Em noite de Reis, o Teatro de Balugas revelou uma fotografia tirada há 100 anos de uma tradição teatral antiga realizada por um grupo de Balugães, em Barcelos. O grupo de teatro amador está a desenvolver um trabalho para recuperar o Auto a partir daquele que será um dos primeiros registos.
Trata-se do “Baile dos Reis”, como era popularmente conhecida, ou “Adoração dos Reis ao Menino Jesus” e era interpretada pela Tocata de Davides, grupo originário da freguesia de Balugães.
Esta manifestação popular, típica dos Reis até à quarta-feira de cinzas, teve palco especialmente no Norte do concelho de Barcelos e o vale do Neiva foi o ponto de partida.
De acordo com a companhia de teatro amador, a fotografia foi “tirada na década de 20 do século passado, na Festa do Menino, em Durrães”, freguesia do concelho de Barcelos, também no vale do rio Neiva.
Era originalmente a preto e branco, mas foi agora colorizada através de um programa digital.
“Em jeito de curiosidade, a atriz Laurentina Silva do Teatro de Balugas, com 86 anos é neta do fundador da Tocata dos Davides, o fabuloso João David [que está ao centro da fotografia]”, refere a companhia que trabalha para a recuperação deste Auto.
A peça de teatro foi escrita por Joaquim Pereira, há mais de um século. Levou o manuscrito “O Auto do Baile dos Reis” para a aldeia de Balugães e os papéis foram entregues a João David, responsável pela Tocata dos Davides.
De acordo com a investigação do Teatro de Balugas, Joaquim Pereira terá encontrado nesta trupe os atores para esse “majestoso auto”. Daqui “O Baile dos Reis” percorreu os vales, do Neiva ao Lima, e terras por esse Minho fora com a tocata de Balugães.
No entanto, esta representação popular sempre esteve enraizada no concelho de Barcelos, há registos muitos antigos na freguesia de Alheira, mas também em Lijó e outras freguesias do concelho, como registos recentes, no ano de 2019, em Alvito (São Martinho).
“Por cada localidade, estas representações assumem, porém, características próprias e por vezes bastante diferenciadas do ponto de vista musical e coreográfico. A música que servia a esta representação era a da contradança. Um exemplo interessantíssimo de contradança que ainda hoje pode ser observado na tradição popular portuguesa, é a Dança dos Pastores, do respetivo auto, representado nas festas sanjoaninas de Braga”, explica Cândido Sobreiro, diretor artístico do Teatro de Balugas, a O MINHO.
Esta imagem que foi revelava esta quinta-feira é mais uma prova de que a “a região do Minho, em especial, o território do vale do Neiva é terra antiga de teatro, de autos populares profanos e religiosos, de dramas bíblicos e históricos e de muitas comédias”.