Quem passa no troço da Estrada Nacional 210 que atravessa o lugar de Estremadouro, freguesia de Molares, em Celorico de Basto, durante o mês de dezembro, não fica indiferente a um presépio com milhares de peças situado à margem daquela via.
Construído por Carlos Mota e família, este presépio junta cerca de 2.500 peças, entre casas e figuras, com cerca de 20 quadros animados com recurso a motores.
Carpinteiro desde que se conhece, a trabalhar para a Câmara local, Carlos Mota começou a erguer o presépio há doze anos, depois do desafio do pároco local, António Gonçalves, para que todos os lugares daquela paróquia construíssem um presépio público.
“Todos os anos vou aumentando, seja em tamanho ou em número de peças. Também vou fazendo sempre algumas peças diferentes”, explica Carlos, acompanhado pela esposa, pela filha e pelo genro, à reportagem de O MINHO.
E se nos outros lugares da freguesia o presépio público não vingou, em Estremadouro a história é diferente. No passado dia 01, os quatro familiares, com ajuda de alguns amigos, começaram a construir esta ‘obra-prima’ situada entre o Marão e as serras de Fafe.
“Geralmente somos doze pessoas a construir, mas este ano fomos só seis por causa da pandemia”, confidencia Carlos. Este ano, tiveram de tapar a construção para que não fosse vista a partir da estrada, de forma a não atrair aglomerados.
“Se não tapássemos era logo tudo a parar e ia criar-se ajuntamento, por isso resolvemos tapar”, explica.
Carlos não sabe quanto dinheiro já investiu neste projeto e prefere não saber “para não desistir”, conta, sorridente.
“Todas as peças são compradas por mim, as casas sou eu que as faço, os motores e as luzes também são por minha conta, só aquela parede de luzes custou-me 200 euros”, confidencia.
Há, no entanto, um apoio importante para esta família. “O presidente da Câmara é fã, vem cá todos os anos e logo desde início disponibilizou-se para pagar a eletricidade”, conta o autor, que confessa ter dado continuidade ao presépio porque o anima: “Continuei porque vinha muita gente ver e isso dava-me ânimo, comecei a gostar”.
Silvina Gonçalves, esposa, acha bem o investimento e concorda com que se faça todos os anos. “Eu também ajudo a fazer, acho que fica muito bonito”.
Este ano, a família ponderou se deveria construir a empreitada, face aos riscos da covid-19, mas, tendo em conta que muita gente terá pedido para “dar um pouco de luz a um Natal” que se avizinha triste, a família decidiu avançar.
Outra característica curiosa que tipifica na perfeição o minifúndio da região do Minho é a posse do terreno onde se encontra o presépio. Apesar de muito reduzido, pertence a três proprietários diferentes.
“Este terreno é pequeno mas tem três donos: é de uma senhora de Amarante, do meu irmão e da minha mãe, e todas as três deixam-me fazer aqui o presépio”, sublinha.
Com milhares de visitantes durante os outros anos, em 2020 a família não espera bater recordes, mas sabe que há gente da terra, emigrantes e outras pessoas que vão por lá passar. “Até já cá tivemos gente de Coimbra que veio de propósito”, afirma.
Enquanto o presépio aguarda por visitantes até inícios de janeiro, para regressar à base, Carlos vai continuando a construção de casas e a compra de peças em feiras de antiguidades de Penafiel e Paredes, para que este presépio nunca deixe de ser diferente.
Em jeito final, a família apela aos visitantes que não se aglomerem e que esperem pela sua vez caso exista já alguém a ver a obra. “Vamos colocar aqui um cartaz a indicar isso para o caso de juntar aqui muita gente”.
No entanto, face às restrições de circulação depois das 13:00 ao fim de semana, é quase certo que este ano não haverá tantos visitantes.
Para chegar ao Presépio de Molares deve dirigir-se a Celorico de Basto e entrar na EN 210, em direção a Arco de Baúlhe (Cabeceiras de Basto). Ao fim de cinco quilómetros encontrará o presépio à sua esquerda. Não há como não notar.