O líder concelhio do PSD/Braga, João Granja, classifica como “irresponsável” a atitude da ex-vereadora da Educação e Cultura, Lídia Dias, de renunciar ao cargo na Câmara de Braga, a poucos dias da abertura do ano escolar. “Ninguém na comunidade escolar bracarense entende como é que alguém responsável pelas escolas abandona o cargo numa altura destas”, lamenta.
O dirigente partidário disse, ainda, que Lídia Dias devia ter continuado no cargo, mesmo que reassumisse funções de educadora de infância no Colégio D. Diogo, para acudir a qualquer problema que surgisse, dando, no mínimo, orientações para a sua resolução. Mas preferiu fazer “um número político e deixar o cargo a Francisco Mota, apenas para ver se cria engulhos à Coligação Juntos por Braga”.
O MINHO contactou Lídia Dias questionando-a sobre as críticas mas não obteve resposta.
Dispensada por Ricardo Rio e Altino Bessa
Conforme O MINHO noticiou, a vereadora da Educação e Cultura na Câmara de Braga, Lídia Dias, do CDS/PP, renunciou aos pelouros dando lugar ao também centrista Francisco Mota na vereação, no que resta de mandato autárquico, mas com efetividade a partir do dia 13, dia da última reunião do executivo no atual mandato.
Lídia Dias regressa ao Colégio D. Diogo de Sousa onde é educadora de infância e Francisco Mota será vereador sem pelouros, até à posse do novo executivo saído das eleições de dia 26.
A renúncia de Lídia Dias nada teria de significativo não fora o facto de ter sido dispensada do cargo pelo presidente da Câmara, Ricardo Rio, e pelo líder local dos centristas, Altino Bessa. Rio tem elogiado publicamente a sua ação, no incremento dos setores da cultura e educação, mas na Coligação Juntos por Braga (PSD/CDS, PPM e Aliança) ninguém esconde o desagrado com a sua atuação no atual mandato, nomeadamente por causa da “péssima relação” que mantinha com muitos autarcas de freguesia.
A ex-vereadora colocou, há dias, um post no Facebook, em que agradece aos que com ela colaboraram na função, e em que acusa “alguns pasquins” – que não nomeia – de terem mentido ao dizerem que foi dispensada e que tinha péssimas relações com autarcas.
Várias fontes políticas disseram a O MINHO que, de facto, foi Lídia Dias quem pediu para sair em setembro de 2020. Mas fê-lo ciente de que não seria incluída nas listas da Coligação para o próximo mandato, sendo certo que Ricardo Rio já lhe tinha manifestado o seu desagrado pela sua atuação à frente do pelouro da Educação, nomeadamente pela má relação que mantinha com quase todos os presidentes de Junta, quer os eleitos pela Coligação, quer os do PS (os socialistas, na Assembleia Municipal entravam em modo de pateada quando se falava do pelouro da Educação). E exigiu-lhe que mudasse de rumo sob pena de a demitir da função.
“Já quase ninguém falava com ela ou ia ao seu Gabinete. Era arrogante na relação connosco”, disse-nos um autarca, sublinhando que, em 2020, numa reunião num auditório da Agere a propósito de uma crise surgida em torno do pagamento das refeições escolares – em que as juntas estavam a perder dinheiro – foram vários os autarcas que “abandonaram a sala em protesto contra a vereadora que insistia em que o dinheiro chegava, quando era óbvio que assim não era”.
Na lista de Ricardo Silva
Lídia Dias, que vive maritalmente com o atual presidente da Junta de Freguesia de São Victor, Ricardo Silva, eleito em 2019 pela Coligação, mas que agora se candidata como independente, consta da sua lista entregue em Tribunal em 39.º lugar. E é sua mandatária para a “cultura popular”.
De acordo com o líder da Concelhia de Braga do PSD, João Granja, nas negociações mantidas para a sua continuação na Coligação, Ricardo Silva, invocou, entre outras, “razões de família”, para não concorrer pela Coligação, o que Granja interpretou como sendo razões ligadas à dispensa de Lídia Dias da vereação. João Granja assegura ainda que Ricardo Silva disse que a companheira tinha ficado “triste” com a saída. Ou seja, teria de “haver vingança”.
A participação de Lídia Dias na campanha do marido viola os estatutos do CDS/PP, partido de que foi dirigente nacional até há pouco tempo, pelo que após as eleições deve ser-lhe levantado um processo disciplinar que pode acabar na sua expulsão. A não ser que se demita.
Sobre estas questões, Lídia Dias também não respondeu.
Quis ser vereador à força
Já o ex-líder da Juventude Popular, Francisco Mota, aproveitou para fazer “um número político”, tratando logo de se apresentar como vereador numa reunião com os Bombeiros Voluntários de Braga, isto apesar de só o ser a partir do dia 13.
Em comunicado e intitulando-se “vereador”, Francisco Mota exige “o licenciamento imediato do novo quartel dos Bombeiros”
Há três semanas, e em comunicado, tinha anunciado que abandonava a vida política ativa, promessa que deixou cair, logo que a ex-vereadora lhe passou o título.
Por isso, apressou-se a dizer que “assume em nome do partido de sempre o lugar de vereador, com um olhar atento e fiscalizador da atividade do executivo municipal, mas com responsabilidade e nunca em oposição a Braga ou aos bracarenses.”
Francisco Mota – recorde-se – tentou integrar as listas da Coligação em lugar elegível, mas o seu nome foi igualmente vetado por Ricardo Rio e por Altino Bessa.
Há três meses, promoveu um abaixo-assinado de cidadãos de Braga, pedindo para que fosse candidato a vereador e levou-o ao líder nacional do CDS/PP, Francisco Rodrigues dos Santos, num ato que contou com a presença do presidente da Junta de Freguesia de São Victor, Ricardo Silva. Os órgãos nacionais do partido acabaram por não validar a pretensão, o que o fez com que Francisco Mota se demitisse do cargo de vogal que exercia na Direção Nacional.
Recentemente, foi visto a coordenar a colocação de cartazes de Ricardo Silva no Largo da Senhora-a-Branca, isto poucos dias depois de ter “abandonado a política ativa”.