O pelotão da 81.ª Volta a Portugal em bicicleta vai para a estrada na quarta-feira, num prólogo em Viseu, e terá como grandes momentos de definição as subidas à Torre, Serra do Larouco e Senhora da Graça. Domingos Gonçalves, de Barcelos, e José Mendes, de Guimarães, são figuras a ter em conta na prova, que volta a passar pelo Minho.
Com um total de 1.531,3 quilómetros cronometrado, o campeão da 81.ª edição terá atravessado mais montanha para escalar em relação a anos anteriores, mesmo que apenas uma contagem de montanha de categoria especial, num percurso marcado pelo regresso de várias cidades ao ‘roteiro’ da prova.
A Senhora da Graça, na nona e penúltima etapa, será o derradeiro teste nas alturas, antes de um ‘crono’ individual que pode ser decisivo, no Porto em 11 de agosto, mas antes já a Serra do Larouco e a Torre, na Serra da Estrela, deixaram marcas nas pernas do pelotão, com menos oportunidades para ‘sprintar’ em relação a anos passados.
Pela terceira vez em 81 edições, mas também pela terceira vez nesta década, a prova parte de Viseu, após 2010 e 2015, para um prólogo que definirá as primeiras diferenças entre o pelotão.
O primeiro líder vai defender a camisola amarela numa ligação que parte da ‘estreante’ Miranda do Corvo até Leiria, com a primeira contagem de montanha, na Serra da Lousã, a marcar o caminho até à 19.ª chegada leiriense.
O dia mais longo liga a Marinha Grande, de volta após 29 anos de fora, a Santo António dos Cavaleiros, em Loures, com um final com ligeira ascensão a poder afastar os ‘sprinters’ mais puros, com mais hipóteses na terceira etapa, entre Santarém e Castelo Branco (194,1 quilómetros), no primeiro sábado.
No domingo chega o primeiro grande teste para a geral e um dos momentos de maior ‘espetáculo’ do traçado: a subida à Torre, pelo lado mais complicado, entre a Pampilhosa da Serra e a Covilhã, onde os candidatos se vão mostrar ou ‘falhar’ a contagem.
Antes do dia de descanso, a 07 de agosto, há uma ligação entre Oliveira do Hospital e a Guarda, com uma escalada final que pode apresentar dificuldades aos mais afetados pela Torre.
Torre de Moncorvo não recebe uma partida desde a segunda edição, em 1931, e regressa este ano para uma ligação que começa naquele município e vai terminar em Bragança, com nova chegada ao ‘sprint’ esperada.
Aquela capital de distrito marca a partida para a sétima etapa, no dia 08 de agosto, que terá nova grande dificuldade para os favoritos à vitória final, com a subida à Serra do Larouco, em Montalegre, numa tirada a passar pelo Parque natural de Montesinho antes das subidas a Torneiros e ao Larouco.
Um dia menos exigente entre Viana do Castelo e Felgueiras, na oitava etapa, antecede a etapa ‘rainha’, a ligação entre Fafe e a Senhora da Graça, no sábado, dia 10, ao longo de 133,5 quilómetros.
Apesar de ser a mais curta tirada da 81.ª edição, este será o derradeiro embate na montanha para aqueles que ainda disputarem a prova, com três prémios de montanha de primeira categoria dentro dos últimos 75 quilómetros, em Mondim de Basto, antes da ‘mítica’ subida da prova portuguesa.
No final, o Porto regressa 30 anos depois para receber um contrarrelógio de 19,5 quilómetros que parte de Vila Nova de Gaia e atravessa o rio Douro para definir o vencedor final, em plena Avenida dos Aliados.
As figuras
Domingos Gonçalves, Por (Caja Rural, Esp): Em ano de regresso à Caja Rural, o antigo campeão português de fundo quererá pelo menos igualar a prestação em 2018, quando venceu uma etapa e acabou em nono da geral final, após um ano discreto nos espanhóis e o ‘azar’ na Volta a Catalunha, que abandonou logo à primeira etapa, afetando a temporada do ciclista de Barcelos.
José Mendes, Por (Sporting-Tavira, Por): O vimaranense é outro dos regressos a Portugal para o pelotão de 2019, sagrando-se campeão nacional de fundo pela segunda vez em junho, chegando com a moral elevada à maior prova velocipédica portuguesa. Depois de um 22.º lugar na ‘Vuelta’ de 2013, Mendes é outro dos nomes a dar garantias ao Sporting.
Vencedor das últimas edições da Volta a Portugal de fora em 2019
Gustavo Veloso, Esp (W52-FC Porto): Inscrito de ‘emergência’, após a lesão de Raúl Alarcón afastar o campeão de 2017 e 2018 da prova, os ‘dragões’ chamaram o ‘veterano’, que também venceu duas edições, em 2014 e 2015, para ser uma das armas na prova.
Embora já não seja o ciclista dominador de outros anos, aos 39 anos o espanhol tem a experiência necessária, e o conhecimento dos pontos fulcrais da prova, para liderar o esforço ‘azul e branco’ na tentativa de prolongar um domínio vitorioso que se arrasta desde 2013.
Jóni Brandão, Por (Efapel): Depois de dois anos no Sporting-Tavira e de ficar em segundo lugar na Volta a Portugal em 2018, Jóni volta a ser o grande candidato português à conquista da prova, agora de regresso à Efapel, que já tinha representado por quatro temporadas.
Aos 29 anos, venceu uma etapa no GP Beiras, que acabou no terceiro lugar, e foi quinto classificado na prova de fundo dos Nacionais, somando várias vitórias também no Grande Prémio Jornal de Notícias, num ano que terá nova ‘prova de fogo’ atrás da conquista da maior ambição, e os olhos postos em si como a ‘esperança’ para quebrar o domínio da W52-FC Porto.
Alejandro Marque, Esp (Sporting-Tavira, Por): Excelente contrarrelogista – foi terceiro nos Campeonatos de Espanha em 2012 -, o espanhol transformou-se num ciclista completo e venceu a Volta a Portugal de 2013, triunfo que lhe abriu as portas da Movistar.
Contudo, o sonho do WorldTour virou pesadelo e um controlo antidoping, do qual foi absolvido, deixou-o sem competir um ano, regressando em 2015 para ser terceiro na Volta.
Aos 37 anos, vai ‘lutar’ pelo lugar de líder com Nocentini, Tiago Machado e José Mendes, no terceiro ano no Sporting-Tavira e após um desapontante 13.º posto em 2018, ano em que venceu a segunda parte da Volta à China, tendo conseguido, à porta da Volta, um oitavo lugar no Troféu Joaquim Agostinho.
Sérgio Paulinho, Por (Efapel, Por): Um dos mais experientes ciclistas do pelotão nacional perdeu este ano o estatuto de chefe de fila da Efapel, para o regressado Joni Brandão.
Nono na Volta de 2017 e medalha de prata nos Jogos de Atenas2004, o terceiro mais velho em prova (39 anos) não deixa de ser importante para o conjunto de Lousa, depois de muitos anos a ‘escudar’ Alberto Contador e a vencer etapas em grandes Voltas, no Tour (2010) e Vuelta (2006).
Henrique Casimiro, Por (Efapel, Por): O ‘veterano’ de afirmação tardia teve de esperar até aos 32 anos, em 2018, para a primeira vitória profissional, no Alto de Montejunto no Troféu Joaquim Agostinho. Este ano, fez ainda melhor e venceu a prova, num ano em que se ‘mostrou’ também no Grande Prémio das Beiras.
Oitavo na Volta em 2017 e sétimo em 2016, Casimiro deverá ser um dos grandes nomes da Efapel para tentar resgatar uma primeira vitória desde 2012, ao lado do líder Joni Brandão e de outro ‘veterano’, Sérgio Paulinho.
Vicente García de Mateos, Esp (Aviludo-Louletano, Por): Seis etapas conquistadas nos últimos quatro anos e dois terceiros lugares consecutivos na geral final fazem de De Mateos um dos grandes candidatos à vitória final da prova.
Depois de dar nas vistas em 2014 ao ser expulso da prova, ao trocar golpes com Enrico Rossi, o espanhol encontrou-se com o ciclismo e redimiu-se, tendo vindo a deixar as raízes do ‘sprint’ para se assumir como um candidato às gerais finais, chegando à 81.ª edição com toda a equipa algarvia a protegê-lo.
Rinaldo Nocentini, Ita (Sporting-Tavira, Por): O mais velho entre os corredores das equipas portugueses, a pouco menos de dois meses de fazer 42 anos, continua sempre a surgir como um dos candidatos ao triunfo final, com um currículo que fala de si, depois de andar de amarelo no ‘Tour’ e ser segundo do Paris-Nice em 2008.
Ao lado do antigo vencedor Alejandro Marque, de José Mendes e de Tiago Machado, Nocentini é outra das armas de Vidal Fitas para atacar a geral, ainda que tenha tido um ano discreto em 2019.
Edgar Pinto, Por (W52-FC Porto, Por): Quarto classificado da Volta em 2018, Edgar Pinto teve este ano, em que se mudou para os ‘dragões’, uma temporada de vários destaques, o maior de todos o quinto lugar final na Volta a Turquia, uma prova de escalão WorldTour.
O quarto lugar na Volta às Astúrias e o quinto na Volta a Aragão atestam a boa forma do corredor, cuja experiência na Volta pode servir para colmatar a ausência de Alarcón.
Ricardo Mestre, Por (W52-FC Porto, Por): Vencedor da prova em 2011, Mestre é outro dos corredores que poderá beneficiar da incerteza quanto às condições físicas de Alarcón no seio dos ‘azuis e brancos’, num ano em que foi vice-campeão nacional de fundo e tem sido peça importante para Nuno Ribeiro.
Tiago Machado, Por (Sporting-Tavira, Por): Regressado a Portugal após quase uma década a correr na Europa no escalão WorldTour, Tiago Machado é um nome a ter em conta em qualquer prova, tendo como objetivo vencer a Volta que escapa aos ‘leões’ desde o regresso à modalidade, podendo beneficiar de uma estratégia aberta de Vidal Fitas no seio dos ‘verdes e brancos’, após um ano de regresso irregular.
João Rodrigues, Por (W52-FC Porto, Por): A jovem revelação dos ‘dragões’ pode ser o ‘joker’ do diretor desportivo Nuno Ribeiro face à ausência de Raúl Alarcón. Aos 24 anos, começou por dar nas vistas na Volta ao Algarve, que terminou em nono lugar de uma geral final preenchida por nomes do pelotão mundial, antes de vencer a Volta ao Alentejo em março.
Brice Feillu, Fra (Arkéa Samsic, Fra): O veterano francês é uma das figuras das equipas estrangeiras que vão correr a Volta, sobretudo por ter sido sexto classificado em 2012. Sete anos depois, o ciclista de 34 anos, vencedor de uma etapa da Volta a França em 2009, lidera um bloco da Arkéa que pode intrometer-se na luta pela geral
Óscar Sevilla, Esp (Medellín, Col): O mais velho corredor em prova é também o mais reputado, uma vez que Sevilla foi já vice-campeão da Volta a Espanha, ainda que esse resultado tenha surgido há 18 anos, numa carreira profissional que arrancou em 1998. Esta época, já conseguiu quatro pódios em provas de dimensão similar à Volta a Portugal e quererá acrescentar novo ‘brilho’ ao palmarés.
Os números
0: equipas do World Tour, o escalão principal do ciclismo.
1: dia de descanso (06 de agosto, após seis dias de competição).
3: número de corredores cujo tempo conta para a classificação por equipas.
3: chegadas em alto (4.ª, 7.ª e 9.ª etapas).
3: vencedores de edições anteriores presentes (Gustavo Veloso, Alejandro Marque e Ricardo Mestre).
4: camisolas em disputa – amarela (geral individual), verde (pontos), azul (montanha) e branca (juventude).
5: equipas profissionais continentais (W52-FC Porto, Arkéa Samsic, Israel Cycling Academy, Euskadi-Murias e Caja Rural), o segundo escalão do ciclismo.
5: recorde de vitórias (David Blanco).
6: extensão em quilómetros do prólogo, em Viseu.
7: máximo de ciclistas por equipa.
10: segundos de bonificação atribuídos ao vencedor de todas as etapas em linha. O segundo classificado recebe seis segundos e o terceiro quatro.
11: dias de competição.
19: equipas participantes (9 portuguesas, 3 espanholas, 1 francesa, 1 israelita, 1 colombiana, 1 letã, 1 sul-africana, 1 angolana, e 1 suíça).
19,5: extensão em quilómetros do contrarrelógio individual (10.ª).
33: contagens do prémio da montanha (1 de categoria especial, 6 de primeira categoria, 5 de segunda, 11 de terceira e 10 de quarta).
27: metas volantes.
42: idade do espanhol Óscar Sevilla, o ciclista mais velho em prova.
125: pontos atribuídos ao vencedor para o ‘ranking’ Continental da União Ciclista Internacional.
133: número máximo de corredores.
133,5: extensão em quilómetros da etapa mais curta (excluindo os contrarrelógios), entre Fafe e a Senhora da Graça (9.ª).
198,5: extensão em quilómetros da etapa mais longa, entre Marinha Grande e Loures (2.ª).
1.531,3: extensão total em quilómetros.
1.952: maior altitude (metros), na Torre, Serra da Estrela, na chegada da 4.ª etapa.
3.060: prémio em euros para o vencedor da cada etapa, com exceção do prólogo (1.490).
16.045: prémio em euros para o vencedor final.
128.790: valor total dos prémios em euros.
A 81.ª edição da Volta a Portugal arranca na quarta-feira com um prólogo em Viseu, terminando no dia 11 de agosto no Porto, após um contrarrelógio individual iniciado em Vila Nova de Gaia.