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Artigo de Liliana Vaz de Carvalho
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define zoonoses como “Doenças ou infeções naturalmente transmissíveis entre animais vertebrados e seres humanos” (OMS, 2016). Assim no mês de julho comemora-se o Dia Mundial das Zoonoses e a OMS designou 6 de julho como dia oficial, em comemoração ao que aconteceu em 1885 na França, quando o cientista Louis Pasteur aplicou a primeira vacina contra a raiva num menino de 9 anos que tinha sido mordido por um cão infetado com raiva. Nessa data e graças à vacinação o menino sobreviveu.
Inserida no conceito de “Uma Só Saúde”, reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a interdependência das saúdes humana, animal e ambiental, a preocupação com as zoonoses é mundial e secular, mas ganhou destaque na comunicação social e população em geral com a pandemia provocada pelo Covid-19.
As zoonoses são então doenças infeciosas naturalmente transmissíveis de animais para seres humanos. A estreita interação entre homens e animais, bem como o aumento da atividade comercial e a mobilidade de pessoas num mundo global, animais e seus produtos, levaram a uma maior propagação desses agentes e, apesar dos avanços verificados no seu controlo, sua incidência permanece alta em todos os países.
Em relatório, lançado no Dia Mundial das Zoonoses, em 6 de julho de 2020, a Organização das Nações Unidas (ONU) identificou a abordagem “One Health” como a melhor forma de prevenir e responder aos surtos de doenças zoonóticas e futuras pandemias. O documento intitulado “Prevenir a Próxima Pandemia: Doenças Zoonóticas e Como Quebrar a Cadeia de Transmissão”, é um esforço conjunto do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. É assim uma data importante para lembrar que a prevenção de doenças em animais não apenas protege a sua saúde e bem-estar, mas é uma das medidas mais eficazes que podemos tomar para proteger a saúde das pessoas. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), existem mais de 200 tipos de zoonoses. Mais de 60% das doenças infeciosas humanas têm sua origem em animais e por todo o mundo as zoonoses respondem por 62% da Lista de Doenças de Notificação Obrigatória, 60% dos patógenos reconhecidos (vírus, bactérias, protozoários, parasitas, fungos, priões) e 75% das doenças emergentes.
As zoonoses geram impactos não apenas à saúde pública, mas também causam graves perdas económicas. A busca de soluções para esses problemas, dada a sua complexidade, implica uma abordagem de cooperação e requer contribuição, intervenção e colaboração de equipas profissionais dos setores da saúde humano, animal e ambiental.
Nesse sentido, os governos precisam formular e adotar políticas de saúde pública que levem em consideração os vários fatores que aumentam o risco e dificultam o controlo das zoonoses, tais como, mudanças climáticas, incêndios florestais que afetam a biodiversidade genética da vegetação e a destruição do habitat animal, aumento da relação entre humanos e animais selvagens, animais abandonados nas vias públicas, viagens intercontinentais, entre outros.
A transmissão do agente pode ocorrer de forma direta, principalmente através do contato com secreções (saliva, sangue, urina, fezes) ou contato físico, como arranhaduras ou mordeduras. De forma indireta, pode acontecer por meio de vetores como mosquitos, pulgas e carraças, por contato indireto com secreções, pelo consumo de alimento contaminado com o agente (viral, bacteriano, fúngico ou parasitário), entre outras.
As ações de prevenção de zoonoses caracterizam-se por serem executadas de forma temporária ou permanente, dependendo do contexto epidemiológico, por meio de ações, atividades e estratégias de educação em saúde, maneio ambiental e vacinação animal. Os métodos de prevenção de doenças zoonóticas diferem para cada agente patogénico, mas várias práticas são eficientes na redução do risco nos níveis comunitário e pessoal (cuidado com os animais no setor agropecuário ajudam a reduzir o potencial surto de zoonoses de origem alimentar por ingestão de carnes, ovos, laticínios ou mesmo vegetais; água potável e remoção de resíduos, bem como proteções para águas superficiais no ambiente natural; campanhas educativas para promover a lavagem das mãos após o contato com animais e outros ajustes comportamentais, p.e.)
Existe um sistema global, com base no conceito de Uma Só Saúde, em que a OMS colabora com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e a Organização Mundial para a Saúde Animal (OIE) no Sistema Global de Alerta (Glews). O sistema conjunto permite o alerta precoce, prevenção e controlo de ameaças de doenças animais, incluindo zoonoses, por meio da partilha de dados e avaliação de risco:
Ao médico-veterinário compete intervir em todas as fases da cadeia produtiva de alimentos de origem animal, garantindo sua sanidade (livre de agentes patogénicos) e qualidade sanitária (livre de contaminantes) para a sociedade. Na área clínica, atuando no diagnóstico das zoonoses, prevenção de enfermidades com vacinação e orientação para reduzir o abandono e o número de animais de rua, por exemplo, o médico-veterinário promove os benefícios do vínculo humano-animal.