Elisabete Pereira, Paulo Salvador Lopes e Miguel Oliveira, ex-alunos do curso de Licenciatura em Educação Básica da Escola Superior de Educação (ESE) do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC), cruzaram-se nos corredores da escola e nunca mais se largaram. Elisabete e Miguel casaram e Paulo mantém a relação de amizade com o casal de Braga. Juntos apresentam hoje, em Vila Verde, o livro infantil “A menina que não sabia contar”.
Como professora, Elisabete Pereira sempre gostou de livros infantis e desde que os filhos, com 10 e oito anos, nasceram o hábito de ler uma história infantil antes de dormir é uma prática diária. A dar aulas ao 1.º ciclo no Agrupamento de Escolas D. Maria II, em Braga, a professora decidiu agora tirar da gaveta o livro escrito há 10 anos e que “enche de orgulho” todos os envolvidos no projeto.
“Depois de ler tantas histórias, percebi que também podia escrever a minha história”, confidenciou Elisabete Pereira, que queria contar a história de uma menina diferente. “Sabia exatamente o que queria contar, qual a mensagem e quais as personagens”, confirmou a autora, revelando que Carolina, que tem a alcunha de Girafinha, não sabia contar e não conseguia se integrar nas brincadeiras dos outros meninos. Na história surgem duas personagens imaginárias para ajudar a menina a ultrapassar as dificuldades: o jacaré Barnabé e o monstro Rapiré. “A mensagem que quero transmitir com a história é chamar a atenção para as crianças que são colocadas de parte, alertando para a diferença. Os dois amigos ajudam Carolina a ultrapassar as dificuldades e aqui fazemos a transposição para a vida real, já que sozinhos não conseguimos fazer muita coisa e precisamos pedir ajuda”, contou a autora, admitindo que “A menina que não sabia contar” é o seu terceiro filho.
O revisor do livro foi o “querido professor” da ESE-IPVC Luís Mourão, que faleceu recentemente e foi homenageado no âmbito das comemorações do 41.º aniversário da ESE, no passado dia 9 de novembro. “Pedi-lhe para ler a história e foi acompanhando o processo. Fez a revisão desta história e de outras antes de falecer”, lembrou a autora. A ex-aluna garantiu que o professor Luís Mourão foi o “grande impulsionador” deste projeto. “Disse-me que o livro tinha todos os ingredientes para ser uma história de sucesso, porque tinha sentido de humor, conteúdo, passava uma mensagem e era de fácil leitura na perspetiva da criança”. O livro conta uma “história magnífica” e o professor da ESE-IPVC acabou ainda por ter sugerido tornar a obra mais interativa. A ex-aluna lamentou que o professor já não esteja entre nós, agradecendo tudo o que fez por este projeto.
O ilustrador da obra também foi aluno da ESE-IPVC. Paulo Salvador Lopes tirou o curso de Licenciatura em Educação Básica – variante Educação Visual e Tecnológica – e “fez um trabalho excecional”, aplaudiu a escritora, assegurando que o livro “está muito completo”.
Paulo Salvador Lopes entrou na licenciatura dois anos depois de Elisabete. “Ainda nos conhecemos na escola e mantemos a amizade desde então”, salientou.
“A menina que não sabia contar” é já o sétimo livro infantil que ilustra. “Tenho alguns anos de experiência e essa facilidade de fazer sem pensar muito. Ilustrar este livro foi algo simples e fácil para mim”, revelou o ex-aluno da ESE-IPVC, que é de Ovar.
O livro também é acompanhado por uma música, escrita por Elisabete, mas que foi composta por Miguel Oliveira, que também tirou o curso de Licenciatura em Ensino Básico na ESE-IPVC, variante Português-Inglês. A música cantada por Miguel Oliveira, marido da escritora, conta com a “participação especial” dos filhos do casal, André e Inês, que estão “orgulhosos” de fazer parte do projeto dos pais.
Mas “A menina que não sabia contar” é muito mais do que uma história infantil. O livro é acompanhado por um padlet com inúmeros recursos educativos, que pretende desenvolver a criatividade e imaginação infantil, sendo adaptado para alunos do pré-escolar, do 1.º e 2.º ciclos.
Para além de ser uma história infantil, a obra apresenta um QR Code no final, que dá acesso a um padlet para a exploração da obra, na perspetiva do adulto e professor, mas também das crianças. Guiões de leitura, música, karaoke sobre as personagens da história para trabalhar a expressão musical com os respetivos acordes, expressão plástica com desenhos para pintar e outros para completar de acordo com a criatividade das crianças, questionários no Kahoot e ainda uma parte de Cidadania, abordando a questão do bullying nas escolas, são algumas das ferramentas propostas no padlet.
Este “projeto familiar” como Miguel Oliveira o chama “foi sendo adiado, mas está muito bem pensado e trabalhado ao pormenor”.
O ex-aluno da ESE-IPVC sempre esteve ligado à música e enquanto estudante ainda participou em vários programas musicais na televisão, tendo ainda atuado na Receção ao Caloiro e Queima das Fitas no IPVC. Hoje, continua a criar músicas para as telenovelas e para as rádios.
A dar aulas no Agrupamento de Escolas de Maximinos, em Braga, o professor assegurou que a reação ao livro está a ser “surpreendente”, com a venda de mais de 150 exemplares antes da apresentação pública. “O livro acaba por envolver pais, filhos e professores e já temos confirmadas apresentações em várias escolas. Isto é algo que nos enche a alma”, confessou.
Sendo uma edição de autor, Miguel Oliveira admitiu os “receios” deste investimento. Mas o feedback está a “correr tão bem”, que o também professor acredita que estão “a prestar um serviço ao mundo” com este livro educativo.
Apesar de estarem a dar “um passinho de cada vez”, Elisabete tem ainda três livros na gaveta prontos para serem publicados.
A apresentação pública está marcada para hoje na Academia de Música de Vila Verde, tendo o Município de Vila Verde adquirido 250 exemplares do livro. A autora está já a estabelecer contactos com o objetivo de apresentar a obra em Braga e quem sabe em Viana do Castelo, já que Elisabete Pereira é natural de Barroselas.