E Gaetan Mandiau acrescenta: “Não estamos nas competições europeias há mais de cinquenta anos e estamos a lutar pelo primeiro lugar do grupo”.
Ilias Zahid reconhece que, para ele, este é um jogo especial, um “grande jogo”. “O Braga está em alta esta época e hoje vamos mostrar o nosso valor ao terceiro classificado do campeonato português. É um dia importante”, nota.
“Mesmo que seja uma derrota, estaremos aqui a beber sem nenhum problema”
Está naturalmente a torcer por uma vitória belga em Braga, mas não desanima se não sair de Portugal com os três pontos. “Esperemos que o Union ganhe, mas se não vencer não há problema”, atira.
Este apoio incondicional parece universal entre os adeptos do Union. “É importante estar aqui com a equipa e vamos acreditar numa vitória, mas mesmo que seja uma derrota, estaremos aqui a beber sem nenhum problema”, afirma Simon Burgho. Outro adepto belga, Gaetan Mandiau, explica que esta postura “positiva” no futebol é o lema dos apoiantes do Union. “Somos sempre positivos, mesmo que percamos o jogo, vamos ser sempre positivos para os jogadores, porque eles suaram as camisolas”.
Simon Burgho acrescenta que, mesmo que o Union perca “3-0 contra uma equipa de porcaria no campeonato belga”, os adeptos “vão estar lá a cantar”. “Nunca assobiamos um jogador nosso, isso nunca acontece no Union”, diz.
A três horas do jogo, Gaetan Mandiau não tem problemas em admitir que o SC Braga é “melhor” e podem “perder”. “Mas não há problema”, garante. Simon Burgho vê com naturalidade que o primeiro lugar fique para o Braga e que, para o Union, o segundo lugar é “um sonho”.
“Assim conseguimos continuar a lutar para ficar na Liga Europa e, mesmo caiamos para Liga Conferência, está tudo bem para esta equipa. E mesmo que fiquemos em último do grupo e abandonemos as competições europeias, está tudo bem”, afirma.
Afinal, e apesar do apoio incondicional ao Union, está em Braga “não só pelo clube”, mas por toda a “atmosfera”. “Isto não é só o jogo. Há um antes, um durante e um depois do jogo, é um grande momento que vives quando vais apoiar o Union, não são só os 90 minutos. São muitas cervejas, conhecemos amigos… Nós não conhecemos estas pessoas aqui, mas estamos aqui a falar com eles. É uma grande família”, conclui.