O pároco de Priscos apelou este domingo à Polícia Judiciária para ter a mesma celeridade para as crianças desaparecidas, como aconteceu com João Rendeiro.
João Torres, falando à margem da inauguração do Presépio Vivo de Priscos, este domingo, em Braga, parabenizou a Polícia Judiciária por ter detido João Rendeiro, na África do Sul, mas disse “também ser preciso que a PJ tenha meios e recursos humanos para ajudar estas famílias a encontrar as suas crianças desaparecidas”.
Segundo o também responsável pela Pastoral Penitenciária de Braga, “devíamos refletir se os mesmos meios para apanhar este foragido à justiça, ao fim de três meses, se foram os mesmos há 23 anos para procurar o Rui Pedro, porque eu não vejo as autoridades nacionais a terem o mesmo empenho a procurar estas crianças desaparecidas do que têm em outras circunstâncias”.
“Num Estado de Direito como o nosso é quase um crime não olhar para as necessidades destas famílias”, lamentou o padre João Torres, acerca do elevado número de crianças desaparecidas em Portugal, o tema do Presépio de Priscos deste ano de 2021, que trouxe os pais do caso mais mediático, o de Rui Pedro, Filomena Teixeira e Manuel Mendonça, de Lousada, distrito do Porto.
“O objetivo desta iniciativa é encorajar a população e a comunicação social a refletir sobre todas as crianças que foram dadas como desaparecidas e espalhar uma mensagem de esperança e solidariedade no plano internacional para os pais e restantes famílias que vivem esta problemática”, apresentou a organização do presépio, em comunicado, antes da inauguração.
O tema deste ano pretende ainda “levar as autoridades a refletir na prevenção e nas estratégias a implementar, em colaboração com as entidades responsáveis pela Educação, pela Justiça e pela Segurança”.
“E nós, enquanto cidadãos, quando estas coisas acontecem, também temos que fazer por estas famílias alguma coisa”, salientou o padre, depois de criticar “a falta de apoio do Estado para com estas pessoas que têm crianças desaparecidas. “Onde está o auxílio psicológico, o jurídico e não só, para com eles”, questionou.
Manuel Mendonça, pai de Rui Pedro Mendonça, confirmou que nunca houve “qualquer ajuda por parte do Estado” e acrescentou que “a PJ findo um mês encerrou o processo do nosso filho”. Agradeceu ainda “todo o apoio inestimável do advogado Ricardo Sá Fernandes”.
“Somos um país de comilões”
Falando acerca de ainda não terem financiado o presépio, embora já tenha vencido o Orçamento Participativo em 2018, o padre João Torres considerou que “somos um país de comilões”. “E também a nossa Igreja em Portugal tem que deixar de ser de uma vez por todas um pau mandado da política nacional, a Igreja tem que ter uma voz mais ativa”, acrescentou.
O pároco diz que a “situação” não anda para a frente “porque são muitos políticos e porque são muitos a comer e todos têm que dar explicações uns aos outros. Aquilo é uma máquina burocrática, em que uns dizem que sim, só que depois outros já dizem que não”.
Sobre a adesão à Igreja por parte de fiéis, o pároco de Priscos lamentou que “muitas pessoas só venham à Igreja nos funerais”, pois desse modo “seremos uma Igreja de mortos, mas teremos de ser sim uma Igreja de vivos”, preconizando a inversão da situação, porque “uma Igreja que vive de mortos, não tem futuro”.
Presépio aberto até dia 09 de janeiro
Com a sua primeira edição em 2006, o presépio ao vivo de Priscos tem como palco um espaço de 30 mil metros quadrados, contando com mais de 90 cenários e 600 figurantes.
Mostra labores e costumes do quotidiano hebraico e romano.
As construções são feitas pelos paroquianos da aldeia de Priscos, com a ajuda de reclusos do Estabelecimento Prisional de Braga.
Em dezembro, pode ser visitado nos dias 19 e 26, e em janeiro nos dias 02, 08 e 09.