“Vou ter de me desempregar”, diz utente da linha de autocarro Porto-Braga fechada pela Área Metropolitana do Porto

Foto: Transdev

Uma utente da linha de autocarro Porto-Braga, via auto-estrada A3, encerrada na sexta-feira pela Área Metropolitana do Porto (AMP), escreveu, pedindo ajuda, ao presidente da CCDR-Norte, António Cunha, dizendo que, se o serviço não for reposto, vai ter de se desempregar.

“No meu caso particular, posso-lhe dizer que, caso esta situação se mantenha, não terei como conciliar a minha vida familiar (gerir escolas dos filhos etc) com as alternativas de transporte restantes, e desta forma vou ser obrigada a desempregar-me”, diz Catarina Gomes, investigadora no I3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, da Universidade do Porto . E a CIM Cávado emitiu, hoje, um comunicado, na qual apelida a decisão da AMP de “injustificável”!

A bracarense – que integra uma Comissão de Utentes – salienta que escreve o email “em nome de centenas de utilizadores que usam o transporte Braga-Porto-Braga, atualmente operado pela Cávado mobilidade, e que hoje, para surpresa e desespero de muitos, tivemos conhecimento de uma decisão de última hora de encerramento desta linha”.

“Esta situação é deveras preocupante e, na nossa opinião, não consciente do impacto dramático na vida de centenas de pessoas. Passo a enumerar a importância deste transporte para centenas de pacientes, muitos deles debilitados, de instituições como o Hospital de São João e IPO-Porto; estudantes universitários que cada vez mais se vêm obrigados a recorrer a este meio de transporte devido às dificuldades mais que reconhecidas no arrendamento e do baixo poder económico das famílias nos dias que correm”, sublinha.

E acrescenta: “prejudica, ainda, “inúmeros trabalhadores que não têm outras alternativas e que, quer por impossibilidade financeira em optar por transporte pessoal quer por questões de vida pessoal familiar que não são compatíveis com horários e trajetos operados pelas poucas opções disponíveis, se vêm numa situação assustadora no que diz respeito à continuidade das suas obrigações laborais”.


Cenário gravoso

E a concluir, anota: “Só antevejo um cenário muito gravoso para todos os utilizadores habituais, e que neste momento, esta linha já contava com cerca de duas dezenas de titulares de passe mensal. Espero que este email tenha retratado a situação lamentável e acima de tudo muito preocupante para todos nós utilizadores, e que possa contar com a sua ajuda no que diga respeito a encontrar uma solução rápida de continuidade desta linha”.

Conforme vimos noticiando, na quinta-feira, a Comunidade Intermunicipal do Cávado (CIM-Cávado) pediu à Área Metropolitana do Porto que não encerre a linha de autocarro Braga/Porto (via auto-estrada A3) que é usada diariamente por centenas de pessoas. Mas o organismo portuense diz que não volta atrás: “A nova rede UNIR não contempla linha equivalente com ligação entre Braga e Porto, pelo que esta deixará de ser assegurada, a partir de 01 de dezembro, pelas linhas da AMP” , respondeu.

“Lamentável. Espero que AMP cumpra as suas obrigações legais e dê sequência a este serviço”, declarou ao O MINHO, o presidente da CIM-Cávado e da Câmara de Braga, Ricardo Rio.

Por sua vez, Ariana Pinho, secretária-executiva da AMP disse que “a manutenção da linha compete à CIM do Cávado ou à do Ave” e garante que, desde 2019 a rede da AMP não contempla essa ligação, até porque ela serve, maioritariamente os cidadãos da zona de Braga ou do Vale do Ave: “não há acordo nenhum nesse sentido. É uma licença provisória que agora caduca com a entrada definitiva da nossa rede”, salientou.

Esta tese é rejeitada pela CIM-Cávado que lembra o protocolo assinado em 2019 entre as duas entidades, no qual se diz que a contratação da Linha tem em conta a zona com mais quilómetros, ou seja, a do Porto.

E pede à Área Metropolitana que a reabra

Hoje, em comunicado, a Comunidade Intermunicipal (CIM) do Cávado apelidou de “injustificável” a decisão da Área Metropolitana do Porto (AMP) de acabar com a linha de autocarro entre Porto e Braga que funcionava desde 2019.

“ Do ponto de vista da Coesão Territorial, e das obrigações que a AMP tem para com as entidades intermunicipais congéneres e com toda a região Norte, esta decisão é injustificável”, diz a CIM, em comunicado.

O organismo que agrega os municípios do Càvado (Esposende, Barcelos, Braga, Vila Verde, Amares e Terras de Bouro) acentua que se justifica que a AMP adote medidas extraordinárias que assegurem a sua manutenção, como as da contratualização deste serviço dentro da rede Unir; ou em articulação com a Autoridade da Mobilidade e Transportes, IP, da prorrogação da vigência da autorização provisória, ou ainda através de qualquer outra medida que mantenha em funcionamento a First Class – Carreira 1108 – Braga – Porto (pela A3).

AMP favorecida nos fundos europeus

Sustenta que “não se pode esquecer que a AMP é, constantemente, favorecida ao nível dos fundos europeus. Veja-se, por exemplo, a atribuição de mais de 300 milhões de euros, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência, para apoiar as Comunidades Desfavorecidas, que a CIM do Cávado ou Ave não receberam ou a discrepância de valores propostos em sede de contratualização com o Norte 2030”.

E acentua: “Quando falamos do financiamento de transportes públicos de passageiros (Programa PART), a AMP tem uma dotação orçamental para 2023 aproximadamente 10 vezes superior à da CIM Cávado (AMP – 22, 7 milhões, CIM Cávado – 2, 4). E este financiamento serve para apoiar não apenas medidas de redução tarifária, mas também, iniciativas de aumento da oferta de serviço ou de extensão da rede”.

Acresce ainda, prossegue a nota de imprensa que, “de acordo com os dados de procura que a AMP dispõe, esta linha estará próxima de estar equilibrada financeiramente, pelo que o défice de exploração, a existir, será certamente reduzido ou mesmo nulo”.

E o lado humano?

E prosseguindo, anota: “é pelo lado humano que mais impressiona esta decisão uma vez que a AMP cessa, de forma abrupta e injustificada, uma linha que serve milhares de utentes. Conforme referido em diversas instâncias, o serviço supracitado é de grande relevância para as populações com a venda de aproximadamente 1500 passes e 18 mil bilhetes de bordo, em cada ano.

Soma-se a isto – anota – o facto de o serviço permitir o acesso, entre outros, ao Hospital de S. João e ao Instituto Português de Oncologia, bem como, a diversas instituições de ensino superior”.

Para a CIM, a suspensão, ainda que temporária, deste serviço – que entrou em vigor sexta-feira – coloca diretamente em causa o direito à mobilidade das populações”.

 
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