“Ainda é cedo para se saber se há ou não em Portugal minerais com lítio em quantidade para serem explorados em minas rentáveis”. Quem o diz é Carlos Leal Gomes, geólogo da Universidade do Minho, a propósito da abertura de concurso para a prospeção de lítio em Portugal.
O especialista considera que a fase de prospeção não traz grandes problemas ambientais, mas o mesmo pode não acontecer na fase mineira, com eventuais perturbações nos aquíferos e no território, logo na vida diária das populações.
Questionado por O MINHO, sobre as possibilidades de existência de lítio na concessão ‘Seixoso-Vieiros’, que abrange Celorico de Basto, Fafe, Guimarães, Felgueiras (Lixa), Amarante e Mondim de Basto, o investigador diz que se desconhece se há minerais com lítio suficiente para se abrirem minas, mas lembra que a região tem uma tradição mineira, com o estanho e ainda com o aproveitamento de resíduos cerâmicos. “Não me admiro que as populações da zona se não oponham e não haja contestação, pois têm essa tradição”, diz.
Acentua que “só se pode falar verdadeiramente de extração de lítio depois de feita a prospeção e de se confirmar que pode haver rentabilidade para as empresas investirem”. De qualquer modo, mesmo que haja possibilidade de extração do lítio, o processo – salienta – vai demorar vários anos, pois “não se põe uma mina moderna a funcionar de um dia para o outro”
Diz que, nos casos em que isso vier a suceder, as minas têm de ser rentáveis para o investidor, mas também trazer compensações para o Estado e para as populações.
Esclarece que o lítio aparece incorporado em minerais como a tetalite – cuja existência, por exemplo, na serra de Arga foi o primeiro geólogo a detetar – e o espoduménio, de onde terá retirado, através de uma ‘refinaria’, a que prefere chamar de ‘metalúrgica’, defendendo ser preferível a sua construção em Sines, que tem ligações ferroviárias e porto de mar e de onde se pode exportar ou importar o lítio.
Pode haver impactos negativos
Sobre o problema do eventual impacto ambiental das futuras minas, Carlos Legal Gomes sublinha que, nesta fase de prospeção, o problema quase não se põe, mas o mesmo já não sucederá com grandes minas a céu aberto: “Aqui será preciso agir com cuidado porque está em causa a água para consumo humano e para a agricultura, e também será necessário acautelar os impactos no território e no bem-estar das populações”.
“Na zona norte temos densidades populacionais em zonas agrícolas de 14 habitantes por metro quadrado”, acentua.
A concluir diz que o lítio pode ser um novo impulso económico, mas realça que não será “a salvação da pátria”. Em sua opinião, “melhor seria de Portugal tivesse grandes jazidas de ouro ou mesmo de volfrâmio, como sucedeu outrora”.