Francisco Trincão anda nas bocas do mundo depois de ter sido oficializado nos espanhóis do FC Barcelona, esta sexta-feira, num negócio que rendeu cerca de 30,9 milhões de euros ao SC Braga.
Para além deste valor, os arsenalistas, fruto da regra de mecanismo de solidariedade (onde os clubes formadores têm direito a uma percentagem do valor de uma eventual transferência), vão ainda receber mais de 1,5 milhões de euros. Já o SC Vianense, clube onde o avançado deu os primeiros toques na bola, não receberá qualquer quantia.
Rui Pedro Silva, presidente do Vianense, confirmou a O MINHO que o clube que lidera a 1.ª divisão distrital de Viana não está incluído no período temporal que permite compensar os clubes formadores.
“Se o Francisco tivesse jogado mais um ano no Vianense, receberíamos, mas desta forma, não”, vinca. A explicação? A regra do mecanismo de solidariedade apenas abrange clubes onde o jogador tenha alinhado entre os 12 e os 23 anos. Trincão saiu do Vianense com 11, rumo ao SC Braga.
Para o presidente, o período deveria ser alargado: “Os miúdos começam a prática de uma forma oficial [com registo na Federação Portuguesa de Futebol], a partir dos cinco anos. Mas os clubes só são recompensados a partir dos 12 anos e isso não me parece justo”.
Rui Pedro Silva recorda que os clubes estão ligados aos jogadores durante muitos anos e não tiram dividendos quando existe “este tipo de operações”. “Não podemos esquecer que os clubes, como é o caso do Vianense, contribuem com financiamento para a formação, logo seria da mais elementar justiça que esses clubes tivessem uma recompensa, mesmo que fosse um valor percentual menos significativo”, reforça.
“Francisco era um miúdo exemplar”
“Um miúdo exemplar”. É desta forma que o dirigente de Viana recorda um esguio “Francisco”, produto de “uma bela fornada” de juvenis durante a época de 2009/2010.
“Jogava o Francisco e o Pedro Neto [Wolverhampton], que jogavam muito bem e que, infelizmente, o Vianense não conseguiu segurar, nem que fosse mais um ano, para obter dividendos”, atira.
O dirigente destaca ainda, dessa mesma fornada, Diogo Brito [atualmente no Episkopi, do campeonato grego] e Tomás Silva, do Sporting.
Rui Pedro Silva, à época, era o coordenador da formação do clube que hoje preside. E assegura que, na altura, já se vislumbrava uma “carreira de relevo” para Trincão, confirmada ao longo do último ano.
“O grupo era muito bom, de muita valia técnica, de qualquer forma ele distinguia-se desde logo por ser um jogador esguio, esquerdino com qualidade técnica apurada, por ser inteligente, um bom finalizador, bom a assistir, mas, acima de tudo, pelo comportamento social”, recorda o antigo coordenador.
No aspecto social, recorda um “miúdo muito educado, correto, cumpridor com os atletas e com o staff técnico” e um “bom acompanhamento” por parte dos pais.
“Não era o típico pai do atleta da formação que vemos hoje em dia, em que coloca muita pressão sobre o miúdo, sobre o staff e sobre a estrutura de coordenação do clube”, garante.
Pela voz do coordenador, os pais de Trincão não pressionavam, pedindo ao atleta que se “divertisse e desfrutasse” do jogo. “Acho que a carreira que o Francisco fez também acaba por resultar da abordagem dos pais ,que me parece a mais correta”, vinca.
Internacional pelos escalões mais jovens de Portugal, Trincão sagrou-se campeão europeu de sub-19 em 2018, prova na qual foi o melhor marcador, preparando-se para ingressar a partir de 01 de julho no Barcelona, que ‘segura’ o jogador com uma cláusula de rescisão no valor de 500 milhões de euros.
Natural de Viana do Castelo, Trincão, que fez quase toda a formação no SC Braga, tendo representado também o Vianense e o FC Porto, destacou-se esta época no clube minhoto, tendo já disputado 22 jogos e marcado três golos.
Trincão será o 10.º jogador português a representar o FC Barcelona, depois de Jorge Mendonça (na década de 60 do século passado), Figo, Simão Sabrosa, Vítor Baía, Fernando Couto, Deco, Ricardo Quaresma, André Gomes e Nélson Semedo.