“Leve, fresca e efervescente”. É assim apelidada a nova cerveja artesanal paroquial criada na paróquia de Rio Mau [Vila Verde], a partir da ideia do padre Sandro Vasconcelos e do cervejeiro amador Miguel Ângelo Vilas Boas. “E é assim que a igreja e a vida devem ser, como a cerveja”.
As palavras são do pároco que, necessitando de apoios financeiros para restaurar quatro altares da Igreja Paroquial de Rio Mau, resolveu criar 600 exemplares da “Cervigreja”, a primeira cerveja artesanal paroquial do país.
O MINHO esteve na paróquia de Rio Mau à conversa com Sandro Vasconcelos que se mostrou entusiasmado com as vendas: “Das 600 produzidas vendemos 425 durante o fim de semana da feira aqui em Ribeira do Neiva [união de freguesias a que pertence Rio Mau]”. E já há mais pedidos do que cervejas disponíveis para os próximos tempos.
Feita a partir de trigo, porque “não poderia ser de outra forma”, este licor dos deuses foi a forma que padre Sandro encontrou para reunir “esmolas” sem ter que “novamente”, andar a “bater de porta em porta”, até porque a igreja já está quase toda restaurada graças às esmolas dos paroquianos.
“Faltavam os quatro altares e tive de pensar numa forma em que todos saíssem a ganhar com o donativo. Assim, fica a igreja a ganhar, porque vê os altares restaurados, e em contrapartida, quem dá a esmola fica a ganhar por beber uma cerveja exclusiva”, salienta.
Sandro Vasconcelos sublinha ainda que “até os não-crentes ou quem não liga muito à igreja estão a ajudar, porque ficam curiosos em relação à cerveja”.
E o feedback não podia ser melhor. O projeto acabou de nascer, mas, salienta o pároco, “o eco que temos é que já querem que a criança ande”. “Nesta fase estamos em articulação com a Alfândega de Braga, por isso está tudo legal, mas sabemos que temos de dar outro passo para que se possa responder aos apelos que temos tido”.
A procura pela cerveja tem sido muito. Desde empresários que querem oferecer a cerveja aos clientes no Natal até cafés e restaurantes, inclusive no Porto, que querem ter esta cerveja à venda. “E não querem qualquer lucro, o dinheiro é todo para o restauro”, sublinha o padre.
Porquê “Cervigreja”?
“O nome? Um dia, à noite, na cama, a rezar e a debater esta questão, surgiu-me a ideia de o nome ser Cervigreja. Cervi que vem de cerveja, igreja da igreja paroquial, e Cervigreja é o ideal, porque também dá a ideia de que quem a bebe está a pôr-se ao serviço da igreja”.
Sandro Vasconcelos garante que ninguém ficará embriagado com uma destas cervejas. É uma cerveja leve, “porque é assim que a igreja deve ser: leve, fresca cheia de vida e efervescente. É assim que deve ser a nossa vida, a igreja e a nossa cerveja”. A “Cervigreja” tem 5% de teor alcoólico, “não é agressiva”, aponta.
Sobre eventuais polémicas de associação da igreja à cerveja, o pároco recorda que as primeiras cervejas que surgiram foram fabricadas em abadias.
O futuro da cerveja
Embora a ideia inicial se tenha ficado pelas 600 cervejas, a ideia é “produzir mais”. “Nesta fase, a cerveja está apenas à disposição das pessoas a nível local, e ainda neste mês vamos escoar o produto com uma banca que vamos colocar aqui em Rio Mau, sobretudo para os emigrantes”.
Padre Sandro garante que “todos os dias o telefone toca, as redes sociais não param, e todos querem provar a cerveja”.
“Nesta fase é tudo feito legalmente mas por carolice, quanto ao futuro, logo se verá. A intenção não é tirar o lugar a quem vive disto, até porque estamos num concelho onde a cerveja artesanal é forte, mas acho que há espaço para todos. E recordo: o único objetivo da comercialização desta cerveja passa pelas obras da igreja paroquial”.