Vão chegando lentamente. Cumprimentam e sentam-se na mesa rústica e recuperada. Pedem, quase todos, café com leite e um pão com manteiga. Um ou outro troca a manteiga pelo doce. Em cima da mesa, há uma banana que devoram no final. Se quiserem podem levar mais para o resto do dia. Há quem não se importe com as fotografias e outros insistem que não querem ser protagonistas. Preferem o silêncio a contar as suas histórias de vida. Lá fora está um frio de rachar e depois de tomado pequeno almoço vão à sua vida vivida na rua.
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João Ferreira e Fernanda Carvalho são os voluntários que tiraram uma hora e meia de uma manhã de sábado para servirem os ‘pequenos-almoços solidários’ ali junto à igreja dos Terceiros em Braga. Ela é auxiliar de acção educativa em Palmeira, ele é vidraceiro numa empresa em Maximinos. Desde Maio que são os rostos junto dos utilizadores.
Fernanda viu através do Facebook o pedido de voluntários. Manifestou a sua disponibilidade e passou a frequentar as reuniões promovidas pela Associação Hospitalários de São Lázaro. “É um bocado difícil mas estou a gostar imenso. São umas horas do dia e de nós que damos aos outros”. Estes outros são, sobretudo, sem-abrigo que andam pelas ruas mas “há pessoas a quem o ordenado não chega ao final do mês, a aparecerem por cá”.
João Ferreira estava inscrito no Banco Local de Voluntariado quando foi convidado a participar nas reuniões. “Fomos divididos por grupos mediante a nossa disponibilidade. Está a ser uma experiência muito boa porque eu gosto de conhecer pessoas e de me relacionar com elas”. Em média, aparecem 10 utilizadores por manhã, mas “há dias de picos, sobretudo, quando há festas na cidade”.
Os dois aparecem um pouco mais cedo para preparem o leite e o pão. Porque o número de utilizadores ainda não é, para já, muito grande conseguem revezar-se com mais duas voluntárias que fazem parte do grupo de sábado. No entanto, João apressa-se a dizer: “eu venho sempre porque quem faz por gosto não cansa nada”.
Pão de Lázaro
Pão de Lázaro foi o nome dado pela Associação Hospitalários de São Lázaro para os pequenos almoços solidários, “uma resposta social que não existia na cidade de Braga” e surgiu depois de um desafio do arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga.
Jorge Teixeira conta a O MINHO mais pormenores sobre esta resposta disponível 365 dias por ano entre as 08:00 e as 09:30, dirigida a sem abrigos, desempregados, e com rendimento social de inserção. “Há pessoas com um tecto mas sem dinheiro para comer porque vai todo para a renda”.
O passa a palavra começa a funcionar e têm sido cada vez mais aqueles que usufruem deste serviço. No entanto, “ainda há um longo caminho a percorrer. Há muitos que estão referenciados porque usam outras respostas sociais ao nível do almoço e do jantar que ainda não apareceram por cá”.
Uma explicação pode ser “a ida para os locais de estacionamento, muito cedo, à procura da moedinha” ou ao fim-de-semana “para as igrejas esperando o final logo da primeira missa”. Em horários anteriores à aberta da porta ‘solidária’. Por isso, dentro da Associação estudam-se já outras formas de se poder chegar a um número maior de utilizadores.
Empresas solidárias
Ao dispor dos utilizadores, há leite simples ou com cevada, cevada, pão com manteiga, compota e “há voluntários que trazem marmelada e bolos. As bananas e o leite são oferecidos todas as semanas por duas empresas. Gostaríamos de ter mais empresas associadas a esta iniciativa”, acrescenta Jorge Teixeira.
Os voluntários chegaram através do Banco Local de Voluntariado, através do passa a palavra ou das redes sociais. “Nós de voluntários não estamos muito mal, conseguimos criar equipas fixas para todos os dias da semana”.
A Associação Hospitalários de São Lázaro é uma instituição de cariz canónico (ligada à Diocese) que está em vias de se tornar Instituição Particular de Solidariedade Social. “Fomos desafiados pelo Sr. Arcebispo para criarmos os pequenos almoços solidários. Estudámos o problema com as entidades que já estavam no terreno a lidar com esta problemática, como a Câmara Municipal, a Cruz Vermelha e a Cáritas e decidimos avançar com esta resposta social”.
No futuro, poderá surgir uma resposta ao nível da terceira idade. Para os interessados, os pequenos almoços solidários servem-se numa sala junto à Igreja dos Terceiros, num edifício totalmente recuperado pela Associação.