O Presidente da Ucrânia, Vlomodmyr Zelensky, apelou hoje ao povo português para continuar a apoiar o povo ucraniano e pediu mais ajuda em termos de fornecimento de material militar e ajuda humanitária.
Numa intervenção, via videoconferência, na Assembleia da República, que teve início às 17:00 horas desta quinta-feira, considerou ainda que Portugal pode ser uma ajuda importante para a adesão da Ucrânia à União Europeia.
“Eu estou grato pela oportunidade de poder falar no Parlamento português. É um tempo muito complicado. Ontem, encontraram mais duas sepulturas, uma das quais com um senhor e uma rapariga de 15 anos. Noutra estavam seis corpos mortos. Foram sepultados no meio das habitações”, começou por contextualizar o governante ucraniano, afirmando que os russos estão a cometer genocídio e matam, torturam e violam pessoas “só para se divertirem”.
Referiu ainda que várias crianças foram mantidas em cativeiro, sem possibilidade de utilizarem casas de banho, e ainda foram obrigadas a cantar o hino russo, para divertimento dos militares a mando de Putin.
“Em 57 dias de guerra desocupamos cerca de 1000 lugares ocupados pelos russos. Contudo, a quantidade de cidades que os russos estão a bombardear é muito grande, destroem habitações, estruturas civis, aquilo que a Ucrânia precisa para sobreviver, escolas, universidades e até igrejas”, denunciou.
“Imaginem se Portugal todo abandonasse o país. As nossas pessoas não são refugiadas. Foram obrigados temporariamente a sair, e esperamos que em breve regressem à nossa Ucrânia. Esperamos que depois seja diferente, mas não podemos dizer quando isso irá acontecer”, admitiu.
Disse ainda que em Mariupol, que “é do tamanho de Lisboa”, não existe uma habitação inteira: “Foi cercada pelos russos e tornou-se um inferno, sem água, alimentação, com bombardeamentos constantes pelos russos”, revelou, acrescentando que “os russos sabiam muito bem que não havia lá nenhum local militar. Foram mortas mais de 10.000 pessoas, colocaram crematórios para queimar os corpos e esconder as provas dos crimes de guerra”.
“Portugueses apelamos coisas simples, armamento para nos defendermos de forma forte e ajudar a desocupar as cidades invadidas pela Rússia. Este mal é igual ao que foi feito na II Guerra Mundial, e nós pedimos tanques, armas antinavio e tudo o que possam ajudar. Apelo ao vosso país para que nos ajudem com reforço das sanções e com apoio militar, de armamento. Precisamos que as empresas que ainda trabalhem na Rússia, saiam de lá”, disse.
Louvou ainda o apoio à Ucrânia e espera que Portugal defenda o embargo ao petróleo da Rússia e que Portugal se junte à União Europeia “para bloquear os bancos russos, para que não se escondam com outras bandeiras”.
E agradeceu: “Agradeço por todo o apoio aos ucranianos, ajuda humanitária, sei que os nossos povos se compreendem e conhecem muito bem”.
“Obrigado por tudo o que fazem dentro das vossas possibilidades, e por terem defendido a soberania, conseguindo transmitir essa mensagem a outras países. Lutem contra a propaganda russa nos países que estão próximos a vocês, os países falantes do português”, apelou.
E, com uma questão, voltou a avisar: “Porque é que a Rússia começou a guerra? Para controlar a Europa e destruir a democracia na Ucrânia. Mas somos fortes. Tivemos duas revoluções que pararam a ditadura da Ucrânia. E por isso esperamos que essa ditadura, não só na Ucrânia mas em todos os países, que querem seguir em liberdade”.
“O vosso povo vai celebrar aniversário da revolução dos Cravos que tirou da ditadura, sabem bem o que estamos a sentir. Depois da Ucrânia, vão à Moldávia, Geórgia, Países Bálticos, onde quer que possam colocar as mãos”, advertiu.
“Espero que os políticos apoiem o nosso país, para que sejamos livres. Os civilizados devem apoiar os civilizados. E acredito que vocês vão nos apoiar, porque a Ucrânia já vai a caminho da União Europeia, e peço-vos que nos apoiem nesse caminho. Vocês estão a Oeste e nós a Leste, mas as visões são iguais, de uma ponta à outra, com valores iguais, sem qualquer ditadura e para saudade”, acrescentou.
“Obrigado Portugal, Glória à Ucrânia”, terminou.