O ex-futebolista Tarantini disse hoje que conciliar a carreira profissional com o percurso académico é “um longo caminho a percorrer”, apelando à ajuda dos clubes, na cimeira Thinking Football, no Porto.
Num painel denominado de “A Vida Depois do Futebol”, que contou também com Artur Moraes e Oceano, o antigo médio do Rio Ave, que se tornou, neste ano, o primeiro futebolista profissional em Portugal a concluir um doutoramento, afirmou que o seu trajeto se baseou num “enorme esforço pessoal” e acrescentou que os clubes, na sua maioria, se focam apenas nos resultados desportivos.
“Eu fiz o meu trajeto com um enorme esforço pessoal, mas não pode ser assim. Em Portugal, no ensino secundário há cerca de 800 miúdos a estudar e a competir ao mais alto nível, mas no ensino superior há um longo caminho a percorrer. De certa forma, nos próximos tempos haverá novidades, a autonomia das universidades vai implicar muita coisa. Temos os mecanismos certos, mas muitas vezes isto prende-se com os resultados dos clubes. Será que os clubes vão permitir que isso aconteça?”, questionou Tarantini, natural de Baião.
Numa reflexão acerca do ‘choque’ das mudanças após o final da carreira de futebolista, o ex-guarda-redes do Braga, Benfica e Desportivo das Aves Artur Moraes explicou que o jogador tem a “vida facilitada” e que a habituação à falta de apoio dos clubes pode ser difícil numa fase inicial.
“Durante a minha vida toda, faziam tudo para mim. Se o jogador de futebol vai jogar a Paris, dizem-te onde tens o avião, dão-te o bilhete, depois vão-te buscar no autocarro, carregam-te a mala e levam-te à porta do hotel. Chegas ao hotel, nem há necessidade de sair do autocarro e já tens o ‘check-in’ feito. Depois, vais para o quarto, deitas-te na cama e reclamas. Não é a vida real e hoje a coisa que me dá mais prazer é ir em viagem e fazer tudo”, confessou o antigo guarda-redes.
Numa conversa que incidiu sobre várias outras temáticas relacionadas com a vida após a carreira, como a literacia financeira e a necessidade de prevenir dores físicas futuras, Oceano, antigo capitão do Sporting e atualmente treinador, explicou que muitas vezes o jogador “fica preso à sua identidade enquanto futebolista”, o que pode dificultar no exercício de outras funções.
“Quando jogas muitos anos na mesma equipa… Ainda hoje me associam ao Sporting e aí torna-se mais difícil, porque os adeptos não te deixam despir a camisola. Quando tu és treinador, não podes ser o treinador do Sporting, pelo menos essa parte tem de ficar de lado. Eu ainda hoje recebo presentes em casa de quando ganhámos 7-1 ao Benfica [em 1986]. Torna-se complicado vestir a camisola, mas, ao tornares-te treinador, obrigatoriamente tens de a despir”, afirmou o técnico, de 60 anos.
A conferência Thinking Football decorreu entre sexta-feira e hoje, no Pavilhão Rosa Mota, no Porto, organizada pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP).