Silêncio! Em Guimarães também se canta o fado

São médicos dentistas, enólogos, reformados, cabeleireiros. Vêm de Braga, Viana, Fafe, Guimarães, Vila Verde, Vizela, à boleia de um amor: o fado. Reportagem de Pedro Antunes Pereira (texto) e Paulo Jorge Magalhães (fotos)
Fotos: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO

Informalmente existe há três anos mas no papel só desde maio. Sob a égide do fado, fazem a ponte entre várias gerações e várias realidades sócio-económicas. A Associação Guimarães Fado é composta por aficionados que se identificam com este estilo musical.  Em três meses de existência já têm 80 sócios vindos de vários pontos do Norte do país. São médicos dentistas, enólogos, reformados, pessoal a trabalhar na Cruz Vermelha, cabeleireiros, um espectro alargado. Silêncio, que se vai falar de fado.

Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO

Entre as relíquias pertença do Museu Alberto Sampaio, em Guimarães, vão-se afinando as cordas e as músicas. Há um espectáculo solidário e todos os pormenores têm que estar na perfeição. Entre fados mais conhecidos e outros mais tradicionais, entre ‘Lisboa e Coimbra’, os músicos ajustam tons e pormenores vocais.

Estamos em pleno centro histórico de Guimarães, num edifício pertencente à irmandade da Senhora da Guia, paredes meias com a muralha e a capela. É aqui que todos os finais de semana um grupo de aficionados do fado se junta para dar asas à sua paixão. Vêm de Braga, Viana do Castelo, Fafe, Guimarães, Vila Verde, Vizela para estarem juntos a cantar, a tocar e trocar conhecimentos sobre “ único estilo de música que define Portugal”.

Génese

Havia um grupo chamado ‘Fado 1111’ que sentiu necessidade de ter uma residência artística no centro histórico. Por diversos motivos, o grupo dissolveu-se.

Luís Campos. Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO

“Das pessoas que andavam à volta desse grupo, criou-se uma pequena comunidade que depois acabou na actual associação”, começa por dizer a O MINHO, o presidente da Associação, Luís Campos.

Neste momento, a ‘Guimarães Fado’ tem 80 sócios “com dois meses de existência. Não são necessariamente músicos ou cantores. Temos o sócio apenas, o sócio honorário e o sócio artístico. Há cantores, músicos, letristas”.

A dar os primeiros passos está um departamento de artes cénicas ligadas ao bailado, danças associadas ao fado.

Três grupos e uma escola

A Associação tem três grupos formais e uma escola de música. Luís Campos refere o ‘Fado 1111’ “dedica-se ao fado de Coimbra que não é só uma coisa dolente, tem temas mais alegres, mais populares”; o ‘Fado Filius’ “mais dedicado ao fado de Lisboa mas que pode incluir fado de Coimbra” e ‘Os Amantes do Fado’ que mais não é do que “uma réplica do que se faz ao sábado à tarde, nos ensaios, nas instalações da Associação, em que cada um vem e canta mas mais formal, mais engalanados”.

Na escola de música há aulas de guitarra de Coimbra, de guitarra de Lisboa e viola de fados e “brevemente, começaremos as aulas de canto”. Luís Campos refere ainda que “damos apoio a artistas individuais com músicos, ensaios, espaço físico para ensaiar”.

Fado de Coimbra vs Fado de Lisboa

Na Associação tanto o fado de Lisboa como o fado de Coimbra têm o seu espaço. “São dois géneros diferentes, cada um tem uma estética própria”, explica o presidente apresentando as diferenças entre os dois: “têm uma execução particular, a guitarra portuguesa de Lisboa nada tem a ver com a de Coimbra, tem uma escala própria, tem uma construção própria, está afinada num tom mais aguda, logo a construção interior realça isso; a de Coimbra é de rua, a guitarra tinha que ter mais volume, a técnica é mais vigorosa, tocada com uma unha natural.

De Lisboa, é de tabernas, num ambiente proibido, mais intimista. Em Coimbra é de serenatas, de estudantes”.

Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO

Na ‘Guimarães Fado’ há executantes e fadistas para os dois géneros. Mas os ensaios são em dias diferentes. Outra ideia a destacar é o interesse que “a malta nova começa a ter pelo fado o que leva a quererem aprender ou a aperfeiçoar-se”.

Novo fado? Não é fado!

Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO

O boom do turismo levou a um maior interesse por parte dos turistas na canção nacional mas as coisas podem não estar a ser bem feitas: “aquilo que trouxe a bossa nova trouxe ao fado é interessante”.

No entanto, “houve necessidade, por causa dessa procura, de tornar o fado mais comercial e adicionaram-se elementos para se ouvir na rádio, como a bateria, os sintetizadores. O fado tem uma estética e deixa de o ser mesmo tendo uma guitarra ou um fadista a cantar. Um turista está a ser enganado quando vê uma bateria, uns bongós no palco e acha que aquilo é fado”.

Concerto

O salão improvisado na freguesia de Polvoreira estava engalanado para receber um jantar solidário. Os ‘Amantes do Fado’ são os convidados especiais. As centenas de pessoas presentes, pequenotes incluídos, conversam alegremente sobre tudo e mais alguma coisa. Até que os primeiros acordes da guitarra transformam o espaço num silêncio sepulcral. Cantam-se fados mais tradicionais, outros mais populares.

Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO
Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO
Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO
Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO
Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO
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Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO
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Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO
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Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO
Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO
Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO
Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO
Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO
Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO
Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO
Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO

As pessoas resistem em ‘estragar’ o momento. São os fadistas que abrem as hostilidades pedindo palmas e coro. A adesão é imediata e a apótese acontece com todos no palco, com o público levantado e a fazer pedidos de mais fados.

Cá fora, em final de festa, são os mais pequenos, rapazes e raparigas, que cantam até á exaustão que “Tudo isto é fado”.

 
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